Em outubro de 2008, o Bitcoin foi criado sob o pseudônimo de Satoshi Nakamoto, que posteriormente desapareceu e se tornou uma figura enigmática. A identidade de Satoshi permanece até hoje um dos maiores mistérios da nossa época. Entre várias teorias, surgiu Craig Wright, um cientista da computação australiano, que desde 2016 afirma ser Satoshi Nakamoto.
Questionado e criticado, Wright decidiu aprofundar sua história. Assim, a partir de 2019, parece ter adotado a estratégia de usar processos judiciais como sua principal ferramenta para defender sua reivindicação.
Iniciou diversos processos legais contra desenvolvedores responsáveis pelo código-fonte do Bitcoin e contra exchanges, como Coinbase e Kraken, alegando infração de direitos autorais.
Além disso, processou várias pessoas por difamação, visando aqueles que publicamente questionaram suas afirmações.
Por outro lado, bitcoiners e entidades de criptografia acusam Craig Wright de falsificar e adulterar documentos para fazê-los parecer legítimos, numa tentativa de provar ser Satoshi Nakamoto.
Portanto, embora afirme ser Satoshi Nakamoto, Craig Wright não apresentou, até hoje, provas concretas para sustentar sua afirmação. Isso levou várias pessoas a rotulá-lo como impostor e fraude, acusando-o de tentar enganar as pessoas com o objetivo de alcançar uma fama e notoriedade que não lhe pertencem.
Neste artigo, você conhecerá a história de Craig Wright, uma figura polêmica e controversa que frequentemente aparece nas notícias com novas histórias mal contadas sobre ser Satoshi Nakamoto.
Quem é Craig Steven Wright?
Craig Steven Wright, também conhecido como CSW ou Faketoshi (falso Satoshi), é um cientista da computação e empresário australiano que afirma ser Satoshi Nakamoto, o criador anônimo do Bitcoin.
Wright tornou públicas suas alegações de ser Nakamoto em 2016, mas sua afirmação foi recebida com ceticismo e não foi universalmente aceita.
Na época, Craig Wright revelou sua identidade a três organizações de mídia:
- BBC,
- Economist
- e GQ.
Durante o encontro com a BBC, Wright assinou mensagens digitalmente usando chaves criptográficas criadas nos primeiros dias do desenvolvimento do Bitcoin, que estão diretamente associadas a blocos de bitcoins conhecidos por terem sido minerados por Satoshi Nakamoto.
Contudo, especialistas em criptografia examinaram essas assinaturas e declararam que não era possível verificar sua autenticidade, o que acabou não comprovando sua reivindicação.
Além de suas alegações sobre a criação do Bitcoin, Craig Wright tem um histórico acadêmico e profissional em áreas relacionadas à segurança da informação, criptografia e tecnologia da informação, possuindo várias graduações e títulos avançados em disciplinas como ciência da computação, estatística e direito.
Porém, até o presente momento, a identidade de Satoshi Nakamoto permanece desconhecida, e as reivindicações de Wright são objeto de controvérsia, visto que ele não conseguiu provar ser Satoshi.
Enquanto isso, Craig parece concentrar-se em ser notícia e em confrontar aqueles que discordam dele.
Processos judiciais iniciados pro Craig Wright
Alguns processos judiciais iniciados por Craig foram suficientes para provocar a indignação da comunidade bitcoiner, como por exemplo:
1. Processo solicitando registros de direitos autorais
Uma das primeiras ações de Craig Wright foi registrar os direitos autorais do whitepaper original do Bitcoin e do código-fonte do Bitcoin junto ao órgão de direitos autorais dos Estados Unidos.
Esse gesto foi amplamente criticado, uma vez que o registro de direitos autorais não estabelece automaticamente a autoria de forma oficial.
Vários especialistas apontaram que tais registros possuem principalmente um caráter simbólico e não fornecem provas definitivas que sustentem a alegação de Wright de ser Satoshi Nakamoto.
Em 2021, os advogados de Craig Wright chegaram a enviar notificações legais para que dois sites removessem o whitepaper do Bitcoin: o Bitcoin.org e BitcoinCore.org, o que não aconteceu.
2. Processos contra críticos
Além do proceso solicitando registros de direitos autorais, Wright também processou pessoas que o acusaram de fraude.
Caso Peter McCormack
Em 2019, Craig Wright iniciou um processo contra Peter McCormack, apresentador do podcast “What Bitcoin Did“, acusando-o de difamação.
A ação judicial foi motivada após McCormack ter reiteradamente chamado Wright de fraude em um tweet, rejeitando suas afirmações de ser Satoshi Nakamoto, o criador do Bitcoin.
Assim, Craig Wright pediu uma indenização de £100.000 (cerca de $126.000) por danos.
Embora um tribunal no Reino Unido tenha reconhecido que as declarações de McCormack causaram “danos significativos” à reputação de Wright, Craig foi penalizado por apresentar “provas intencionalmente falsas” ao tribunal.
Como resultado, Craig Wright recebeu simbolicamente £1 como ‘danos nominais’ no processo de difamação.
Caso Adam Back
Outro caso notável envolveu Craig Wright, que processou por difamação Adam Back, CEO da Blockstream (sim, a mesma empresa que desenvolve a carteira Jade e da carteira Green).
Adam Back, criador do Hashcash nos anos 90 e co-fundador da Blockstream, expressou em 2019 que, “sob uma perspectiva tecnológica”, é evidente que Wright não é Satoshi.
Em um tweet de 10 de abril, Back acusou Wright de apresentar “evidências fraudulentas” e forjar documentos, sugerindo também que Craig poderia estar envolvido em irregularidades fiscais.
Além disso, em 12 de abril, Adam Back divulgou também via Twitter que Craig Wright havia desistido do seu processo por difamação contra ele. Back relatou que os advogados de Wright “não forneceram explicações sobre a retirada da ação por parte de Craig”.
O CEO da Blockstream também destacou que Craig Wright se comprometeu a cobrir todos os custos legais que Back teve, descrevendo essa decisão como incomum, já que normalmente “custos razoáveis” abrangem de 65% a 75% do total, segundo o padrão jurídico.
Adam Back estimou que Craig Wright provavelmente gastou mais de $25.000 com o processo.
Assim, após o acordo para desistir da ação, Back indicou que recebeu cerca de $8.400, valor que foi transferido para sua conta bancária já no próximo dia útil.
Caso Hodlonaut
Também em 2019, após o bitcoiner Hodlonaut ter publicado uma sequência de tweets chamando Craig Wright como “fraude” e “golpista”, apelidando-o de “Faketoshi”, Wright mobilizou seu time jurídico contra o educador.
Basicamente, ele exigiu a remoção dos tweets do Hodlonaut e um reconhecimento público de que ele era Satoshi Nakamoto.
Diante da negativa de Hodlonaut, Wright não só ofereceu uma recompensa para quem revelasse a identidade dele, mas também divulgou seus dados pessoais e iniciou um processo de difamação no Reino Unido.
Em resposta, Granath (Hodlonaut) ingressou com uma ação na Noruega, seu país de origem, solicitando que a justiça norueguesa reconhecesse que seus tweets estavam amparados pela liberdade de expressão e bloqueasse qualquer tentativa de Wright de processá-lo por danos referentes aos tweets.
O desfecho ocorreu em 2022, onde Granath venceu oficialmente o processo contra Craig Wright, que o acusava de difamação. Assim, Hodlonaut receberá 4 milhões de coroas norueguesas (cerca de R$ 2 milhões ) como indenização.
Além disso, o cientista australiano também foi responsabilizado pelas custas do processo.
3. Processo contra desenvolvedores do Bitcoin
Em 2016, Craig Wright entrou com uma ação judicial contra 13 programadores envolvidos no desenvolvimento do Bitcoin Core, bem como contra um conjunto de corporações, que inclui Blockstream, Coinbase e Block.
Wright alega que os desenvolvedores do Bitcoin infringiram seus direitos de propriedade intelectual ao implementar “alterações significativas” no sistema do Bitcoin sem buscar uma licença ou aprovação prévia.
De fato, ele busca obter uma sentença que proibiria os desenvolvedores de modificar o código do Bitcoin sem sua autorização, concedendo-lhe, assim, autoridade sobre o software principal utilizado para interagir com o sistema do Bitcoin.
Além disso, Wright reivindica a recuperação de aproximadamente 111.000 bitcoins, que ele alega ter perdido o acesso devido a um suposto ataque hacker em sua rede de computadores domésticos.
A demanda legal apresentada por Craig Wright solicita que os desenvolvedores criem e apliquem correções de software específicas, com o intuito de facilitar a recuperação dos bitcoins perdidos. Esta solicitação resultou em uma decisão por parte do judiciário, que reconheceu a complexidade e a importância do pedido, determinando que tal argumento necessita de uma análise detalhada em um julgamento completo.
Contra ataque
Do outro lado, um grupo de desenvolvedores do Bitcoin Core decidiu partir para o ataque e processar Craig Steven Wright.
Os desenvolvedores do Bitcoin, apontaram Wright como responsável por criar provas inautênticas, alterar e distorcer metadados, além de intencionalmente estender a duração do litígio.
Assim, o grupo moveu uma ação contra ele e sua empresa, chamada Tulip Trading (TTL), relativa à disputa pela propriedade de 111 mil BTC.
O grupo é representado no caso pela organização sem fins lucrativos Bitcoin Legal Defense.
O que é o Bitcoin Legal Defense?
O Bitcoin Legal Defense é uma iniciativa formada por Jack Dorsey, para oferecer suporte legal a desenvolvedores de Bitcoin que enfrentam processos judiciais e outras pressões legais devido ao seu envolvimento no desenvolvimento do Bitcoin.
Essa iniciativa foi lançada em resposta a uma série de ações judiciais e ameaças legais que começaram a atingir os desenvolvedores, potencialmente prejudicando o progresso e a inovação na comunidade de desenvolvimento de Bitcoin.
Um dos casos mais notáveis relacionados a essa iniciativa é o envolvimento de Craig Wright, que se autoproclama Satoshi Nakamoto, o criador do Bitcoin.
Como vimos ao longo deste artigo, Craig Steven Wright tem entrado com várias ações judiciais contra indivíduos e desenvolvedores, alegando violação de direitos autorais e outros motivos, o que gerou uma preocupação considerável sobre os efeitos potencialmente inibidores desses processos judiciais no desenvolvimento contínuo do Bitcoin.
O fundo de defesa legal tem como objetivo fornecer assistência jurídica e suporte financeiro a desenvolvedores que, de outra forma, podem não ter os recursos para se defender de ações judiciais caras e muitas vezes prolongadas.
Com a complexidade técnica e as implicações legais envolvidas no desenvolvimento do Bitcoin, a existência de um fundo dedicado a ajudar a proteger os desenvolvedores é vista como um passo positivo para assegurar a inovação contínua e a colaboração aberta dentro da comunidade.
A criação do Bitcoin Legal Defense ressalta a importância do desenvolvimento comunitário e do suporte mútuo em um ecossistema que valoriza a descentralização, a inovação aberta e a resistência contra pressões externas que podem tentar comprometer esses valores.
Como foi o processo dos desenvolvedores contra Craig Wright?
O julgamento dos desenvolvedores contra Craig Wright começou em 5 de fevereiro de 2024 e continuou até 14 de março de 2024.
Wright até chegou a propor um acordo para finalizar o caso antes do início do processo, mas a proposta foi rejeitada pelos desenvolvedores.
Nas audiências, os devs acusaram Wright de falsificar documentos, enquanto ele continuou afirmando ser o criador do Bitcoin.
Entretanto, no dia 14 de março de 2024, após uma longa disputa legal, o Supremo Tribunal de Justiça de Londres e o juiz do caso, James Mellor, bateu o verídito. Craig Steven Wright não é Satoshi Nakamoto, o pseudônimo do criador do Bitcoin.
Qual a importância dessa decisão para o Bitcoin?
Essa decisão é importante por duas razões:
- Impedir que Wright continue iniciando processos por difamação contra indivíduos que negam sua afirmação de ser Satoshi.
- Impedir que ele processe os desenvolvedores alegando violação de direitos autorais. Tentando inibir os devs do Bitcoin.
Enfim, como Craig Steven Wright irá encarar essa nova derrota? Será que ele desistirá de vez? Ou continuará a buscar outras batalhas jurídicas afim de provar ser Satoshi?
Por que Craig Wight não é Satoshi Nakamoto?
Como vimos ao longo deste artigo, Wright teve inúmeras oportunidades de provar que é Satoshi Nakamoto, mas nunca conseguiu provas concretas.
Assim, segue abaixo uma lista que reforça por que ele não é Satoshi:
- Não autenticou nenhuma mensagem em um endereço Bitcoin reconhecidamente associado a Satoshi de forma que sua autenticidade pudesse ser verificada publicamente.
- Não transferiu nenhum dos bitcoins que são atribuídos a Satoshi.
- Não acessou nenhum dos fóruns ou plataformas usados por Satoshi entre 2008 e 2010 usando senhas associadas a Satoshi para postar qualquer mensagem.
- Não utilizou nenhuma das chaves PGP conhecidas por pertencerem a Satoshi.
- Não utilizou nenhum dos endereços de e-mail vinculados a Satoshi.
- Não revelou nenhum conteúdo inédito de Satoshi que pudesse ser validado por qualquer um dos primeiros desenvolvedores do Bitcoin ou outras figuras proeminentes da comunidade inicial do Bitcoin.
- Não forneceu nenhum tipo de prova, seja física ou digital, que não tenha sido adulterada e que esteja relacionada a Satoshi.
- Não há correspondência estilométrica entre seus escritos e os do verdadeiro Satoshi.
- Foi flagrado em múltiplas ocasiões, dentro e fora do tribunal, mentindo e falsificando a história, não apenas em relação à sua autoafirmação como Satoshi.
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Conclusão
Para validar sua alegação de ser Satoshi Nakamoto, o verdadeiro criador do Bitcoin, Craig Steven Wright simplesmente teria que autenticar uma mensagem utilizando a chave privada do primeiro endereço de Bitcoin criado.
Porém, Wright já declarou em outra ocasião que danificou o disco rígido contendo essas chaves privadas.
Para explicar esta desculpa, Craig Steven Wright afirmou que “pisou no disco rígido” que continha as assinaturas necessárias para lhe dar acesso às chaves privadas de Satoshi, tornando “incrivelmente difícil” comprovar criptograficamente sua reivindicação de ser o criador do Bitcoin, uma afirmação que ele persiste em fazer, mas não conseguiu comprovar desde 2016.
Independentemente da veracidade dessa afirmação, o que resta agora é apenas a palavra de Craig Wright, que, na ausência de evidências concretas, não detém credibilidade alguma.
Espero que tenha gostado deste artigo e até a próxima!
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Fundadora da Area Bitcoin, um dos maiores projetos de educação de Bitcoin do mundo, publicitária, apaixonada por tecnologia e mão na massa full time. Já participou das principais conferências de Bitcoin como Adopting, Satsconf, Surfin Bitcoin e Bitcoin Conference.
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