A impressão excessiva de dinheiro é um assunto que frequentemente aparece nas discussões sobre economia.
Enquanto algumas pessoas podem pensar que imprimir dinheiro é uma solução rápida para resolver problemas financeiros, a realidade é que essa prática pode ter consequências negativas significativas para a economia como um todo.
Neste artigo, discutiremos por que imprimir dinheiro é péssimo para a economia, abordando questões como inflação, desvalorização da moeda e dívida pública.
Confira!
Ter mais dinheiro é ter mais riqueza?
O historiador Hans-Hermann Hoppe, adepto da Escola Austríaca de Pensamento Econômico, questionou economistas que defendem intervenções estatais, fazendo a seguinte pergunta: “Se os bancos centrais podem imprimir o quanto quiserem, por que ainda há pobreza?”.
Cada escola de pensamento econômico tem sua própria definição de inflação. Os keynesianos geralmente definem inflação como um aumento generalizado dos preços, enquanto a Escola Austríaca considera a elevação dos preços como apenas um sintoma de um problema mais profundo.
Na década de 1990, o economista Roberto Campos, que foi avô do presidente do Banco Central do Brasil em 2019, explicava que o termo inflação se refere ao aumento na emissão de moeda em circulação, e a alta dos preços é uma consequência disso. Isso é conhecido como inflação monetária, que é causada pelo aumento na quantidade de dinheiro em circulação.
A impressora dissimulada
Como resposta à crise econômica e ao aumento dos preços, o presidente Alberto Fernández anunciou um novo programa de assistência social e econômica na Argentina em 2021.
No entanto, mesmo com essas medidas, o país ainda sofria com uma inflação anual de 90% ao ano, o que preocupava o governo e a população. Diante disso, ele lamentou:
“Não haverá dinheiro suficiente para o bolso do povo se, a cada vez que o governo põe mais dinheiro na economia, os preços sobem.”
Logo, o que Fernández lamenta é apenas a constatação de um fenômeno natural.
Esse é o chamado “Efeito Cantillon“, um termo cunhado no século XVIII pelo economista Richard Cantillon.
Efeito Cantillon
Cantillon observou que a impressão de dinheiro pode beneficiar desproporcionalmente aqueles que estão mais próximos da fonte de emissão. Isso ocorre porque, à medida que o dinheiro novo é injetado na economia, ele começa a circular a partir dos setores onde foi inicialmente injetado, antes de se espalhar pelo resto da economia. Isso significa que aqueles que estão próximos da fonte de emissão podem desfrutar dos benefícios do dinheiro novo antes que ele se espalhe e afete os preços e a inflação.
Esse efeito é especialmente relevante em economias onde o dinheiro é controlado pelo governo ou pelo banco central.
Portanto, as 3 principais formas dos governos obterem dinheiro são: tributação, a emissão de dívidas, e inflar a emissão de moeda.
Tributação
Os impostos todo mundo conhece bem. Eles são a subtração de dinheiro que combinamos com trabalho para melhorar soluções, seja diretamente ou aplicando no trabalho alheio.
Emissão de dívidas
A emissão de dívidas atrai verba por empréstimos oferecendo um prêmio (juros), de acordo com tempo, risco e taxas de referência fiscal.
Emissão de moeda
A emissão de moeda, “impressão” de dinheiro, é o incremento por meio da criação, do nada, da moeda circulante. Dinheiro novo.
Caldo econômico
Como é menos conveniente trocar coisas, inventamos o dinheiro para servir como meio de troca. Assim, nós resolvemos o “problema da coincidência de desejos”.
Assim, quando a quantidade de um dos ingredientes muda, a relação de proporção entre eles também é alterada. Da mesma forma, a quantidade de dinheiro em circulação está intrinsicamente relacionada com a quantidade de bens e serviços que compõem a economia, uma vez que é por meio do dinheiro que esses bens e serviços são trocados e avaliados por sua importância para as pessoas.
Quando olhamos para cada quantidade, devemos considerar uma relação inevitável de proporção entre elas.
Portanto, variar desproporcionalmente as quantidades impacta diretamente o resultado dessa relação.
Lembra daquela frase? “Preço é o que se paga. Valor é o que se leva.”
Café fraco, forte ou o de sempre?
A moeda sempre vai se relacionar com os itens que trocamos. Assim como adicionar água ao café fervido reduz sua intensidade de sabor, a adição de mais dinheiro na economia pode afetar o poder de compra da moeda. A liquidez monetária refere-se à disponibilidade imediata de dinheiro na economia. Podemos pensar na quantidade de café como sendo a quantidade de bens e serviços que são trocados na sociedade e ver a quantidade de água como o dinheiro líquido despejado na economia.
O dinheiro “impresso” pode ser emitido à uma quantidade maior ou menor do que a quantidade de oferta de bens e serviços.
Assim, se houver crescimento econômico maior do que o incremento monetário, ou seja, se mais café for adicionado, isso resultará em um aumento do seu sabor, logo, aumentaria então o poder de compra do dinheiro. Isso ocorre pois passou a haver uma quantidade maior de itens comercializados em relação ao dinheiro líquido.
O dinheiro que é criado pode ser originado a partir da decisão do banco central em aumentar a oferta de dinheiro, bem como a partir de operações de crédito entre o banco central, o Tesouro Nacional e os bancos comerciais.
Esse dinheiro é injetado na economia por meio de títulos de dívida e outros instrumentos financeiros, que são comprados por grandes bancos, indústrias e outras entidades econômicas. Assim, a medida que esse dinheiro circula na economia, ele se torna líquido e começa a permear a cadeia produtiva por meio de transações comerciais regulares.
A variação dos preços é o resultado da alteração entre as quantidades de dinheiro em relação à de bens e serviços ao longo das etapas da cadeia econômica.
Para simplificar a análise, vamos considerar que a quantidade de pessoas e sua demanda se mantêm constantes e vamos nos concentrar nas variações na oferta de moeda e de bens comercializáveis.
Ao tratarmos a demanda como constante, podemos ter três casos:
Aumento da oferta de dinheiro
Se a oferta de dinheiro aumentar, o dinheiro estará menos raro em relação aos itens trocados com ele.
Ou seja, isso significa que houve uma expansão monetária acima do crescimento de bens e serviços, logo, o poder de compra irá cair.
Crescimento da oferta de bens e serviços
Se a oferta de bens e serviços crescer, o dinheiro ficará mais raro, pois haverá a mesma quantidade de dinheiro para mais produtos e serviços.
Portanto, nesse caso, houve crescimento econômico maior do que o monetário, logo, o poder de compra irá crescer.
Dinheiro acompanhar bens e serviços
Mas, caso o nível de oferta monetária acompanhar a oferta de bens e serviços, o poder de compra será mantido.
É lento, mas de repente…
Com a quantidade de demanda constante, a depender de qual situação ocorre, muda a relação de quantidades entre a oferta de moeda e a oferta do que se compra. Essa mudança de proporção é natural e implica gradualmente à mudança do preço.
Se a relação de quantidades entre as partes se mantiver, seja porque aumentaram ou diminuíram por igual, o poder de compra não muda, independentemente de já ser baixo ou alto.
Por muitos anos, o Japão experimentou uma queda recorrente nos preços, atingindo seu mínimo em 2009. Os preços lá caíam ou aumentavam pouco porque não havia um aumento significativo na quantidade de dinheiro em circulação em relação aos bens e serviços. Estes últimos cresciam igualmente ou em maior proporção em relação à quantidade de dinheiro.
Assim, durante muitos anos, houve uma expansão econômica maior do que a expansão monetária no país.
A idade da pedra não acabou por falta de pedras
Riqueza não é quantidade de dinheiro. Reis tinham toneladas de ouro, mas morriam por doenças iguais às dos plebeus.
Governos não conseguem criar riqueza sem ter subtraído algo da geração de valor das pessoas. Portanto, todo dinheiro que eles têm é fruto do que eles retêm. Até mesmo o lucro de empresas estatais é fruto do dinheiro extraído da sociedade.
O valor é o quanto nós queremos algo/alguma coisa. O preço é só uma tradução numérica da combinação de ‘o quanto algo é demandado’ com ‘o quanto é ofertado’.
O progresso do mundo ocorre devido ao aumento da riqueza gerada por meio da combinação de conhecimento e habilidades, resultando em soluções que são mais valorizadas pelas pessoas do que outras.
Ao contrário do que possa parecer, aumentar a quantidade de dinheiro, se for acima do crescimento de bens e serviços, enfraquece a moeda. E o poder de compra tem ficado historicamente menor.
Portanto, imprimir dinheiro acima do crescimento econômico cria pobreza.
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Por que o governo não sofre com a desvalorização do dinheiro, assim como nós?
Os participantes que estão corporativamente perto do emissor da moeda, bem como governos, grandes bancos, grandes empresas e indústrias, não sofrem com a perda do poder de compra porque eles sempre usam esse dinheiro antes dos preços dos bens e serviços se ajustarem à quantidade maior de liquidez injetada.
Os governos mantêm o aumento da quantidade de dinheiro maior do que o crescimento da oferta de bens e serviços, o que resulta em mais dinheiro sendo gradualmente distribuído até chegar às pessoas comuns. E como o efeito Cantillon, é gradual, o governo se aproveita da demora do ajuste de preços e, junto com os “amigos do rei”, usa o dinheiro “fresquinho” antes do poder de compra terminar de ser diluído.
A partir de 1971, houve um aumento significativo e recorrente nos preços, especialmente após a eliminação da restrição da quantidade de moeda em relação ao ouro. Tivemos que nos acostumar a isso ouvindo economistas adeptos do pensamento de John Maynard Keynes, socialista inglês intervencionista, que “os governos precisam manter um pouquinho de inflação” para zelar pela economia.
Além disso, muita gente já pode ter ouvido que “um pouquinho de inflação é necessário”, não é mesmo?!
Por outro lado, também já ouvimos que a inflação é o jeito mais perverso de os governos obterem dinheiro. Para o governo e para os “amigos do rei”, ela funciona como o gênio realizador dos desejos, mas para nós é como um furto.
Aqui está o porquê
A perversidade dos governos é se aproveitarem da diferença positiva entre o poder de compra do dinheiro novo e o poder de compra “diluído” gradualmente.
Como todos nós somos fornecedores e/ou consumidores em alguma etapa, ficamos com a diferença negativa. Pois é. Essa é uma forma sorrateira de os governos extraírem riqueza gerada pela sociedade.
A perversidade prejudica mais uns do que outros
Um dos argumentos mais falaciosos entre os keynesianistas é que se as pessoas começarem a perceber tendência de queda de preços por muito tempo, vão sempre adiar as suas compras e então a economia iria colapsar.
Uma justificativa dos defensores da inflação é que ela é um mal necessário para o governo sustentar a si mesmo e a economia como um todo, por meio da diferença de poder de compra entre o momento da emissão e efeito Cantillon, (às nossas custas!).
Outra falácia pior é que a disparada dos preços reduz a concentração de riqueza.
Como esse resultado não é proporcional à capacidade de cada um gerar renda, são os mais pobres, os que mais sofrem, participando da tão enaltecida redistribuição de riqueza.
Para os governos, a nossa participação nessa tal “distribuição de riqueza” é perder o que criamos com tanto suor para os controladores da manipulação monetária. Os donos das impressoras.
Os governos tanto prometem bondades falando que estão injetando liquidez para ajudar a economia, mas não dizem que ao fazerem isso, extraem a riqueza que criamos. Somos nós que pagamos a conta da demagogia ao amargarmos a diluição do poder de compra da moeda constantemente emitida acima do crescimento econômico.
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