Privacidade é uma daquelas coisas que a gente só dá valor quando perde. Especialmente quando nossas informações são usadas contra nós mesmos, não é?!
Entretanto, a privacidade não se limita a contextos extremos ou ditaduras!
É provável que seu CPF, telefone e endereço já tenham sido expostos devido à negligência de um banco ou empresa em proteger adequadamente os dados dos clientes, colocando você em uma situação de risco, já que terceiros podem se aproveitar dessas informações.
É por isso que a privacidade desempenha um papel fundamental como uma medida de prevenção e segurança, especialmente no Bitcoin. No entanto, o que poucos sabem é que é possível usar a rede Bitcoin tanto de maneira pública quanto privada, e isso depende de como você a utiliza.
Dito isso, neste artigo, vamos discutir uma das principais ferramentas de privacidade associadas ao Bitcoin: o Coinjoin.
Bitcoin é rastreável?
Muitos acreditam que o Bitcoin é anônimo, com transações secretas e indetectáveis. No entanto, a realidade é diferente: o Bitcoin é totalmente transparente, o que significa que qualquer pessoa pode verificar as transações, endereços e valores envolvidos em tempo real na rede.
Quando você saca bitcoin de uma exchange que possui seus dados (KYC – Know Your Customer), essa exchange e os reguladores (órgãos governamentais) conseguem mapear e rastrear todos os movimentos dessa transação. É como se todas as notas que você sacou de um caixa eletrônico tivessem seu nome e o número da sua conta impressos nelas.
A transparência do Bitcoin é um benefício, não um problema.
A transparência traz confiança no sistema, dando previsibilidade tanto no funcionamento para pagamentos quanto nas políticas monetárias. Essa clareza permite que o Bitcoin opere como um novo tipo de dinheiro, independente de intermediários, bancos ou governos.
No entanto, a privacidade é algo que cada usuário deve garantir por conta própria. Isso exige cuidados e uso de ferramentas e estratégias para minimizar a exposição durante transações.
Portanto, uma dessas estratégias é o CoinJoin, uma técnica de mistura de Bitcoin.
Vamos entender mais sobre o que é, de fato, o CoinJoin?!
O que é CoinJoin?
CoinJoin é um método de compra de Bitcoin que melhora a privacidade ao combinar e embaralhar inputs de vários usuários em uma única transação. Na blockchain, os endereços de entrada e saída se tornam indistinguíveis, dificultando o rastreamento.
Assim, o CoinJoin mescla várias transações de bitcoin com o objetivo de ofuscar a origem e destino dos fundos. É uma maneira de combinar múltiplas transações de diferentes remetentes em uma única transação, tornando difícil determinar quem enviou Bitcoin para quem.
Quem criou o CoinJoin?
O CoinJoin foi cirado em 2013 por Gregory Maxwell, um desenvolvedor e contribuidor do Bitcoin. Ele propôs essa técnica como uma forma de melhorar a privacidade nas transações de Bitcoin sem a necessidade de alterar o protocolo base do Bitcoin.

Desde a proposta de Maxwell, várias implementações e serviços baseados no conceito de CoinJoin surgiram, incluindo:
- Wasabi Wallet,
- Samourai Wallet
- e JoinMarket
Todos eles focados em fornecer ferramentas de privacidade para bitcoiners.
Quais os principais motivos para usar o CoinJoin?
O motivo principal, como já comentamos, é a privacidade. Além disso, ele também pode ser usado como ferramenta de resistência à censura, em lugares onde as transações de Bitcoin são monitoradas ou censuradas.
O CoinJoin também é utilizado para tornar mais difícil a análise por parte de empresas de vigilância, como a Chainalysis, que rastreiam transações em blockchain para identificar o proprietário da carteira, endereço ou bitcoins.
Como funciona o CoinJoin?
Diferente de uma transação convencional, o CoinJoin não segue o modelo de uma única parte enviando fundos a outra parte. Em vez disso, ele é uma transação que envolve várias pessoas enviando valores iguais, em que o resultado final obscurece o destino para onde todas as transações foram.
Isso é possível porque os tamanhos de entradas (inputs) e saídas (outputs) são todos iguais, não dando para diferenciar para onde cada satoshi foi.
A imagem abaixo é um exemplo de como o CoinJoin funciona.

Na coluna da esquerda, existem 5 entradas (inputs), ou seja, valores que essas pessoas querem usar pra fazer um CoinJoin.
No meio, há uma visualização de todas as possíveis combinações, cerca de 1496 combinações possíveis. Assim, não dá para ter certeza para qual endereço cada valor foi.
Na coluna à direita, aparecem as saídas finais (outputs) com o resultado, cada uma com a mesma quantidade de BTC.
Viu só?! Desta forma, fica muito mais difícil identificar de quem é cada transação, mesmo quando o endereço de origem é associado a um KYC (Know Your Customer).
No entanto, ainda é possível rastrear quem realizou cada movimentação. À medida que esses bitcoins são gastos e, se os endereços que receberam satoshis a partir do CoinJoin se ligarem a outros endereços identificáveis, o efeito de ofuscação do CoinJoin pode ser comprometido por meio de dedução.
Uma maneira de mitigar isso é realizando múltiplos CoinJoins ou participando de CoinJoins com um grande número de participantes.
Num primeiro momento, para quem está começando a se familiarizar com Bitcoin, todo esse processo pode parecer complicado, mas é algo que aumenta muito a privacidade do usuário, especialmente em tempos de moedas CBDC e ferramentas de vigilância em massa sendo criadas mundo afora.
Onde fazer CoinJoin?
Um dos serviços mais conhecidos para realizar CoinJoin era o Whirlpool, da carteira Samourai. Entretanto, com a prisão dos fundadores, o site e a carteira foram retirados do ar. Portanto, no momento, não é possível utilizá-los para realizar CoinJoin.
Entretanto, ainda há esperanças, como Donald Trump perdoou Ross Ulbricht, há um movimento para que ele também conceda perdão aos criadores da Samourai, permitindo que a carteira volte a funcionar.
Será?
Também é possível fazer CoinJoin na carteira Wasabi e Joinmarket, onde cada uma delas possui diferentes taxas e mecanismos de segurança para fazer essa mistura das moedas.
Quando ainda estava em atividade, o Whirlpool, da Samourai, divulgou que tinha aproximadamente 250 milhões de dólares em liquidez, e esse valor continuava a crescer. Isso indica um interesse crescente em transferir valor com privacidade.

Wasabi
Desde 1º de junho de 2024, a Wasabi não tem mais um coordinator para transações CoinJoin.
Antes, o Wasabi Wallet utilizava um coordinator padrão (gerenciado pela própria empresa), o que tornava mais fácil para os usuários participarem de CoinJoins. Agora, sem um coordinator padrão, os usuários precisam escolher ou configurar manualmente um para participar dessas transações.
Joinmarket
Joinmarket é considerado um dos mecanismos mais descentralizados e não depende tanto de entidades centralizadas como a Wasabi. No entanto, é um CoinJoin que exige um maior nível de habilidade técnica. Isso ressalta a ideia de que quanto maior o grau de privacidade e segurança, menos conveniente é, e é necessário um entendimento mais profundo do que está realmente sendo feito.
Carteira Sparrow e fake CoinJoin
A carteira Sparrow permite que você faça um fake CoinJoin.
Mas, o que é isso?
O fake CoinJoin é uma técnica para melhorar a privacidade das suas transações sem a necessidade de colaboração com outra pessoa. Ele cria uma transação que parece um CoinJoin de múltiplos participantes, mas na verdade é feita apenas por você.
Como funciona?
- A Sparrow gera uma transação com dois conjuntos de inputs, como se fossem de duas pessoas diferentes.
- Cria dois outputs com o mesmo valor: um vai para o destinatário real e o outro para um endereço de troco na sua própria carteira (servindo como “isca”).
- O troco é dividido entre os “dois participantes” fictícios, reforçando a ilusão de uma transação conjunta.
O que você precisa para fazer o fake CoinJoin na Sparrow?
- Ter saldo maior que o dobro do valor que deseja enviar, pois a transação precisa simular múltiplos participantes.
- O endereço de destino precisa ser do mesmo tipo da sua carteira para manter a aparência de um CoinJoin real.

Quais os riscos associados ao CoinJoin?
Qualquer pessoa pode usar essa ferramenta através dos serviços mencionados acima. Porém, o CoinJoin não está insento de riscos.
Veja abaixo quais são eles:
- Riscos de Confiança: Algumas implementações do CoinJoin são centralizadas, o que significa que os usuários precisam confiar no serviço para evitar o roubo ou perda de seus fundos durante o processo de mistura das moedas.
- Riscos Legais: Em algumas jurisdições, o uso de técnicas de mistura ou privacidade como CoinJoin pode ser interpretado como uma tentativa de ocultar atividades financeiras, o que pode levar a complicações legais. Assim, isso pode ser visto como uma forma de lavagem de dinheiro, mesmo que a intenção do usuário seja apenas proteger sua privacidade. Recentemente, a Europa sinalizou o interesse em proibir esse tipo de prática.
- Riscos de Privacidade: Se o CoinJoin não for feito corretamente ou com um número suficiente de participantes, a privacidade pode ser comprometida. Além disso, se os participantes reutilizarem endereços ou combinações de montantes, eles podem inadvertidamente reduzir a eficácia da mistura.
- Riscos de Sybil: Um ataque Sybil ocorre quando uma entidade mal-intencionada controla uma grande quantidade de nós em uma rede, tentando revelar a identidade dos usuários ou comprometer a operação. No CoinJoin, se um adversário controlar uma grande parte dos fundos ou transações participantes, ele pode comprometer a privacidade daqueles que estão usando o serviço.
- Risco de Marcação: As moedas usadas para fazer CoinJoin podem ser sinalizadas. Isso significa que no futuro, governos podem forçar serviços centralizados, como exchanges, a não aceitar Bitcoins que tenham passado por um processo de CoinJoin. Entretanto, vale lembrar que na rede Bitcoin, não existe essa diferenciação e, portanto, é possível trocar livremente com outro endereço bitcoin em uma transação P2P normal.
Conclusão
Em resumo, embora o CoinJoin possa proporcionar benefícios significativos em termos de privacidade, é crucial que os usuários estejam cientes dos riscos associados e utilizem a ferramenta com cautela.
O CoinJoin não é uma bala de prata infalível. É um recurso que está em constante melhoria e, com o tempo, deve se tornar mais fácil de usar.
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Até mais e opt out!
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Fundadora da Area Bitcoin, um dos maiores projetos de educação de Bitcoin do mundo, publicitária, apaixonada por tecnologia e mão na massa full time. Já participou das principais conferências de Bitcoin como Adopting, Satsconf, Surfin Bitcoin e Bitcoin Conference.

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