Recentemente, a HBO lançou em seus canais de streaming um documentário chamado “Money Electric: O Mistério do Bitcoin”. O filme, dirigido por Cullen Hoback, pretendia revelar a identidade de Satoshi Nakamoto – pseudônimo do criador do Bitcoin.

Assim, por meio de uma série de evidências, verdadeiras ou não, o diretor deixou a entender que a verdadeira pessoa por trás da criação da moeda é Peter Todd. 

Entretanto, o canadense criador do OpenTimestamps, projeto de código aberto criado para estabelecer um formato padrão de registro na blockchain, nega a afirmação. 

Enfim, como você pode imaginar, todo esse bafafá está dando o que falar no mundo Bitcoiner, deixando todo mundo com uma pulga atrás da orelha: será mesmo que Satoshi Nakamoto foi finalmente desvendado? Ou será mais uma história de pura especulação da mídia?

Neste artigo, vamos entender melhor quem é Peter Todd, qual sua conexão (se é que existe) com Satoshi Nakamoto e quais os mais prováveis finais para essa história.

Animados?!

Quem é Peter Todd?

Peter Todd é um dos nomes mais importantes e, ao mesmo tempo, polêmicos no mundo do Bitcoin. Desenvolvedor e especialista em criptografia, ele teve um papel importante na evolução do protocolo Bitcoin, contribuindo com ideias, críticas e melhorias técnicas.

Desde os primeiros dias do Bitcoin, Todd sempre esteve no centro das discussões sobre como escalar e proteger a rede, defendendo que o sistema deve manter sua essência descentralizada.

Peter Todd

Uma das principais bandeiras de Todd é a defesa intransigente da segurança e privacidade do Bitcoin. Ele não tem medo de ir contra ideias populares ou as pressões do mercado, principalmente quando percebe que essas propostas poderiam comprometer os princípios básicos da rede.

Por exemplo, ele foi um dos primeiros a defender que os usuários devem rodar seus próprios nós completos, garantindo que as regras do Bitcoin sejam seguidas sem depender de terceiros.

Entre suas contribuições, Todd ajudou a reduzir os custos de armazenamento na blockchain, propôs melhorias que aumentam a resistência à censura e trabalhou em tecnologias como o OpenTimestamps, uma ferramenta que permite verificar a autenticidade de documentos de forma descentralizada, sem precisar confiar em uma autoridade central.

Além disso, Peter Todd é conhecido por assumir o papel de “advogado do diabo” na comunidade Bitcoin. Assim, ele faz perguntas difíceis, desafia ideias amplamente aceitas e testa cenários extremos para garantir que a tecnologia seja realmente robusta.

Apesar de, às vezes, gerar debates intensos, sua postura crítica ajuda a tornar o Bitcoin mais seguro e resistente contra falhas e ataques.

Recentemente seu nome voltou à tona depois do lançamento do documentário “Money Electric: O Mistério do Bitcoin”.

Lançado pela HBO e disponível no seu serviço de streaming Max, a produção tem a promessa de contar a história de um dos maiores mistérios da atualidade, a origem do Bitcoin e seu criador anônimo – mas nós falaremos mais sobre isso adiante.

Principais contribuições de Peter Todd para o Bitcoin

Como vimos anteriormente, Peter Todd é um desenvolvedor e especialista em criptografia que, ao longo dos anos, tem contribuído para o Bitcoin.

Abaixo estão algumas de suas principais contribuições:

1. Validação Completa pelo Usuário (Full Node Advocacy)

Peter Todd foi um dos principais defensores da ideia de que os usuários devem operar nós completos (full nodes) para verificar as regras do Bitcoin de forma independente, sem confiar em terceiros. Essa abordagem é fundamental para manter a descentralização e a resistência à censura da rede.

2. Redução do Tamanho da Blockchain (UTXO Set Reduction)

Todd propôs e trabalhou em melhorias para reduzir o conjunto de UTXOs (unspent transaction outputs) e os requisitos de armazenamento na blockchain, ajudando a otimizar o uso de recursos na rede.

3. Propostas de Soft Forks Seguros

Ele contribuiu com ideias para implementar soft forks de forma segura, garantindo a compatibilidade retroativa e minimizando riscos de centralização durante atualizações no protocolo.

4. OpenTimestamps

Todd criou o OpenTimestamps, um sistema descentralizado para carimbar o tempo (timestamping) de documentos, permitindo provar a existência de um documento em um momento específico sem depender de uma autoridade central.

5. Críticas e Revisão de Propostas

Peter Todd também desempenha um papel crítico na revisão de propostas importantes, ajudando a identificar falhas e melhorá-las antes de serem implementadas.

6. Estudo e aplicação de Provas de Conhecimento Zero (Zero-Knowledge Proofs)

Todd conduziu pesquisas sobre o uso de provas de conhecimento zero, que podem ser aplicadas para melhorar a privacidade e eficiência em sistemas como o Bitcoin.

7. Input Value Signing

Ele também propôs mudanças para o protocolo de assinatura de transações, que ajudariam a melhorar a segurança contra ataques como o “transaction malleability.

8. Apoio à Privacidade

Por fim, Peter Todd defendeu e contribuiu para técnicas que aumentam a privacidade no Bitcoin, como CoinJoin, garantindo que os usuários tenham mais controle sobre suas informações financeiras.

Essas contribuições fizeram de Peter Todd uma figura influente e respeitada na comunidade Bitcoin, ainda que também seja considerado uma voz crítica, desafiando ideias populares para garantir a segurança e a integridade da rede.

Qual sua conexão com Satoshi Nakamoto?

Desde que Peter Todd se envolveu com o Bitcoin em 2012, surgiram especulações, especialmente reforçadas no documentário Money Electric – The Bitcoin Mistery, de que ele poderia ser Satoshi Nakamoto.

No entanto, não existem provas concretas que liguem Todd diretamente a Satoshi.

É verdade que Peter trabalhou no código do Bitcoin e participou ativamente de discussões técnicas que ajudaram a preservar a visão original de Satoshi: uma rede descentralizada e resistente à censura. Contudo, isso não passa de uma coincidência de alinhamento de princípios e interesses.

A única conexão entre os dois, ao que tudo indica, é a narrativa explorada no documentário.

Documentário HBO

(Bom, se você não quer spoilers, melhor pular essa parte!)

No documentário dirigido por Cullen Hoback, a HBO conta a história da origem do Bitcoin e levanta a questão sobre a identidade de seu criador, Satoshi Nakamoto.

Assim, a produção traz personagens importantes, como Adam Back, CEO da Blockstream, mas foca especialmente no desenvolvedor do Bitcoin Core, Peter Todd.

Money Electric The Bitcoin Mystery (Documentário HBO)

Segundo o diretor, Peter tem tudo para ser o verdadeiro Satoshi Nakamoto, e tenta defender isso através de diversas pistas. Entre elas, um post feito em um fórum, onde Todd teria respondido a um comentário do Satoshi que, segundo Hoback, seria ele mesmo.

O documentário também levanta outros pontos, como o estilo de escrita de Todd que seria similar ao de Satoshi; os esforços de Peter Todd, ainda na adolescência, para transformar o experimento Hashcash em uma moeda digital; e a simplicidade do código C++ do protocolo Bitcoin, que seria característico de um programador amador, como Todd era na época.

Entretanto, apesar das pistas levantadas, o filme não apresenta provas conclusivas. Por este motivo, muitos críticos classificaram as teorias como especulativas e baseadas em suposições frágeis.

Além disso, o próprio Peter Todd já negou as acusações.

Peter Todd nega ser Satoshi Nakamoto

A identidade de Satoshi Nakamoto sempre foi um dos maiores mistérios entre os Bitcoiners. Por isso, é lógico que qualquer burburinho em torno deste assunto ia gerar uma comoção geral em busca da suposta verdade.

No entanto, nem tudo parece ser como sugere o documentário de Cullen Hoback. Procurado pela CNN, Peter Todd disse claramente não ser Satoshi Nakamoto, e ainda acusou o conteúdo de ser “irresponsável” ao transparecer essa falsa ideia.

“Ele (o diretor) está exagerando algumas coincidências. Irônico, na verdade: isso é uma marca registrada do pensamento conspiratório.”, disse Peter à CNN.

Ao ser procurado pela CNN, o diretor do filme disse não se surpreender com a negativa de Todd, mas que continua confiante com as respostas trazidas pela produção. 

Em sua defesa, Hoback alegou que investigou e estudou durante anos todas as teorias conspiratórias sobre a identidade do criador do Bitcoin. Tais estudos o levaram até a conclusão de que o canadense seria então a solução para o mistério.

Conclusão

Peter Todd é, sem dúvida, uma figura de grande destaque no Bitcoin, conhecido por suas contribuições técnicas e pela defesa de valores fundamentais como segurança e descentralização. No entanto, apesar das teorias que circulam por aí, não há qualquer prova de que ele seja Satoshi Nakamoto.

Na verdade, Todd é apenas um desenvolvedor comprometido com o fortalecimento da rede, trabalhando para torná-la cada vez mais robusta e confiável. Ele nunca reivindicou ser Satoshi, e, pensando bem, talvez isso nem seja o mais relevante. O que realmente importa é o impacto transformador que o Bitcoin trouxe para o mundo.

No final das contas, Peter Todd pode não ser Satoshi, mas suas contribuições para o ecossistema do Bitcoin são inegáveis.

O Bitcoin é uma construção coletiva, impulsionada por pessoas como Todd e por todos que, como você, se interessam por essa revolução. No fundo, o Bitcoin não é sobre uma única pessoa, mas sobre todos nós.

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Kaká Furlan

Fundadora da Area Bitcoin, um dos maiores projetos de educação de Bitcoin do mundo, publicitária, apaixonada por tecnologia e mão na massa full time. Já participou das principais conferências de Bitcoin como Adopting, Satsconf, Surfin Bitcoin e Bitcoin Conference.

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