Nós já falamos por aqui sobre a história de alguns dos principais nomes da comunidade bitcoiner, como Hal Finney e Nick Szabo. Hoje, porém, é o dia de Adam Back!

Junto com os outros nomes citados, ele também é um dos principais suspeitos de ser o Satoshi Nakamoto…Será?

Como criptógrafo e cypherpunk, seus estudos e descobertas contribuíram bastante para o Bitcoin ser o que é hoje. Uma de suas criações, inclusive, foi fundamental para a aplicação do processo de mineração no Bitcoin.

Atualmente, ele continua fazendo um trabalho muito importante no ecossistema Bitcoin com a empresa Blockstream, que oferece serviços especializados relacionados ao Bitcoin e é a empresa responsável pela criação da Liquid Network, entre outras várias aplicações. 

Portanto, neste artigo vamos entender melhor sobre quem é Adam Back e qual sua relevância para o Bitcoin.

Será que ele é Satoshi?!

A história de Adam Back

Adam Back nasceu em julho de 1970 e é um criptógrafo, cypherpunk e CEO da blockstream, empresa que ajudou a fundar em 2014.

É também o criador do hashcash, que hoje é utilizado no sistema de Prova de Trabalho (PoW) na mineração de Bitcoin.

Imagem de Adam Back

Adam Back adquiriu conhecimentos básicos de computação de forma autodidata e dedicava seu tempo à engenharia reversa de videogames, à descoberta de chaves descriptografadas em pacotes de software, entre outras atividades.

Além disso, possui um doutorado em sistemas distribuídos e é um dos pioneiros em pesquisas sobre ativos digitais, juntamente com Hal Finney, Wei Dai, David Chaum e outros criptógrafos.

Adam foi uma das primeiras pessoas a trocar e-mails com Satoshi Nakamoto e, recentemente, revelou e-mails inéditos entre eles sobre o Bitcoin.

Por fim, ele também é um grande promotor do uso de satélites e redes mesh para enviar e receber transações de Bitcoin sem a necessidade da internet.

O que é Hashcash e qual sua importância para o Bitcoin?

O hashcash é um sistema de prova de trabalho (PoW) criado por Adam Back em 1997, oficialmente denominado “esquema de postagem baseado em colisão parcial de hash”. Esse mecanismo é mencionado no white paper do Bitcoin e utilizado na mineração do mesmo.

“A ideia de usar hashes parciais é que eles podem ser arbitrariamente caros para serem computados […] e ainda assim podem ser verificados instantaneamente”, escreveu Adam Back ao explicar sobre seu projeto.

O que é PoW?

PoW, ou prova de trabalho, é um algoritmo matemático que exige esforço computacional e consumo de energia para realizar uma tarefa específica. No caso da criação de Adam Back, o mecanismo tinha como objetivo prevenir problemas de spam em e-mails.

Assim, ao utilizar o hashcash, os usuários precisam resolver um quebra-cabeça computacional que gera um identificador único para cada e-mail (o hash).

Basicamente, cada e-mail recebe um “carimbo” que confirma o esforço do remetente, indicando que ele é quem diz ser – ou seja, não é um e-mail spam.

Usuários regulares de e-mail não enfrentariam dificuldade para realizar essa prova de trabalho. No entanto, remetentes de spam, que frequentemente enviam centenas de e-mails de uma só vez e de maneira muito rápida, enfrentariam uma carga computacional significativa, pois necessitariam de mais tempo para gerar um carimbo hashcash para cada mensagem.

Assim, o destinatário pode facilmente identificar quais e-mails possuem o carimbo, ou seja, têm prova de trabalho, e filtrar os e-mails válidos dos spams.

Satoshi Nakamoto adotou essa mesma lógica para o Bitcoin, utilizando a prova de trabalho (PoW) na mineração para evitar o problema de gasto duplo de bitcoins.

Vale destacar que o hashcash é a sexta referência citada no white paper do Bitcoin.

Citação do Hashcash, criado por Adam Back, no whitepaper do Bitcoin

A Blockstream

Em 2014, Adam Back co-fundou a Blockstream junto com Erik Svenson, Peter Wuille, entre outros, tornando-se CEO em 2016.

A empresa se concentra em fornecer tecnologia voltada ao Bitcoin, desenvolvendo diversos produtos que visam aumentar e melhorar a escalabilidade, segurança e funcionalidade da rede Bitcoin.

Um dos principais produtos da Blockstream é a Liquid Network, uma sidechain federada que possibilita a emissão de tokens e outros ativos baseados em Bitcoin, criando assim um ecossistema financeiro aberto inteiramente projetado em torno do Bitcoin.

Colocation de mineração

Além disso, a Blockstream possui um serviço de colocation de mineração, onde fornece infraestrutura empresarial para instituições e investidores. Assim, é possível hospedar sua mina de Bitcoin (operação de mineração de Bitcoin) nas instalações da Blockstream, beneficiando-se de relatórios e manutenção especializados.

A empresa também disponibiliza unidades modulares de energia, que podem ser instaladas em qualquer lugar do mundo para aumentar ainda mais a eficiência da mineração.

Serviço de satélite

Outro produto de extrema importância da Blockstream é seu serviço de satélite.

A Blockstream Satellite é uma rede que transmite a blockchain do Bitcoin 24 horas por dia, 7 dias por semana. Isso torna possível que qualquer pessoa do mundo use bitcoin, mesmo sem acesso à Internet. 

Super interessante, né?!

Hardware Wallet

Por fim, assim como a Ledger e a Trezor, A Blockstream também possui sua própria carteira de hardware, a Jade, que é de código aberto e compatível tanto com a rede Bitcoin quanto com a rede Liquid.

Troca de e-mails com Satoshi Nakamoto

Adam Back participava da mesma lista de e-mail de cypherpunks que discutiam sobre criptografia onde Satoshi Nakamoto estava, foi uma das primeiras pessoas a trocar mensagens com o criador do Bitcoin e, recentemente, novos e-mails vieram à tona.

Em 2020 ele deu uma entrevista para a Cointelegraph Brasil, onde contou que em julho ou agosto de 2008, recebeu um e-mail de Satoshi Nakamoto com o white paper de “e-cash” (o projeto ainda não se chamava Bitcoin). 

A partir disso, Adam Back sugeriu que Satoshi pesquisasse sobre o B-Money, algo que ele parecia ainda não conhecer. Além disso, Adam também enviou um artigo Ron Rivest, de 1996, sobre um conceito chamado Micromint.

Abaixo está o primeiro e-mail ao qual temos acesso de Adam Back conversando com Satoshi Nakamoto, 4 meses antes do lançamento oficial do Bitcoin:

Primeiro e-mail, no qual temos acesso, entre Adam Back e Satoshi Nakamoto, há 4 meses antes do lançamento do Bitcoin

Agora, veja o e-mail onde Adam sugere que Satoshi pesquise mais sobre o B-Money:

E-mail entre Adam e Satoshi, no qual Adam sugere que Satoshi pesquise sobre o B-Money, de Wei Dai

Neste e-mail abaixo, Satoshi agradece a Adam pela sugestão e admite que nunca tinha lido sobre o B-Money:

E-mail de Satoshi, no qual diz não estar ciente do B-Money

Em resposta ao e-mail de Satoshi, Adam Back reconhece que ainda não havia lido o white paper do Bitcoin, mas sugere que Satoshi procure outro artigo, sobre o Micromint (tema pouco conhecido):

Adam Back sugere que Satoshi leia um artigo sobre Micromint

Por fim, Satoshi agradece a Adam por todas as suas sugestões e comenta sobre o lançamento oficial do Bitcoin. Após isso, segundo declarações públicas de Adam Back, ele não se dedicou mais ao Bitcoin até 2012.

Agradecimento de Satoshi para Adam Back

Adam Back é Satoshi Nakamoto?

A identidade de Satoshi Nakamoto é um dos maiores mistérios do mundo da tecnologia e das finanças.

Adam Back é frequentemente mencionado nas especulações sobre a identidade de Satoshi Nakamoto, muito devido ao seu histórico e influência no universo bitcoiner.

No entanto, Adam nega repetidamente ser Satoshi, e, além disso, não existe nenhuma evidência que comprove que Adam seja, de fato, Satoshi Nakamoto.

Processo com Craig Steven Wright

Como vimos acima, um dos grandes dilemas da comunidade Bitcoin é saber quem foi ou é Satoshi Nakamoto. Assim, algumas pessoas, inclusive, sugerem ser o próprio Adam Back, mas como vimos, ele nega isso. 

Entretanto, há pessoas que se autodeclaram como sendo Satoshi Nakamoto e buscam reconhecimento por isso (querendo levar créditos).

Um exemplo é Craig Steven Wright, que chegou até a processar Adam Back porque Adam disse que Craig não era Satoshi.

Assim, Craig processou Adam por difamação, exigindo uma indenização de US$ 125 mil dólares. Contudo, acabou desistindo do processo e pagou US$ 8.400 em honorários legais a Adam Back.

Curiosamente, os e-mails inéditos (acima) entre Adam Back e Satoshi Nakamoto vieram à tona durante o julgamento que envolveu o empresário Craig Wright e a Cryptocurrency Open Patent Alliance (COPA) em fevereiro de 2024.

Outros projetos importantes de Adam Back

Além do hashcash e os desenvolvimentos na Blockstream, Adam Back também é responsável por uma série de projetos muito importantes para a computação, segurança e criptografia. 

Eternity – USENET: rede de publicações resistente à censura

Essa rede permitia a publicação de informações resistente à censura, usando o PGP para garantir o processo. Assim, operando em uma infraestrutura distribuída, a rede era projetada para ser resistente à censura por governos ou entidades mal-intencionadas.

Melhoria no sistema de assinaturas PGP

Logo após o desenvolvimento do hashcash, em 1998, Adam, juntamente com Ian Brown, apresentou o trabalho “Assinaturas intransferíveis usando PGP“, nele, explicou como um sistema seria capaz de executar assinaturas intransferíveis usando o PGP.

Mais um avanço que buscava aumentar a segurança e a privacidade das comunicações digitais.

Correio freedom 2.0

O Correio freedom2.0 foi um projeto elaborado em 2000, no qual visava o desenvolvimento de um novo sistema de e-mail com foco na privacidade.

Este projeto procurava oferecer uma alternativa segura e privada aos sistemas de-email convencionais, protegendo a confidencialidade das comunicações entre os usuários.

Credilib

Criado em 2001, o Credilib buscava ser uma biblioteca para o gerenciamento de credenciais, com o principal objetivo de aprimorar as infraestruturas de chave pública (PKI).

Adam Back desenvolveu esta biblioteca para fortalecer os métodos de autenticação de credenciais, contribuindo para um ambiente digital mais seguro.

Cebolla

Precursor do navegador Tor, o Cebolla de Adam Back propunha um sistema de túneis para conexões anônimas.

Assim, seu objetivo era tornar anônimos os endereços IP dos usuários, enquanto eles navegavam na Internet. Tudo isso feito em um sistema menos complexo e mais seguro que as tradicionais VPNs.

Cypherspace

Além de tudo isso, Adam Back também criou o site cypherspace.org. Este que se tornou referência para a comunidade criptográfica e hospedou diversos projetos voltados a privacidade e anonimato, como B-money e Digicash.

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Conclusão 

Como você deve ter notado neste artigo, é super importante entender quem é Adam Back e reconhecer sua significativa influência no desenvolvimento do Bitcoin.

Talvez, sem sua contribuição, não teríamos hoje um processo de mineração tão eficiente no Bitcoin. Afinal, considerando que a rede opera ininterruptamente, todos os dias da semana, e consegue prevenir o gasto duplo, devemos muitos agradecimentos às descobertas de Adam.

Além disso, por meio da Blockstream, ele está desenvolvendo um ecossistema completo de infraestrutura baseado em Bitcoin, eliminando a necessidade de recorrermos a qualquer tipo de serviço financeiro do mundo fiat.

Legal demais, né?

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Até a próxima e opt out!

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Escrito por
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Kaká Furlan

Fundadora da Area Bitcoin, um dos maiores projetos de educação de Bitcoin do mundo, publicitária, apaixonada por tecnologia e mão na massa full time. Já participou das principais conferências de Bitcoin como Adopting, Satsconf, Surfin Bitcoin e Bitcoin Conference.

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