Anos atrás, cientistas de economia comportamental, como Richard Thaler, ganharam o Prêmio Nobel por apontar comportamentos sem sentido, dos quais às vezes nem nos damos conta de que estamos fazendo.

Isso ocorre porque a maioria não consegue remover completamente as emoções ao decidir o que fazer com o próprio dinheiro. Entretanto, a boa notícia é que, depois que você percebe isso, torna-se muito mais fácil evitar repetir esses erros.

Apesar de Thaler estar no time de Warren Buffett, um cético em relação ao Bitcoin, o ser humano é o mesmo, e seus estudos sobre o comportamento humano em relação ao dinheiro podem ajudar você a não trazer para o Bitcoin as bobagens que pode estar fazendo com o seu dinheiro fiat.

Neste artigo, vou contar sobre as 5 maiores burrices que as pessoas cometem com o Bitcoin.

Espero que isso ajude!

1º Efeito de Dotação

A primeira burrice, talvez, você nem perceba que comete. Isso ocorre frequentemente com aqueles que chegam durante a alta do Bitcoin, descobrem a existência de milhares de outras criptomoedas e compram um pouco de cada quando estão com preços esticados, quase no topo.

Aí vem o bear market, e a pessoa continua segurando aquelas shitcoins porque acha que essas moedas são valiosíssimas e que, no próximo ciclo, irão valer muito mais do que pagou.

Isso tem um nome: efeito de dotação. É um viés psicológico que faz as pessoas atribuírem mais valor a algo do que realmente vale, muitas vezes apenas porque agora possuem esse ativo.

No entanto, os ciclos têm mostrado que, precificadas em Bitcoin, as shitcoins nunca mais alcançam novos recordes (ATH) em Bitcoin após o primeiro ciclo.

Entretanto, a pessoa continua segurando, acreditando que irão se valorizar novamente. Isso tem ocorrido com todas as altcoins: Bitcoin Cash, Litecoin, Ethereum, Polygon, entre outras.

São tantas que nem dá tempo de citar aqui, senão passaria horas só mencionando altcoins. Nenhuma delas teve um novo recorde em relação ao Bitcoin após seu primeiro ciclo. Mas, as pessoas se apaixonam por esses tokens de pump and dump, achando que são a coisa mais revolucionária do mundo, e perdem a chance de estudar e acumular Bitcoin.

Manter uma carteira de shitcoins é totalmente irracional, pois são projetos que não são descentralizados e que perdem valor em relação ao Bitcoin.

Muitas pessoas continuam segurando porque o efeito de dotação está relacionado à dor da perda. Dói muito mais se desfazer de algo no prejuízo do que o prazer de quando você comprou. Além disso, tem a ver também com aceitar que você estava errado com aquele “investimento” e que o que parecia promissor era, na verdade, uma baita tranqueira.

No entanto, segurar shitcoin não vai fazer com que você recupere o seu dinheiro. No fundo, você gastou para jogar em um cassino camuflado, achou que estava comprando um ativo valioso quando, na verdade, estava apostando sem perceber. Você pagou pela dopamina do jogo e não pelo valor que aquela altcoin realmente tem, que, na realidade, é zero.

2º Custos Irrecuperáveis

E aqui entra a segunda burrice que cometem com o Bitcoin, que é o apego aos custos irrecuperáveis.

Sabe quando você sente que já investiu muito para desistir? É isso. Você acaba insistindo no erro mesmo sabendo que ele vai te dar um prejuízo cada vez maior.

Insistir em uma shitcoin decadente só amplifica a perda e a dor. Aí a galera começa a ficar revoltada com os bitcoiners que avisaram, chamam de tóxico justamente quem estava alertando do problema.

O que tem por aí de “naneiro”, “b-casher”, “terra luner” e “shitcoiner” defendendo projeto morto não é brincadeira. Eles estão possuídos pela falácia dos custos irrecuperáveis! Já envolveram tanto o seu bolso e reputação que não conseguem mais se desvencilhar. Vão até o fim destruindo riqueza e reputação e trazendo outros para o buraco também, porque não souberam analisar de verdade quais propriedades são importantes e não perceberam que se casaram com um cubo de gelo.

Esse mesmo efeito também acontece com diversos defensores fiat, economistas e investidores experientes. Eles podem compreender muito bem de economia sob a ótica keynesiana e achar que essas mesmas regras se aplicam ao Bitcoin.

Porém, na verdade, as regras são opostas, é como comparar física newtoniana com física quântica. As leis são completamente diferentes, e se você tentar encaixar uma na outra, você será induzido ao erro por você mesmo.

Saber identificar essas diferenças é o segredo para conseguir transitar entre esses dois mundos e não cair em armadilhas psicológicas que você mesmo vai criar.

É por isso que, com o Bitcoin, é irrelevante se você é um economista fiat. Você precisa primeiro entender o significado de descentralização, um conceito até então inexistente no dinheiro e na economia.

Quem não compreender o que significa descentralização ficará patinando no mercado até aprender.

É uma burrice porque pode virar até um preconceito; a pessoa fica com a mente fechada para o Bitcoin e não aceita uma visão alternativa sobre economia, nem questiona o sistema de crenças que ela tem sobre o dinheiro.

A falácia dos custos irrecuperáveis faz com que faria limers e keynesianos fiquem profundamente amarrados no mindset fiat e não consigam expandir a sua visão de mundo porque já investiram tempo e reputação demais defendendo o fiat.

Dar o braço a torcer para o Bitcoin é um conflito interno muito grande.

Ressignificar o que aprendeu sobre economia através do Bitcoin vai acontecer de qualquer jeito. Seja por bem, revendo suas teorias, ou seja pelo crescimento do Bitcoin a ponto de ficar difícil de continuar atacando.

É o que aconteceu com Paul Krugman, ganhador do prêmio Nobel de economia, que ataca o Bitcoin desde 2013. O curioso é que ele já passou pelo mesmo processo quando atacou a internet em 98!

Uma frase de Paul Krugman atacando a internet

Conforme você pode ver na imagem acima, ele disse que o impacto da internet na economia não seria maior que o das máquinas de fax.

Errou feio, errou rude!

Esse é o exemplo perfeito de abobrinha que economistas fiat falam sobre novas tecnologias; eles podem estar errados em suas previsões de futuro ao seguir o viés inconsciente dos custos irrecuperáveis.

O Paul vem desde 2013 atacando o Bitcoin e errando. Ou seja, desde que o Bitcoin estava a menos de 100 dólares!

Ataques de Paul direcionados ao Bitcoin, ao longo dos anos.

Essa energia que ele gastou para atacar o Bitcoin poderia ter sido usada para comprar e obter muito mais retorno, assim como mais reputação como um visionário ao questionar a visão atual sobre a economia.

Mas não, ele repetiu o mesmo erro que teve com a internet.

Aqui no Brasil, temos os nossos própios Pauls Krugmans que também seguem mordendo a língua…

3º Atribuir Utilidade na Transação

A terceira burrice com o Bitcoin é atribuir utilidade na transação ou na compra. Esse erro está relacionado a associar prazer ou dor ao comprar ou vender Bitcoin. Esse é um equívoco clássico desde o início, pois faz com que você atribua valor de acordo com a emoção que sente ao realizar a operação.

Por exemplo, muitas pessoas consideravam o Bitcoin caro em 2011, quando chegou a 30 reais, e sentiram prazer ao vender.

O problema é que, ao desconhecerem as propriedades do Bitcoin, essa parcela subestimou o potencial de valorização e vendeu cedo demais.

Há inúmeros relatos de pessoas que celebraram a venda do Bitcoin a 30 dólares, e agora o prazer dessa venda precoce se transformou em arrependimento e dor.

Essa galera achava caro quando o BTC chegou a 100 reais em 2015, caro em 2017 quando atingiu 70 mil reais e continuam considerando caro agora que o preço está quase em 200 mil reais. Isso ocorre porque a maioria apenas olha para o preço, mas desconhece o propósito e o potencial do Bitcoin como um novo sistema financeiro que absorverá valor lentamente.

A dopamina da volatilidade de curto prazo faz com que as pessoas percam o foco, sintam prazer ou dor, façam trading e se deixem guiar pelas emoções, não pela racionalidade por trás do Bitcoin.

O Bitcoin opera em uma escala exponencial, e o ser humano tem dificuldade em pensar nessa escala, o que pode levar a confusões mentais. É por isso que tantas pessoas ficam viciadas em trading, devido à liberação de dopamina a curto prazo. Se você observar os movimentos em escala logarítmica, ficará claro a direção que o Bitcoin está tomando e o prazo que levará.

Por isso, muitas pessoas cometem o erro de deixar de comprar Bitcoin para investir em outras opções menos promissoras, porque não souberam avaliar o Bitcoin desde o início. Elas sentem prazer ao comprar altcoins achando que estão baratas e promissoras, mas experimentam dor ao segurar Bitcoin ao longo do bear market, quando deveriam estar acumulando.

Nada disso faz sentido.

Olhar para o Bitcoin apenas como um ativo especulativo, devido à sua volatilidade, é a maior falha de todas. Isso significa perder a oportunidade de construir riqueza geracional só porque se acredita saber o preço final do Bitcoin e que ele não subirá mais como no passado.

O jargão “lentamente e então de repente” está aí para mostrar que movimentos exponenciais ocorrem quando a maioria menos espera, e na realidade, ninguém sabe o preço final do Bitcoin, especialmente considerando a possibilidade de colapso infinito das moedas fiat.

Compreender essa relação inversamente proporcional é o primeiro passo.

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4º Contabilidade Mental

E aqui entra a quarta burrice que as pessoas cometem com o Bitcoin: fazer contabilidade mental, que ocorre quando você separa o dinheiro em categorias imaginárias em sua mente.

É uma mistura de neuroeconomia, na qual você começa a tratar o dinheiro de maneira diferente. Mesmo que 100 reais sejam iguais a outros 100 reais e 1 BTC seja igual a 1 BTC, dependendo do esforço que você teve que fazer para ganhar esse 1 BTC, você dá mais ou menos importância a ele.

Isso faz muito sentido, pois há muitas pessoas que ganharam Bitcoin em 2011 e perderam.

Eu mesma já dei satoshis para algumas amigas para acelerar o entendimento delas sobre o Bitcoin, e a maioria perdeu o acesso da carteira e as chaves, mesmo ensinando como fazer e mostrando tudo direitinho.

Ou seja, isso aconteceu porque eu dei Bitcoin de graça, na amizade, e elas não deram valor. É o jargão “tudo o que vem fácil, vai fácil“.

Agora, aquela pessoa que trabalha duro, economiza cada satoshi e cuida bem deles, dá muito mais valor porque se esforçou para conseguir acumular e guardar.

É por isso que 20% dos BTC estão perdidos. No início da rede, de 2009 até 2013, muitos nem sabiam o que tinham nas mãos e perderam as chaves privadas, deixaram na exchange ou foram hackeados.

A contabilidade mental está relacionada ao valor que você atribui, não ao valor real que a coisa tem.

Muitos ainda desdenham do Bitcoin hoje porque não enxergam valor nele. No entanto, a história tem provado que todos que desdenharam do Bitcoin voltaram com o rabo entre as pernas.

E olha que doidera… Isso aconteceu até mesmo com o próprio Michael Saylor. Quem diria!

Ele disse que os dias do Bitcoin estavam contados, que era questão de tempo até que o Bitcoin sofresse o mesmo destino que jogos de apostas online.

Tuíte de Michael Saylor

Isso foi em 2013, e olha como o Saylor estava errado. Agora ele está recuperando o atraso e sendo um dos CEOs que mais acredita no bitcoin.

A contabilidade mental também faz com que as pessoas não percebam que o dinheiro fiat é como um cubo de gelo que perde valor, enquanto o Bitcoin é justamente o oposto. É um dinheiro que ganha valor ao longo do tempo.

Há tanta resistência dentro do mindset fiat que consideram o dinheiro fiat mais seguro e valioso só porque é o dinheiro que conhecem. Quando, na verdade, é o dinheiro mais arriscado, pois com certeza vai continuar perdendo valor, enquanto o Bitcoin é considerado arriscado e perigoso devido à volatilidade, mas tem ganhado valor de forma constante.

É a contabilidade mental que não olha para a realidade, mas altera a percepção de valor não por dados e fatos, mas por uma percepção do que é mais familiar ou mais “seguro”.

É um comportamento irracional.

5º Excesso de Confiança

A quinta burrice relacionada ao Bitcoin é o excesso de confiança. Isso se manifesta em diversos aspectos, seja na hora de guardar as chaves sem tomar os cuidados necessários, deixar os fundos em exchanges ou até mesmo realizar um investimento total sem uma organização adequada, resultando na necessidade de vender Bitcoin com prejuízo em situações de emergência.

Dada a volatilidade do Bitcoin, é crucial organizar-se para suportar as oscilações, assumir as responsabilidades de ser o próprio banco e lidar com imprevistos da vida.

O excesso de confiança está associado à ingenuidade na hora de planejar o futuro e à subestimação das próprias habilidades de gestão.

O Bitcoin exige um alto nível de organização, baixa preferência temporal, visão de longo prazo e preparação para imprevistos no curto prazo.

Isso é especialmente relevante considerando que a hiperbitcoinização ainda não ocorreu, e o mundo continua precificando tudo em moedas fiduciárias. Saber navegar entre esses dois mundos em momentos de turbulência é fundamental para garantir uma boa administração dos satoshis acumulados.

Espero que você tenha gostado deste artigo e que não cometa nenhuma dessas burrices com o Bitcoin, hein?!

Até a próxima e opt out!

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Kaká Furlan

Fundadora da Area Bitcoin, um dos maiores projetos de educação de Bitcoin do mundo, publicitária, apaixonada por tecnologia e mão na massa full time. Já participou das principais conferências de Bitcoin como Adopting, Satsconf, Surfin Bitcoin e Bitcoin Conference.

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