Harold Thomas Finney, mais conhecido como Hal Finney, foi um engenheiro de software defensor da criptografia e da privacidade digital, além de ter sido um dos primeiros entusiastas do Bitcoin. Isso faz com que hoje ele seja admirado pela comunidade, e, claro, existem vários rumores de que ele pode ser o próprio Satoshi Nakamoto.

Esses rumores surgem porque ele trocou mensagens com Satoshi Nakamoto, foi a primeira pessoa a receber uma transação de bitcoin do próprio Satoshi, além de ter sido o primeiro a executar o software do Bitcoin e ter contribuído significativamente para o seu desenvolvimento.

Hal finney é uma figura importante para os bitcoiners, então nada mais justo do que entender quem foi ele e qual é a sua história, não é mesmo?

E é isso que vamos te contar neste artigo!

Hal Finney antes do Bitcoin

Hal Finney foi um desenvolvedor de software que dedicou a maior parte de sua carreira ao desenvolvimento do PGP, em colaboração com Phil Zimmermann, o criador do PGP e da PGP Corporation.

O que é PGP?

PGP significa “Pretty Good Privacy” (Privacidade Bastante Boa, em português) e é um software de criptografia utilizado para garantir a privacidade e autenticidade de dados em comunicações digitais.

Ele é uma implementação de criptografia de chave pública, onde cada usuário possui um par de chaves: uma chave pública, que pode ser compartilhada com outras pessoas, e uma chave privada, que deve ser mantida em segredo.

É importante ressaltar que o PGP foi uma das primeiras implementações de criptografia de chave pública disponibilizada gratuitamente para uso geral.

O PGP permite hoje que as pessoas assinem mensagens de maneira criptografada e possam enviar e receber mensagens com mais privacidade.

Hal Finney

Movimento Cypherpunk

Antes do surgimento do Bitcoin, Hal Finney desempenhou um papel fundamental no movimento cypherpunk. Esse movimento tinha como foco a privacidade de dados e informações no meio digital, utilizando a criptografia como principal mecanismo de segurança digital.

Dentro desse escopo de privacidade de dados, os cypherpunks também acharam necessário a criação de um dinheiro digital, fora das amarras do estado e que fosse altamente seguro para envio entre duas partes.

Foi aí que surgiram diversas ideias e projetos relacionados a um dinheiro digital que utilizava a criptografia como mecanismo de segurança.

Hal Finney, com sua experiência e visão, desempenhou um papel crucial nesse movimento e continuou sua trajetória como pioneiro ao se envolver profundamente com o Bitcoin desde suas fases iniciais.

RPOW – Provas de Trabalho Reutilizáveis

Uma das propostas dos cypherpunks para a criação de um sistema de dinheiro digital foi o Bit Gold, desenvolvido por Nick Szabo.

Logo após a proposta do Bit Gold, Hal Finney criou, em 2004, sua proposta de provas de trabalho reutilizáveis (RPOW – Reusable Proof of Work), baseada na ideia de Nick Szabo.

A proposta de Hal Finney abordou o problema conhecido como Gasto Duplo.

Em um ambiente digital, no qual o dinheiro é representado por informações digitais, há o risco de que uma mesma unidade monetária seja copiada, assim como ocorre na duplicação de uma foto no computador utilizando o atalho CTRL-C + CTRL-V, resultando em duas cópias idênticas.

Dado que a cópia de dinheiro digital comprometeria seu valor, o RPOW foi desenvolvido como uma solução eficaz para evitar o Gasto Duplo. Essa abordagem inovadora de Hal Finney contribuiu para estabelecer a confiança e a integridade em transações de dinheiro digital.

Vale ressaltar que, mesmo antes de apresentar o RPOW em 2004, Hal Finney já havia publicado estudos sobre o Gasto Duplo em 1993, destacando sua antecipação às questões fundamentais do dinheiro digital.

Portanto, até a ascensão do Bitcoin, Hal Finney já havia deixado sua marca por meio de diversas publicações e contribuições significativas para o cenário criptográfico e de moedas digitais.

Hal Finney e o Bitcoin

Em um relato pessoal publicado no fórum BitcoinTalk, Hal Finney descreve como foi um dos primeiros entusiastas a adotar prontamente a ideia apresentada por Satoshi Nakamoto quando o Bitcoin foi proposto em uma lista de e-mails.

Na época, outras pessoas na lista expressaram alguma desconfiança, uma vez que já haviam surgido outras propostas de moedas digitais que não obtiveram sucesso.

Assim, Hal Finney foi um dos primeiros a operar a rede Bitcoin. Inclusive, há um tweet dele que ficou famoso, no qual ele escreveu “Running Bitcoin” em 11 de janeiro de 2009. Isso significa que, a partir daquele momento, ele estava colaborando com Satoshi, executando a blockchain do Bitcoin.

Até hoje, esse tweet é compartilhado por bitcoiners.

No processo de mineração, Finney foi responsável por minerar o bloco 70 e poucos, recebendo assim a primeira transação de Bitcoin registrada na história, na qual Satoshi enviou 10 bitcoins como um teste.

Ao longo do tempo, Finney manteve diálogo contínuo com o criador do Bitcoin, relatando bugs no software que Nakamoto corrigia.

Quanto à mineração, ele continuou a praticá-la em sua residência, até decidir interrompê-la devido ao aquecimento excessivo e ao ruído gerado pelo seu computador. Vale ressaltar que, naquela época, ainda era possível minerar Bitcoin utilizando apenas um computador doméstico.

O diagnóstico da doença

Em 2009, Hal Finney recebeu o diagnóstico de que estava com ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), uma doença que enfraquece os músculos e afeta as funções físicas, é a mesma doença que o físico Stephen Hawking teve.

Hal Finney foi diagnosticado com ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica)

Mesmo enfrentando diversas limitações e dependendo de alimentação por tubos, Finney conseguiu adaptar-se para realizar algumas atividades, incluindo a continuação de sua escrita de códigos.

Durante esse período, ele estava envolvido em um projeto para fortalecer carteiras de bitcoin.

No entanto, em 28 de agosto de 2014, ele faleceu, vítima da doença. Logo após sua morte, seu corpo foi submetido a um processo de criogenia. Sim! Hal Finney optou por congelar seu corpo, na expectativa de que, no futuro, a tecnologia permita sua ressuscitação.

Assim, o sangue de seu corpo foi removido e substituído por M-22, uma solução que preserva os tecidos e evita a formação de cristais de gelo. Além disso, o corpo foi submerso em 450 litros de nitrogênio a uma temperatura de -195ºC.

Ele e sua esposa concordaram em manter o corpo nesse estado por 20 anos.

A última postagem

Antes de falecer, Hal Finney fez sua última postagem no Bitcoin Talk: uma carta que compartilhava um pouco de sua trajetória e experiência com o Bitcoin.

Confira abaixo a carta escrita por Hal Finney:

Por Hal Finney

Pensei em relatar os últimos quatro anos, um período agitado tanto para o Bitcoin quanto para mim.

Para quem não me conhece, sou Hal Finney. Iniciei minha jornada em criptografia trabalhando na versão inicial do PGP, em colaboração próxima com Phil Zimmermann.

Quando Phil decidiu iniciar a PGP Corporation, fui uma das primeiras contratações, permanecendo até a minha aposentadoria. Ao mesmo tempo, também me envolvi com os Cypherpunks, implementando o primeiro repostador anônimo baseado em criptografia, entre outras atividades.

Avançando para o final de 2008 e o anúncio do Bitcoin, notei que os especialistas criptográficos mais experientes (eu estava na casa dos 50 anos na época) tendiam a se tornar cínicos. Eu, por outro lado, mantinha meu idealismo; sempre fui apaixonado por criptografia, seu mistério e paradoxos.

Quando Satoshi anunciou o Bitcoin na lista de discussão de criptografia, enfrentou uma recepção cética, no mínimo. Criptógrafos haviam visto muitas propostas grandiosas de iniciantes ignorantes e, naturalmente, reagiram com desconfiança.

Eu estava mais otimista. Já havia explorado esquemas de pagamento criptográfico há muito tempo, e tive a sorte de conhecer e trocar correspondências extensas com Wei Dai e Nick Szabo, ambos reconhecidos por suas contribuições às ideias que seriam realizadas com o Bitcoin.

Antes disso, eu próprio havia tentado criar uma prova de moeda baseada em trabalho chamada RPOW. Portanto, o Bitcoin me fascinou.

A segunda pessoa a rodar o software de Bitcoin

Quando Satoshi anunciou o primeiro lançamento do software, eu o baixei imediatamente. Acho que fui a primeira pessoa além de Satoshi a “rodar” o software de Bitcoin. Eu minerei o bloco de 70 e alguma coisa, e fui o destinatário da primeira transação de bitcoin, quando Satoshi enviou dez moedas para mim como um teste. Eu continuei uma conversa por e-mail com Satoshi nos próximos dias, principalmente reportando bugs e ele corrigindo-os.

Naquela época, a verdadeira identidade de Satoshi ainda era um mistério para mim. Contudo, eu acreditava estar interagindo com um jovem de ascendência japonesa, alguém muito inteligente e sincero. Minha vida havia me permitido conhecer muitas mentes brilhantes, então eu reconhecia os sinais.

Após alguns dias, o Bitcoin estava operando de maneira estável, então o deixei funcionando.

Essa era uma época em que a dificuldade era 1, e era possível minerar blocos com uma CPU, nem mesmo com uma GPU. Minei vários blocos nos dias seguintes, mas desliguei a atividade porque meu computador estava aquecendo demais, e o barulho da ventoinha me incomodava.

Em retrospectiva, gostaria de ter continuado, mas, por outro lado, tive a extraordinária sorte de estar lá desde o início. É uma daquelas situações com copos meio cheias e meio vazios.

Assim, a próxima vez que ouvi falar do Bitcoin foi no final de 2010, quando fiquei surpreso ao descobrir que não apenas estava funcionando, mas os bitcoins agora tinham valor monetário. Desempoeirei minha antiga carteira e fiquei aliviado ao ver que meus bitcoins ainda estavam lá. À medida que o valor aumentou, transferi as moedas para uma carteira offline, onde espero que tenham valor para meus herdeiros.

ELA, doença de Lou Gehrig

Falando em herdeiros, tive uma surpresa em 2009, quando fui diagnosticado repentinamente com uma doença fatal. Estava na melhor forma da minha vida no início daquele ano, perdendo peso e correndo longas distâncias. Corri várias meias maratonas e estava começando a treinar para uma maratona completa. Estava planejando correr mais de 20 milhas e achei que estava pronto. Foi quando tudo deu errado.

Meu corpo começou a falhar. Minha fala foi comprometida, perdi força nas mãos e minhas pernas demoravam para se recuperar. Em agosto de 2009, recebi o diagnóstico de ELA (esclerose lateral amiotrófica), também conhecida como doença de Lou Gehrig, em referência ao famoso jogador de beisebol que a desenvolveu.

A ELA é uma condição que resulta na degeneração dos neurônios motores, responsáveis por transmitir sinais do cérebro para os músculos. Inicia-se com fraqueza e progride gradualmente para a paralisia.

Geralmente, é uma doença fatal em um período de 2 a 5 anos. No meu caso, os sintomas foram inicialmente leves, permitindo-me continuar trabalhando, mas problemas de fadiga e voz tornaram necessária minha aposentadoria no início de 2011. Desde então, a doença tem seguido sua progressão inexorável.

Hoje estou essencialmente paralisado. Eu sou alimentado através de um tubo, e minha respiração é assistida através de outro tubo. Eu uso o computador usando um sistema comercial de eyetracker. Ele também tem um sintetizador de voz, então esta é a minha voz agora. Eu passo o dia todo na minha cadeira de rodas elétrica, e desenvolvi uma interface utilizando Arduino para ajustar a posição da cadeira com o movimento dos olhos.

Gratidão

Apesar dos desafios, minha vida não é tão ruim. Ainda posso ler, ouvir música e assistir TV e filmes. Recentemente, descobri que posso até escrever código. É muito lento, provavelmente 50 vezes mais lento do que antes. Mas eu ainda amo programar e isso me dá objetivos.

Atualmente estou trabalhando em algo que Mike Hearn sugeriu, usando os recursos de segurança dos processadores modernos, projetados para suportar “Trusted Computing”, para fortalecer as carteiras Bitcoin. Este projeto está quase pronto para ser lançado. Eu só tenho que fazer a documentação.

E, claro, as oscilações de preço dos bitcoins são divertidas para mim. Eu adoro este jogo. Mas eu consegui meus bitcoins pela sorte, com pouco crédito para mim. Eu vivi a quebra de 2011. Então eu já vi isso antes. Assim como a volativildade vem, ela também vai.

Essa é a minha história. Eu tenho muita sorte no geral. Mesmo com a esclerose, minha vida é muito satisfatória. Mas minha expectativa de vida é limitada. Essas discussões sobre herdar seus bitcoins são de interesse mais do que acadêmico. Meus bitcoins são armazenados em nosso cofre, e meu filho e minha filha são experientes em tecnologia. Eu acho que eles estão seguros o suficiente. Estou confortável com meu legado.

Projeto Running Bitcoin

Além do Bitcoin, Hal Finney nutria uma paixão por outra atividade: a corrida. Participante assíduo de meias maratonas (21 km), ele estava em preparação para enfrentar o desafio de uma maratona completa (42 km) quando recebeu o diagnóstico de sua doença.

Hal Finney correndo em uma meia maratona (21km)

Após Elon Musk assumir o comando do Twitter, ele declarou que contas inativas seriam removidas. Isso levou a uma discussão entre os seguidores sobre a permanência da conta de Hal Finney na plataforma.

Em resposta a essas discussões, Fran Finney, esposa de Hal, tomou a iniciativa de utilizar a conta dele para seguir novos usuários, lançando assim uma campanha voltada para auxiliar indivíduos que sofrem com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA).

Esposa de Hal Finney usando a conta dele para seguir novos usuários e lançar uma iniciativa para auxiliar indivíduos com ELA

Fran aproveitou a visibilidade da conta de Hal para promover o projeto denominado “Running Bitcoin“, cujo propósito é levantar fundos por meio de doações em bitcoin direcionadas para pesquisas sobre a ELA.

O Running Bitcoin consiste em percorrer 21 km, seja caminhando ou correndo, ao longo de um determinado período de dias.

A participação nessa corrida não está restrita a um local específico; indivíduos de qualquer parte do mundo podem inscrever-se e contribuir para essa causa nobre.

Hal Finney é Satoshi Nakamoto?

Apesar dos rumores persistentes, Hal Finney sempre rejeitou a ideia de ser Satoshi Nakamoto.

Após o falecimento de Hal, sua esposa continuou a negar essa teoria em diversas entrevistas. Entretanto, apesar de todas as negativas, alguns bitcoiners ainda consideram sobre a possibilidade de Hal ser o verdadeiro criador da BTC.

Enfim, nunca saberemos se Hal Finney é de fato Satoshi Nakamoto…

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Conclusão

Praticamente todo bitcoiner que se preze deve estar familiarizado ou ter algum conhecimento sobre a história de Hal Finney, afinal, ele foi super importante para o desenvolvimento do Bitcoin.

Como destacado, Finney não se limitou a ser a primeira pessoa a executar o software do Bitcoin ou a receber uma transação direta de Satoshi. Ele era um desenvolvedor talentoso, responsável por solucionar o desafio do gasto duplo nas moedas digitais.

Além disso, ele era parte integrante do movimento cypherpunk e contribuiu significativamente com vários artigos sobre criptografia.

Não é à toa que muitos acham que ele pode ser o próprio Satoshi Nakamoto. Contudo, para nós, Hal Finney representa muito mais do que uma figura importante, ele personifica uma inspiradora história de superação.

A gente espera que você tenha gostado de conhecer a história e trajetória de Hal Finney e, por consequência, saber e aprender mais sobre a história do bitcoin.

Compartilhe o artigo, até a próxima e Opt Out.

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