O KYC é um processo que ajuda a identificar e verificar a identidade dos usuários de uma plataforma. Com ele, empresas podem prevenir crimes como lavagem de dinheiro e fraudes financeiras, garantindo que as transações sejam seguras e os clientes, reais. 

Embora o KYC seja uma prática bem comum em bancos e fintechs, ele também ganhou espaço no mercado das criptomoedas, onde o anonimato é uma das principais características.

Isso ocorre porque os governos querem controlar as transações do mercado cripto, obrigando as exchanges a implementarem o KYC para operarem no país.

Bem, neste artigo, nós vamos explicar o que é o KYC e como ele se aplica ao Bitcoin. Saiba, também, quais são os principais métodos parar comprar BTC sem KYC.

Animados?!

O que é KYC ou Know Your Customer?

O KYC, ou “Know Your Customer“, é um processo usado por empresas para confirmar a identidade de seus clientes. Isso geralmente envolve o envio de documentos, como identidade e comprovante de endereço, para que a empresa possa garantir que o cliente é quem diz ser.

O objetivo principal do KYC é prevenir crimes financeiros, como lavagem de dinheiro e fraudes, tornando as transações menos anônimas.

Assim, aqui no Brasil, desde 2019, qualquer empresa que lida com dinheiro, precisa seguir essas regras.

Os governos obrigaram as exchanges a implementarem KYC, pois, sem essa exigência, as pessoas poderiam deixar de comprar ativos em corretoras tradicionais, como bancos, para comprar em exchanges. Autoridades financeiras, como a CVM e o Banco Central, na época, pressionaram para que as exchanges fossem consideradas serviços financeiros no Brasil e no mundo.

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Para que serve o Know Your Customer?

O Know Your Customer (KYC), ou “Conheça Seu Cliente”, é um processo no setor financeiro que visa verificar a identidade dos usuários de uma plataforma. Esse processo faz com que empresas consigam identificar quem são seus clientes e monitorar suas atividades, reduzindo os riscos de fraude e outros crimes financeiros.

Por meio desse método, bancos, fintechs e exchanges conseguem vigiar de perto quem está usando seus serviços, justificando isso como uma medida de segurança para combater fraudes e lavagem de dinheiro.

Entretanto, sabemos que o KYC serve também para manter os governos e as instituições financeiras no poder, dando a eles acesso a informações pessoais sensíveis, como documentos de identidade, comprovantes de endereço e até selfies.

Essas informações ficam nas mãos dessas instituições, aumentando o risco de vazamento de dados e invasões de privacidade.

Os governos até afirmam que ele serve para atender às regulamentações de compliances e às exigências de órgãos financeiros. Em diversos países, inclusive, autoridades impõem diretrizes rígidas para evitar que suas plataformas sejam usadas em atividades ilegais. Mas, não deixa de ser uma (baita) forma de centralização.

Assim, para o Bitcoin, o KYC é visto mais como uma maneira de centralizar o controle e tirar do usuário o direito do anonimato e à privacidade.

Para empresas

Para empresas, o KYC é benéfico, pois ajuda a prevenir fraudes, especialmente as relacionadas a cartões de crédito, que são muito comuns. Assim, é importante para as empresas verificar se a pessoa que está criando a conta é realmente quem está realizando a compra.

Para governos

Para os governos, o Know Your Customer é utilizado para identificar se a pessoa está em débito com impostos, se obteve ganho de capital, lucro com Bitcoin, ações, renda fixa ou qualquer outro ativo financeiro. Ou seja, o KYC serve para aumentar o controle sobre as operações financeiras dos cidadãos.

Como funciona o KYC (Know Your Customer)?

O processo de Know Your Customer (KYC) envolve algumas etapas que servem para que as empresas confirmem a identidade de seus clientes. 

Geralmente, é solicitado durante o cadastro nas plataformas financeiras, como bancos, exchanges e fintechs. Vamos ver as principais etapas:

  1. Cadastro e coleta de informações pessoais: na primeira etapa, o cliente preenche informações básicas, como nome completo, data de nascimento, endereço e CPF (ou número de passaporte, para clientes estrangeiros). Essas informações iniciais servem de base para o processo de verificação.
  2. Envio de documentação: após fornecer os dados pessoais, o cliente é solicitado a enviar documentos de identidade, como RG, CPF, passaporte ou carteira de habilitação, além de um comprovante de residência recente. A ideia aqui é confirmar que a pessoa é realmente quem diz ser.
  3. Verificação de identidade com foto: em muitos casos, as empresas pedem uma selfie ou uma foto do cliente segurando o documento de identidade. Esse passo evita o uso de documentos falsos e ajuda a garantir que a pessoa que está se cadastrando é, de fato, o titular dos documentos apresentados.
  4. Análise de risco e conformidade: após a coleta e verificação dos dados, a empresa realiza uma análise de risco, onde busca informações adicionais sobre o cliente em bancos de dados públicos e privados. Isso permite identificar possíveis antecedentes criminais, histórico de fraude ou qualquer outra atividade suspeita.
  5. Aprovação ou recusa do cadastro: com as informações verificadas, a empresa decide se aprova ou não o cadastro. Caso algo suspeito seja identificado, o cliente pode ter o acesso negado ou limitado até que a situação seja resolvida.

Esse processo, embora bastante intrusivo, é justificado pelas empresas financeiras como necessário para cumprir regulamentações e “garantir a segurança”.

Entretanto, o KYC é uma anomalia, pois, se uma pessoa cometeu um crime, a culpa deveria ser dela, e não do meio utilizado, seja ele dinheiro, Bitcoin, ouro, vinho ou obras de arte.

Imagine que alguém cometeu lavagem de dinheiro comprando vinhos caríssimos, e a polícia determina que esses vinhos estão “marcados” e não podem mais ser vendidos. Considerar os vinhos como “culpados” por terem sido usados para lavagem de dinheiro não faz sentido.

Chega a ser bizarro!

Quais os principais elementos do KYC?

O processo de Know Your Customer (KYC) é composto por diversas etapas-chave que, juntas, permitem às instituições financeiras compreender a autenticidade e a segurança dos perfis dos clientes.

Veja abaixo os principais elementos do KYC:

1. Identificação do cliente

Na identificação inicial, o cliente fornece documentos pessoais, como RG, CPF, passaporte ou carteira de habilitação, que confirmem sua identidade. Essa etapa assegura que a pessoa que está se cadastrando é realmente quem afirma ser, criando uma base segura para o processo de verificação.

2. Verificação de identidade

Após a coleta dos documentos, a empresa analisa e valida a autenticidade dessas informações. Aqui, muitas vezes, são usadas tecnologias de verificação, como biometria facial e consultas em bancos de dados públicos, para aumentar a precisão e a segurança da etapa.

Tudo é feito para conferir se os documentos e dados enviados são realmente válidos.

3. Avaliação de risco

Nesta fase, o cliente é classificado de acordo com seu perfil de risco.

Para isso, a companhia leva em conta fatores como histórico financeiro, fonte dos fundos e padrões de comportamento transacional.

Esse procedimento busca identificar potenciais atividades ilegais ou suspeitas desde o início, atribuindo uma “nota de risco” ao perfil do cliente.

4. Monitoramento contínuo

A etapa de monitoramento contínuo é responsável por acompanhar as transações do cliente ao longo do tempo, visando detectar atividades que possam ser incompatíveis com o perfil estabelecido.

Esse monitoramento permite que a empresa identifique rapidamente quaisquer mudanças suspeitas no comportamento do usuário, garantindo conformidade com as regulamentações.

KYC é uma ameaça para o Bitcoin?

Quando se trata de Bitcoin, há dois tipos de pessoas: aquelas que o enxergam como um ativo financeiro (um meio para um fim) e aquelas que veem o Bitcoin como uma ferramenta de privacidade e liberdade financeira, onde você não depende de terceiros para operar seu próprio dinheiro.

Os defensores da soberania financeira afirmam que o KYC é uma ameaça para o Bitcoin, pois permite que os governos forcem as pessoas a declararem todos os seus bens e rastreiem suas transações, abusando de leis tributárias para confiscar Bitcoin em períodos de regimes autoritários.

Embora os governos aleguem que o KYC serve para combater crimes, a porcentagem de atividades ilícitas no Bitcoin é tão pequena que o verdadeiro motivo é ter controle sobre quem possui ganho de capital e acumula patrimônio.

Entretanto, há aqueles que enxergam o Bitcoin como um ativo financeiro, assim, não se importam em comprar em locais com KYC e declarar seus bitcoins, pois o objetivo inicial já é convertê-los em algum bem no futuro. Dessa forma, esse tipo de pessoa não vê problema com essa exigência.

Características principais do Bitcoin

O Bitcoin nasceu como uma moeda descentralizada, na qual é possível negociar sem depender de terceiros ou intermediários, como bancos ou governos. Essas são as características principais do Bitcoin, e quem entende o propósito para o qual ele foi criado costuma se revoltar contra o KYC, impostos e qualquer tentativa de retirar a privacidade de quem possui Bitcoin.

Além disso, o Bitcoin não exige nenhum dado pessoal e, inclusive, pode ser usado por IA para pagamentos, sem necessidade de até mesmo uma pessoa física. Tudo o que você precisa é de uma carteira que se conecte à rede e siga as regras de consenso.

Hoje em dia, todo o dinheiro possui informações associadas, o que permite rastrear sua origem e o destino de seu uso. Com o KYC, essas informações podem ser usadas para fins corruptos e abusivos, o que representa o maior receio. Isso porque, ao saber quem possui Bitcoin e quanto, em caso de hiperinflação da moeda fiat, seria possível impor um confisco.

No entanto, ao contrário do ouro, o Bitcoin é mais difícil de confiscar diretamente. Mesmo assim, se o governo possui os dados das pessoas que compram Bitcoin com KYC, essas informações podem ser cruzadas, e elas podem ser forçadas a entregar seus Bitcoins.

Portanto, o KYC pode acabar sendo usado contra a população.

É possível comprar Bitcoin sem KYC?

Sim, é possível comprar Bitcoin em plataformas que não exigem o processo de Know Your Customer (KYC).

Apesar de muitas corretoras centralizadas exigirem o KYC para cumprir regulamentações, existem opções no mercado onde essa prática não é obrigatória, oferecendo mais privacidade aos usuários. 

Bora explorar abaixo algumas dessas opções, incluindo plataformas P2P, caixas eletrônicos de Bitcoin (ATM) e exchanges descentralizadas.

1. P2P

As plataformas de compra e venda P2P (peer-to-peer), como a Bisq, Hodl Hodl, e outras, permitem transações diretas entre compradores e vendedores, sem necessidade de intermediários.

Nesses plataformas descentralizadas, os usuários podem negociar os Bitcoins diretamente entre si, com diversas opções de pagamento, e ao fim do pagamento, o dinheiro é enviado diretamente para sua carteira Bitcoin.

Ainda que essas plataformas possam solicitar KYC dependendo do valor ou do país, a maioria das transações são realizadas sem verificação. 

Além disso, essas plataformas oferecem várias camadas de proteção para compradores e vendedores. A Bisq, por exemplo, utiliza depósitos de segurança, conta com um sistema de arbitragem em caso de disputas e possui um sistema de reputação para os usuários.

2. ATM

Caixas eletrônicos de Bitcoin (Bitcoin ATMs) são outra forma popular de comprar Bitcoin sem passar por um processo completo de KYC. Dessa forma, você consegue comprar a moeda com dinheiro em espécie, inserindo as notas e recebendo o BTC em sua carteira.

Porém, vale lembrar que, em alguns locais, valores mais altos vão exigir identificação.

A boa notícia é que sites como CoinATMRadar ajudam a encontrar ATMs próximos e a verificar as condições de uso de cada um. Assim, você tem praticidade e anonimato nas compras menores – mas já avisamos: a compra por ATMs costuma ter taxas mais altas.

Olha esse vídeo que gravamos usando Bitcoin ATMs em El Salvador:

3. Exchanges

Exchanges descentralizadas, como a Robosats ou Azteco, facilitam a compra e venda de Bitcoin sem exigir KYC, operando de forma autônoma sem centralização. 

A Robosats, por exemplo, utiliza a rede Lightning para transações rápidas e privadas, onde compradores e vendedores negociam diretamente.

Além disso, a segurança é mantida por meio de um sistema de garantia (escrow) e de mecanismos que incentivam o bom comportamento dos usuários. 

Bom, essas três alternativas oferecem opções para quem deseja comprar Bitcoin sem KYC, com maior privacidade e anônimato, embora a segurança e as taxas possam variar entre elas.

Escolha a que melhor se enquadrar para os seus objetivos.

Devo comprar Bitcoin com ou sem KYC?

Se você compra Bitcoin com o objetivo de convertê-lo em um bem no futuro, pode optar por comprá-lo com KYC, pois precisará comprovar a fonte de receita, no momento da conversão em fiat.

Por outro lado, quem deseja manter total privacidade vai sempre comprar sem KYC. Essas pessoas, geralmente, evitam adquirir bens vinculados ao sistema fiat, como carros e imóveis, e, em vez disso, utiliza o Bitcoin como garantia, trocando-o por produtos e serviços com pessoas dispostas a negociar diretamente em BTC.

O mais importante é refletir sobre o que você pretende fazer com esse Bitcoin no futuro: qual é o seu objetivo e quais ferramentas utilizar em um cenário favorável (onde você pode usar Bitcoin para tudo, sem cobranças abusivas) ou em um cenário desafiador, no qual possam existir censura, confisco e perda de privacidade.

Coin Selection

Com o Coin Selection, é possível manter Bitcoins com KYC e sem KYC na mesma carteira e escolher qual deles utilizar para cada finalidade.

Por exemplo, posso usar meus Bitcoins com KYC para comprar uma casa, pois já foram declarados à receita, e a exchange já comunicou essa informação no momento da compra.

Já os Bitcoins sem KYC posso guardar para transferir para minha família, e esses eu nunca trocaria por nenhum bem, pois serão um patrimônio para eles.

Uma das carteiras que permite essa organização é a Sparrow Wallet, onde você consegue adicionar rótulos aos Bitcoins, indicando onde foram comprados ou recebidos.

Conclusão

Como vimos neste artigo, o Know Your Customer (KYC) é uma prática padrão no setor financeiro para combater fraudes e atividades ilegais.

Para quem utiliza corretoras centralizadas, como a Binance, o KYC oferece conformidade com regulamentações, protegendo um pouco mais os usuários e a plataforma. No entanto, isso entra em conflito com o princípio de privacidade que muitos valorizam no Bitcoin, justamente por ser descentralizado e permitir anonimato.

Por outro lado, aqueles que priorizam a privacidade em suas transações de Bitcoin podem optar por alternativas sem KYC, como plataformas P2P, caixas eletrônicos de Bitcoin (ATMs) e exchanges descentralizadas.

Essas opções não exigem informações pessoais, sendo uma escolha atraente para Bitcoiners que preferem anonimato, mesmo que possam pagar por taxas de compra um pouco maiores.

Assim, o KYC representa uma escolha entre conveniência e privacidade. Para alguns, o KYC não é tão importante assim; para outros, é um mecanismo de repressão financeira.

Independentemente do caminho escolhido, entender como cada opção funciona é o primeiro grande passo para tomar decisões mais bem informadas sobre como negociar e armazenar seus satoshis com segurança e de acordo com suas prioridades.

Espero que você tenha gostado deste artigo, abraços e opt out!

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Kaká Furlan

Fundadora da Area Bitcoin, um dos maiores projetos de educação de Bitcoin do mundo, publicitária, apaixonada por tecnologia e mão na massa full time. Já participou das principais conferências de Bitcoin como Adopting, Satsconf, Surfin Bitcoin e Bitcoin Conference.

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