Artigo escrito a quatro mãos por Stanley Calderelli e equipe Area Bitcoin.

Pequena mentirinha, grande ilusão

Quando ouvimos inflação (e deflação), popularmente, alguém se refere à variação de preços ao consumidor. Apesar dessa ideia ser difundida assim, faz quase um século que ela é usada de forma alterada. Essa associação é uma forma dos governos se livrarem da culpa de terem inflado a moeda. Alta de preços é a consequência.

Originalmente, pelos Economistas da Escola Austríaca de pensamento econômico, o termo inflação se refere ao aumento da oferta monetária, organizada pelos economistas nos agregados M-zero M1, M2 etc… Essa corrente acadêmica se baseia nas forças naturais e recomenda evitar ao máximo qualquer intervenção estatal.

Segundo os seus pensadores, a inflação na economia é o aumento da quantidade de dinheiro circulante. E a alta de preços é a consequência gradual de quando isso é feito acima do crescimento econômico.

No entanto, a escola predominante de pensamento econômico é a de John Maynard Keynes, socialista inglês e defensor de intervenções estatais.

Isso ajuda a compreender porque ela é a corrente principal.

Cui bono?

Inflação pode ser bom ou ruim. Depende do lado que se está da moeda: se é para o controlador ou se é para o usuário, que é forçado.

Para quem emite e controla uma moeda, a inflação monetária funciona como um uma dívida que nunca precisa ser paga e que dá poder financeiro. Mas para quem é obrigado a usá-la, é uma maneira compulsória de sustentar o dono da moeda por meio da perda rápida ou lenta de valor que o usuário sofre.

Pela conotação relacionada aos preços, os keynesianistas e os iludidos repetem “um pouco de inflação é bom para o crescimento e para que o governo possa cuidar da economia”.

É uma daquelas pequenas mentiras que o mundo carrega por gerações.

Isso é mantido pelo sistema estatal, que obriga o meio acadêmico a ensinar as ideias de Keynes aos analistas econômicos, que vão mais tarde difundir essa ideia pela imprensa concessionária.

Para eles, manter uma pequena e constante alta de preços é bom. Mas quem entendeu como funciona o sistema fiduciário sabe que é ruim porque é isso que causa constante perda do poder de compra à toda população.

Mal necessário

Os argumentos pelo pensamento hegemônico de Economia sustentam um alerta para um medo infundado. Eles dizem que se os governos não buscassem induzir a um número pequeno e positivo de elevação de preços, e as pessoas percebessem quedas recorrentes, passariam a adiar os seus gastos e isso levaria a um encolhimento econômico perigoso.

Mas eles não contam que as necessidades básicas ignoram os dados econômicos. É normal escolhermos o melhor preço para comprar, mas algumas demandas que fazemos são incompatíveis com esperas planejadas.

Os gastos com alimentação, para a locomoção, para exercer trabalho, para manter a moradia são alguns exemplos de compras periodicamente urgentes que nunca param, seja com alta ou queda de preços.

Mau necessário, para quem?

Ao se aproveitar do Efeito Cantillon, governos, grandes empresas e bancos, por estarem perto da “impressora de dinheiro”, podem usar o dinheiro novo antes dele ter sido desvalorizado enquanto demora para permear toda a cadeia econômica.

Por isso, muitos governos não se importam com a desvalorização da moeda no mercado interno. Quem sofre com a perda de valor é quem está nos últimos estágios da economia. Como toda moeda estatal é baseada em dívidas, é relativamente bom para o país dono de uma moeda que ela se enfraqueça aos poucos. Afinal, é melhor dever um ativo que morre lentamente do que dever algo que terá vida longa. Quem paga são todos os que são obrigados a usar a moeda nacional no dia a dia.

E no mercado internacional, onde há várias moedas estatais concorrendo, é melhor para cada governo ter um estoque de alguma moeda melhor, para poder minimizar as perdas no comércio estrangeiro.

Bom demais para ser verdade

Sempre que os preços disparam, como foi no Brasil nos anos 1980, chegando a 100% ao ano, e na Argentina em 2021, com 102% ao ano, e em 1990, com cerca de 2800%, muitos defenderam que o governo deveria agir para resolver.

Isso é fruto da crença de que ele tem capacidade de conduzir a sociedade a uma situação melhor. Na prática, os governos conseguem alterar os rumos econômicos, mas não para uma situação necessariamente boa para todos. As consequências acabam sempre sendo piores para quem está do lado de cá da tribuna.

Aqui, durante a década de 1980, ao tentar conter o galope dos preços, e tentando não transparecer que estava controlando demais, o governo determinou que a negociação de salários era livre, mas, ao mesmo tempo, proibiu repasses do abono salarial aos preços. Isso criou um conflito entre os assalariados, querendo remuneração maior, e os empregadores querendo reajustar preços.

Parem as máquinas

Como o economista Roberto Campos (avô do presidente em 2019 do Banco Central do Brasil) explicava na década de 1990, se algo tivesse que ser congelado, deveria ser a impressora de dinheiro.

Porque, já que os governos incorporaram a inflação da moeda como um meio de sustento, não podiam mais esperar racionalmente que impor limite máximo de preços fosse conter a disparada de preços que é causada pela inflação da moeda, que o próprio governo faz. Apesar da deturpação que mencionamos no início, as consequências não mudam.

Remediar ou remediado está?

No mundo todo, em todas as tentativas de limitar preços, inicialmente os comerciantes respeitam a lei e não reajustam. Mas desde o primeiro momento, começam a sentir a perda de valor da moeda que ocorre muito mais rápido e é para todos – não só para os fregueses.

Como, no fim da cadeia econômica, a maioria das pessoas está do lado de fora do balcão, a aparência inicial é boa no começo. Mas, como sustentam os Economistas da Escola Austríaca, que se baseiam na realidade, apesar da ideia cultivada pelos adeptos do keynesianismo, a Economia está sujeita às leis naturais.

Campos também ressaltou que qualquer decisão deve ser tomada com responsabilidade fiscal e monetária, e não agir como se fosse possível vencer a natureza das forças mercadológicas.

Se há demanda, há oferta

Apesar dos comerciantes obedecerem às leis de congelamento, o prejuízo que amargam é uma força grande que os incentiva a se protegerem do colapso da moeda. Antes de chegarem aos seus limites econômicos, eles vão buscar alternativas. Uma delas é deixar de vender pelo modo permitido pelo estado para oferecer pelo livre mercado.

É por isso que ocorre desabastecimento de mercadorias após a limitação de preços. Mas o livre mercado se auto-regula. Nele o remédio contra preços altos são os preços altos. Isso sempre ocorre porque a demanda não pára, e porque sempre haverá alguém que vai se recuperar antes dos outros e conseguir baixar preços para conquistar o freguês que paga caro no concorrente.

Se algo continua a ser demandado, um outro meio de acesso, mesmo que seja menos conveniente, inclusive pelos preços, será buscado. Se ainda há demanda, quando há restrições, a mercadoria não desaparece, ela só muda de lugar. O rio sempre corre para o mar. O preço pago é a tradução do o quanto as pessoas querem e o quão difícil é obtê-las. As forças compradora e vendedora não ligam para determinações legislativas.

Na prática, o controle de preços é impossível. A resultante das intenções do mercado é o que dá o seu rumo. O que os governos conseguem é criar uma aparência de melhoria. Mas, como dizia outro economista, Thomas Sowell, “quando as pessoas desejam o impossível, somente os mentirosos podem satisfazê-las”.

A causa causada e a causa causante

Segundo Roberto Campos, o que deve ser feito é combater os motivos que levam o governo a provocar o aumento de preços ao terem praticado a inflação da moeda.

Os preços altos são apenas o resultado e nunca se resolve um problema atacando as suas consequências. É preciso cortar a raiz do problema. O que deve ser eliminado é a expansão monetária.

Lá nos anos 1990, um dos motivos de tanto dinheiro ter sido emitido foi atender à demanda de governos estaduais que queriam pagar dívidas. Outro fator negativo que usaram para “ativar a impressora” foi a política cambial de então. Por conta de restrições que fizeram à compra de moeda estrangeira, a moeda nacional se supervalorizou.

Com isso, as empresas exportadoras tiveram prejuízo, fecharam postos de trabalho e o desemprego explodiu. E pelo pensamento dos keynesianistas, o governo deve interferir quando inflação e desemprego estão ao mesmo tempo altos ou ao mesmo tempo baixos.

Realidade fiat falsa

Segundo o economista Saifedean Ammous, os keynesianistas mantêm a defesa de uma correlação infundada entre alta de preços e de desemprego ou queda de preços e desemprego. É semelhante à ideia falha de que queda de preços pode esfriar perigosamente a economia ou que índice muito alto de emprego superaquece o ambiente econômico fazendo os preços dispararem.

É por isso que os governos reforçam que deve haver “um pouquinho de inflação”. O motivo verdadeiro nós explicamos no artigo “Porque imprimir dinheiro gera inflação” em que sobre como o governo usa o Efeito Cantillon a seu favor às nossas custas.

Essas ideias são fortemente cultivadas graças à força do sistema que, desde o meio acadêmico, às empresas concessionárias de comunicação, há uma imposição de que devemos confiar em como o governo conduz a economia e em como os bancos tratam o dinheiro que deixamos neles.

Mas como a realidade das forças da natureza abrangem os fenômenos econômicos e não considera decretos, ameaças de punição e imposições legislativas, o resultado do que os governos fazem é sempre uma distorção do “sistema fiduciário” que é impositivo.

Fiduciário se refere a “fides”, que, em latim significa “fé”, e “fiat” é “faça-se!”, mas imposições estatais nunca vão superar as leis naturais.

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