Ao contrário dos sistemas financeiros tradicionais, onde os Bancos Centrais ou os governos exercem o controle, o Bitcoin opera em um modelo radicalmente diferente – a descentralização. Isso significa que nenhum indivíduo, empresa ou governo tem controle exclusivo sobre a rede.

Ainda assim, quando se fala de como o Bitcoin é de fato descentralizado, é normal os haters falarem:

  • “Ah, mas o bitcoin está na mão de 6 pools de mineradores”
  • ou então que o “os desenvolvedores do Bitcoin Core controlam o bitcoin”.

Será que essas acusações são verdadeiras? Quem realmente controla a rede Bitcoin?

A Descentralização do Bitcoin

A rede Bitcoin é um sistema distribuído globalmente, que consiste em muitos nós independentes operando sob um conjunto unificado de regras – o protocolo Bitcoin. Cada nó na rede Bitcoin mantém uma cópia do livro-razão blockchain, verifica transações e blocos independentemente, e só aceita aqueles que seguem as regras do protocolo.

Essa natureza descentralizada e distribuída torna o sistema extremamente resistente à censura ou à falha. Assim, mesmo que alguns nós sejam desativados, o sistema como um todo continuará a funcionar. E como todas as transações são verificadas por muitos nós independentes é quase impossível alterar seu histórico depois de consolidado.

Entenda também o que é Nostr!

O papel dos nodes

Os nodes são dispositivos que você pode rodar da sua própria casa e se conectar direto na rede.

Os desenvolvedores lutaram ao longo da história do Bitcoin para manter os blocos com tamanho limitado a 1MB para que justamente fosse leve e fácil rodar um node Bitcoin até no mais simples computador, um raspberry pi com um cartão de memória.

Nodes de Bitcoin

Hoje existem mais de 15 mil nodes identificáveis, mas essa não é a quantidade real de full nodes Bitcoin.

Um levantamento da rede feito pelo desenvolvedor Luke Dash Jr mostra que na verdade existem mais de 50 mil nodes Bitcoin e, por questões de privacidade, usam mecanismos como Tor para não serem detectados facilmente.

Nodes de Bitcoin não rastreáveis

O papel principal dos nodes é forçar as regras de consenso do protocolo, ou seja, mesmo que os mineradores se juntem em motim contra a rede bitcoin, os nodes tem o poder de não aceitar blocos malignos que não seguem as regras de consenso.

Portanto, os nós garantem que as regras sejam seguidas mesmo se os participantes se voltarem contra o protocolo. Isso força a honestidade da rede a seguir as regras com as quais todos concordaram inicialmente.

Isso é muito diferente do sistema financeiro que existe hoje. No sistema fiduciário, quem burla as regras é recompensado; portanto, o crime compensa. Os corretos são considerados burros e idiotas, pois não tiram proveito das falhas do sistema às custas dos outros.

No Bitcoin não existe jeitinho, é o oposto do sistema fiat!

O Bitcoin recompensa a honestidade e, portanto, qualquer tentativa de corromper o sistema não tem efeito. A rede simplesmente ignora essas tentativas e continua para o próximo bloco honesto.

Assim, o Bitcoin oferece às pessoas honestas uma oportunidade de recuperar sua voz em um mundo corrupto, onde não há confiança de que as pessoas farão o que é certo em vez do que é mais conveniente.

Os papel dos desenvolvedores do Bitcoin

Os desenvolvedores de Bitcoin também desempenham um papel importante. Eles mantêm e atualizam o software Bitcoin Core, propondo melhorias e correções de bugs.

Esse software é de código aberto (open source) e qualquer pessoa pode contribuir com sugestões de melhorias e atualizações. Tudo fica disponível no GitHub e se alguém quiser mesclar uma alteração que fez em seu próprio repositório, pode enviar uma solicitação pull.

Essas propostas são exaustivamente discutidas, pode demorar meses ou anos para uma atualização acontecer. Isso porque as mudanças só acontecem se houver consenso e certeza de que não vai trazer vulnerabilidades pro código.

Portanto, antes mesmo de mudanças serem aplicadas, ocorrem sinalizações dos participantes da rede de que estão de acordo com a mudança. A rede Bitcoin é um sistema de consenso, o que significa que as mudanças no protocolo precisam ser aceitas por praticamente todos os nós.

Atualização Taproot

Um exemplo disso foi a atualização Taproot, um soft fork que foi debatido durante 3 anos e só faltava o “ok” do mineradores.

Para isso foi feito um speedy trial, um mecanismo em que cada minerador sinalizou para a rede que estava de acordo com o soft fork e a rede só entendeu o “ok” dos mineradores quando 90% deles sinalizou positivo para a mudança.

Então, veja como não existe maioria, que é quando mais da metade concorda com uma mudança. No Bitcoin praticamente todo mundo tem que concordar para que algo seja modificado e não prejudique o consenso e a coordenação do protocolo.

Isso que dizer que qualquer mudança no Bitcoin não acontece de cima pra baixo, do dia pra noite, por líderes. É tudo feito de baixo pra cima, dos participantes para o código.

Portanto, ao contrário de muitos protocolos de altcoins, nos quais as mudanças no mecanismo de consenso são decididas de cima para baixo pelos desenvolvedores e líderes, no Bitcoin você fica sabendo de tudo desde o início. Isso evidencia a centralização do poder de decisão nos protocolos mencionados, nos quais as informações são divulgadas apenas quando saem nas notícias.

Blocksize Wars

Se você quiser entender melhor como é difícil mudar o Bitcoin, uma dica é ler o livro Blocksize Wars, que conta sobre como foi a guerra de narrativas quando pessoas queriam modificar o tamanho do bloco do Bitcoin entre 2015 e 2016 através de hard fork.

Essa tentativa de mudança brusca resultou em um hard fork, uma ramificação, que originou Bitcoin Cash.

The Blocksize War (Capa do Livro)

Bitcoin Cash

Hoje, o Bitcoin Cash está enfrentando dificuldades em termos de adoção, liquidez e valorização em comparação ao Bitcoin, do qual se originou por meio de um fork. Isso ocorreu principalmente devido à perda das propriedades de descentralização ao aumentar o tamanho do bloco e modificar os mecanismos de consenso em seu código.

Com blocos maiores, os computadores requerem mais espaço de memória, o que implica a necessidade de computadores mais potentes e dificulta que pessoas comuns executem nós na rede.

Bitcoin Cash valorização ao longo do tempo

Centralização e fragilidade

Muitos protocolos hoje dependem exclusivamente de data centers da Amazon e Google para armazenar os registros em blockchain e rotear transações. Isso é um fator centralizante e uma fragilidade, porque o protocolo acaba dependendo de intermediários, que podem ser pontos únicos de falhas e alvo de ataques.

Além disso, a maioria dos protocolos que não são o Bitcoin, hospedam seus registros em data centers do Google, Amazon, Microsoft e outros. Portanto, em situações de hacks ou pressões de censura governamental, esses data centers podem ser forçados a censurar transações ou usuários.

E esse é o jeito fiat de ser: sistemas excludentes, cheios de falhas e burocráticos.

Por isso que os nodes são tão importantes. Mesmo que, por ventura, alguém consiga mudar o código do Bitcoin, ainda é preciso fazer as pessoas rodarem essa atualização em seus computadores. As mudanças no código exigem uma compreensão profunda não só do protocolo, mas também das repercussões de hardware, de processamento, da teoria dos jogos e dos incentivos que movem a rede.

Se os nodes não concordarem com as atualizações, eles podem ignorar esse upgrade e rodar versões mais antigas sem prejudicar seu acesso a rede. Essa é uma grande diferença em relação a outros protocolos que mudam as regras e os nodes são obrigados a atualizar, senão são excluídos do consenso.

No Bitcoin até as versões mais antigas do software são compatíveis e podem participar.

O papel dos mineradores

Se por um lado os nodes verificam a rede, forçam o cumprimento das regras e dão soberania para transacionar com quem você quiser, por outro lado eles não tem poder na competição criptográfica, na mineração de cada bloco.

Quem faz isso são os mineradores!

Os mineradores desempenham um papel crucial na rede, são eles que validam novas transações e as registram na blockchain. Os mineradores competem para encontrar um enigma matemático complexo e, aquele que encontra primeiro, tem a chance de adicionar o próximo bloco à blockchain e receber a recompensa em Bitcoin.

Embora os mineradores tenham poder sobre qual transação eles escolhem incluir em um bloco, eles não podem violar as regras do protocolo Bitcoin. Assim, ee eles tentarem adicionar um bloco inválido à blockchain (por exemplo, um bloco que inclui uma transação inválida), outros nós na rede irão rejeitar esse bloco.

Os mineradores também são alvo de acusações de centralização. Até 2021 falavam que a mineração do Bitcoin era centralizada na China, mas com a proibição por lá esse FUD caiu por terra. Os mineradores foram para outros locais e isso não atrapalhou em nada a rede, os blocos continuaram sendo produzidos a cada 10 minutos como um reloginho.

Passado e desmascarado esse FUD da China controlar a mineração do Bitcoin, agora a nova moda é dizer que os pools de mineração são centralizados e que 6 pools são responsáveis pela maior parte do proof of work da rede bitcoin, como mostra a imagem abaixo.

Pools

O que é um pool de mineração?

Os mineradores se juntam em pools, ou seja piscinas de poder computacional, para serem mais eficientes. Isso quer dizer que eles ligam suas máquinas e juntam o poder computacional para ter mais chances de minerar o próximo bloco.

Assim, quanto maior o poder computacional, maior a probabilidade de encontrar a resposta criptografada de cada bloco e ratear os bitcoin recebido entre todos que participam do pool.

Aqui de novo fica a dica pra ler o livro Blocksize Wars de 2017, que mostra que os mineradores não controlam a rede Bitcoin.

Mesmo que os mineradores se unam em pools de mineração e tenham um poder computacional significativo, caso eles mudem as regras, os nós da rede não irão aceitar ou propagar blocos que violem o consenso estabelecido. Os mineradores que permanecerem honestos terão seus blocos propagados e serão recompensados adequadamente.

Isso quer dizer que se os mineradores minerarem blocos que fogem ao consenso, eles só terão gasto de poder computacional e de eletricidade, mas não receberão Bitcoin como recompensa. Ou seja, é contraproducente pros mineradores atacarem a rede.

Seria um tiro no pé! Mineradores são guardiões do Bitcoin, eles que empregam o poder computacional que protege a rede de ataques. Portanto, usar esse poder computacional para atacar a rede acabaria desvalorizando o próprio Bitcoin.

Além disso, está crescendo o movimento home mining, pessoas que fazem seu DCA minerando Bitcoin em casa, acumulando Bitcoin para o longo prazo através da conta de luz.

É um formato sem KYC e que ajuda a descentralizar a mineração do Bitcoin. Ah, e não duvide que no futuro breve teremos a possibilidade de minerá-los através do uso de eletrodomésticos.

É por isso que os mineradores não centralizam a rede Bitcoin. Eles dependem dos nodes aceitarem que o bloco minerado está dentro das regras de consenso e que será propagado na rede.

Mineradores não mandam na rede, eles servem à ela.

Afinal, quem controla o bitcoin?

Como mencionado anteriormente, a descentralização é um objetivo difícil de ser alcançado e é algo raro de se encontrar. Muitos protocolos se rotulam como descentralizados por mera estratégia de marketing, quando, na realidade, não o são.

Bitcoin é descentralizado porque ninguém controla a rede.

O poder é compartilhado entre nodes, mineradores e o código de programação que coordena os participantes, onde todos estão operando sob um conjunto unificado de regras. Portanto, ninguém tem controle exclusivo; em vez disso, a rede é mantida por um consenso distribuído. Qualquer pessoa pode rodar um node, rotear as próprias transações, auditar o blockchain e participar da rede sem depender de terceiros.

A descentralização orgânica do btc é algo irreplicável! Nenhum outro protocolo tem algo parecido.

Conclusão

O Bitcoin começou de forma pública, não em segredo, com tokens sendo distribuídos de forma inicial. Esse sistema descentralizado e o controle compartilhado são os elementos que tornam o Bitcoin uma inovação tão poderosa. Ele estabelece uma forma de dinheiro que é resistente à censura, aberta a todos e que não pode ser controlada por nenhum governo, banco ou indivíduo.

Ao contrário do que muitos afirmam, a descentralização não é uma utopia e ela não vem com o tempo, ela é resultado da união de diversos conceitos sendo usados de forma muito específica, em uma janela de possibilidade muito dificil de reproduzir.

O desparecimento de Satoshi é o ato final de descentralização na história do Bitcoin. Satoshi abriu mão do reconhecimento e de liderar um protocolo revolucionário, pois sabia que sua identidade poderia minar a descentralização do Bitcoin.

Bitcoin não tem líderes, não tem CEO, não tem equipe de marketing promovendo postagens nas redes socias, não tem metas, não tem roadmap e não tem Venture Capital financiando desde o primeiro dia. Muito pelo contrário, ele se provou resistente apesar de todos os ataques e generosamente o seu código é público para qualquer um copiar.

Satoshi fez isso porque sabia que a descentralização era irreplicável. É um acontecimento único na história!

Carol Souza

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Carol Souza

Uma das principais educadoras de Bitcoin no Brasil e fundadora da Area Bitcoin, uma das maiores escolas de Bitcoin do mundo. Ela já participou de seminários para desenvolvedores de Bitcoin e Lightning da Chaincode (NY) e é palestrante recorrente em conferências sobre Bitcoin ao redor do mundo, bem como Adopting Bitcoin, Satsconf, Bitcoin Atlantis, Surfin Bitcoin e mais.

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