Com a popularização das moedas digitais, surgiram as stablecoins, que, em português, significa “moedas estáveis“, ou seja, moedas projetadas para oferecer estabilidade de preço atrelada a ativos tradicionais. Entre elas, o Tether (USDT) se destaca como uma das mais conhecidas, criado com o objetivo de manter paridade com o dólar americano.
Mas, afinal, o que é o Tether? Como e por que ele foi desenvolvido? Quais são as finalidades e implicações de uma stablecoin como essa?
Neste artigo, exploraremos em detalhes a trajetória do Tether, desvendando suas origens e comparando-o ao Bitcoin.
Vamos lá?!
O que é Tether Dólar (USDT)?
O Tether, identficiado pelo símbolo USDT, é uma stablecoin lastreada no dólar americano. Seu valor é mantido em paridade com o dólar por meio de reservas em ativos.
Assim, por ser uma “stablecoin”, o Tether, ao contrário do Bitcoin, cujo valor pode variar bastante de minuto a minuto, tem seu preço atrelado a uma moeda fiat – no caso, o dólar americano. Ou seja, para cada USDT em circulação, teoricamente, há um dólar (ou equivalente em ativos) em reserva. Essa paridade serve para proporcionar uma estabilidade de preço à stablecoin.
Origem
O Tether surgiu em 6 de outubro de 2014, mas nem sempre teve esse nome.
No início, era chamado de Realcoin (um nome que, convenhamos, soa bem “shitcoin”, né?) e foi criado por três caras, fundadores da Tether Limited:
- Brock Pierce,
- Reeve Collin
- e Craig Sellers.
Além disso, a Tether Limited é controlada por uma das maiores exchanges do mundo, a Bitfinex.
Inicialmente, os tokens USDT eram emitidos na blockchain do Bitcoin por meio da plataforma Omni, mas, com o passar do tempo, passaram a circular em várias blockchains de shitcoins, como Tron, EOS, Solana e Ethereum.

Adoção de USDT
Nos últimos anos o uso de Tether cresceu absurdamente.
Só em 2024, a Tether teve um LUCRO de US$ 13 bilhões, com apenas 150 funcionários. Para ter uma ideia da magnitude disso, dê uma olhada nessa imagem que compara o lucro da Tether com outras grandes empresas, como Apple e Microsoft, em relação ao número de funcionários:

Além disso, o último relatório da Tether confirma que ela continua liderando o mercado de stablecoins. Em 2024, a empresa registrou um lucro de US$ 13 bilhões e emitiu US$ 45 bilhões em tokens.
A Tether também revelou que, em 31 de dezembro, atingiu um recorde de US$ 113 bilhões investidos em títulos do Tesouro dos EUA. Isso reforça sua posição como a emissora de stablecoins mais sólida e mais utilizada no mercado.
Todo esse crescimento rápido mostra que a demanda por stablecoins está aumentando e que as pessoas estão cada vez mais interessadas no USDT.
Por que o Tether (USDT) é tão usado?
Como o Tether é estável (1 USDT = 1 dólar, em teoria) e pode ser usado em várias redes, ele virou a escolha dos traders. Logo, quando o mercado está em queda, muitos optam por converter seus ativos para USDT a fim de preservar o valor.
Além disso, o USDT é aceito em diversas corretoras, facilitando a movimentação de dinheiro entre plataformas, especialmente para aqueles que realizam arbitragem (operações de compra e venda) entre exchanges.
Abaixo, explico mais detalhadamente quais são os usos mais comuns de Tether:
1. Proteção contra a volatilidade
Uma das principais finalidades do USDT é proteger os investidores e traders contra as flutuações bruscas de preço típicas do Bitcoin.
Imagine que você possui Bitcoin e, de repente, o mercado começa a cair. Assim, em vez de vender seus Bitcoins e convertê-los para uma moeda fiat (um processo que pode ser demorado e sujeito a taxas), você pode simplesmente convertê-los para USDT.
2. Facilitar negociações e transações
Outra vantagem do Tether é que ele simplifica as negociações em exchanges.
Muitas plataformas de troca de moedas digitais adotam o USDT como par de negociação para diversos ativos. Isso significa que, ao invés de ter que fazer várias conversões entre diferentes moedas, os traders podem utilizar o Tether como um “hub” estável, facilitando a compra e venda de outras moedas.
3. Transferência de valor internacional
No mundo globalizado de hoje, transferir dinheiro para outros países pode ser complicado e caro. No entanto, com o Tether, é possível enviar valores de forma rápida e econômica, sem depender de intermediários ou do sistema bancário tradicional.
Essa agilidade e baixo custo tornam o Tether uma opção atrativa para transferências internacionais, beneficiando tanto investidores quanto pessoas que precisam movimentar dinheiro de maneira prática.
Comprar Tether é o mesmo que comprar dólar?
Não, comprar Tether não é o mesmo que comprar dólar. O USDT apenas segue o valor do dólar, mas é um token centralizado, sujeito a variações, riscos regulatórios e à gestão da empresa emissora.
Portanto, mesmo que a ideia do Tether seja que 1 USDT sempre valha 1 dólar, na prática, esse valor pode variar um pouco. Além disso, ao comprar USDT, você adquire um token que “segue” o dólar, e não o próprio dólar de verdade.
Como já vimos, há também riscos regulatórios, além da possibilidade de a empresa ser mal gerenciada ou até mesmo falir (embora os dados da Tether indiquem que isso seria pouco provável), já que a emissão dos tokens é centralizada.
As polêmicas em torno da Tether!
Em 2019, a Tether admitiu que cada USDT estava lastreado em cerca de 0,75 dólar, o que deixou muita gente preocupa. Entretanto, depois, passaram a dizer que tinham 100% das reservas, mas sem detalhar sua composição.
Também surgiram boatos de que a empresa poderia estar emitindo tokens sem lastro e usando esses recursos para “inflar” o preço do Bitcoin.
O governo dos EUA investigou este caso, e, em 2021, a Tether e a exchange Bitfinex pagaram uma multa para encerrar a investigação.
Além disso, um relatório apontou que menos de 3% do valor do Tether estava realmente em dinheiro, reacendendo dúvidas sobre sua confiabilidade.
Apesar dessas polêmicas, o Tether não determina o preço do Bitcoin. O Bitcoin é negociado com várias moedas, e sua valorização decorre do aumento da demanda, já que seu fornecimento é limitado a 21 milhões de unidades.
Assim, embora seja a stablecoin principal e mais utilizada, o Tether é apenas uma entre várias disponíveis no mercado. Além disso, a capitalização de mercado do Bitcoin é muito maior que a do Tether.
Quais as diferenças entre Tether e Bitcoin?
O Bitcoin é mais que uma moeda digital, é um símbolo de descentralização, transparência e resistência à censura. Dentro dessa visão, o Tether levanta questões importantes. Por exemplo, enquanto o Bitcoin é programado para ser escasso e totalmente descentralizado, o Tether depende de reservas centralizadas para manter seu valor estável.
Além disso, o histórico do Tether não é isento de controvérsias. Houve diversos debates sobre se as reservas realmente cobrem 100% do valor emitido, e isso gerou uma nuvem de incerteza sobre a solidez do Tether como uma “âncora” estável.
Os bitcoiners defendem que a transparência é essencial para a confiança no sistema financeiro e, nesse sentido, o Tether é constantemente colocado sob o microscópio por sua falta de clareza em relação às reservas.
Para entender melhor o debate, é útil comparar o Bitcoin e o Tether em alguns pontos-chave:
- Descentralização: o Bitcoin é uma rede descentralizada, sem uma autoridade central no controle. Já o Tether é emitido e gerenciado por entidades centrais, como a Bitfinex, uma exchange, e a Tether Limited.
- Transparência: o código do Bitcoin é aberto (open source) e a rede é auditada de forma descentralizada pelos nodes. No caso do Tether, as informações sobre suas reservas não são totalmente claras.
- Volatilidade vs. estabilidade: o Bitcoin é conhecido pela sua volatilidade, já o Tether, por ser uma stablecoin, busca manter um valor estável, funcionando como um “dólar digital”.
- Filosofia e propósito: enquanto o Bitcoin foi criado para ser uma alternativa ao sistema financeiro tradicional, com foco em soberania individual e na descentralização, o Tether surgiu para ser uma moeda estável, pareada ao dólar (moeda fiat) e assim facilitar as transações dentro do ecossistema do mercado de moedas digitais.
Essa comparação mostra que o Bitcoin e o Tether atendem a propósitos diferentes. Enquanto o Bitcoin representa a verdadeira revolução financeira e tecnológica, um dinheiro que não depende de governos ou instituições financeiras, o Tether é a reprodução do sistema fiat no meio digital.
Stablecoin de dólar no Bitcoin
Em 30 de janeiro de 2025, a Tether anunciou no PlanB Forum em El Salvador, a integração do USDT diretamente ao Bitcoin, tanto na rede principal quanto na Lightning Network, uma rede que permite transações mais rápidas e baratas.
Essa mudança faz parte do esforço da Tether para apoiar o ecossistema do Bitcoin e incentivar a inovação.

Para isso, a Tether utilizará o protocolo Taproot Assets, desenvolvido pela Lightning Labs após a atualização Taproot do Bitcoin.
Esse protocolo permite que ativos, como o USDT, sejam transferidos de forma simples, sem impactar o funcionamento normal do Bitcoin. A Bitfinex também participará, emitindo e disponibilizando o USDT para os usuários.
Com essa integração, o USDT poderá se beneficiar da segurança e rapidez do Bitcoin, algo especialmente útil em regiões com acesso limitado ao dólar, como em partes da África e da América Latina.
Embora a mudança possa aumentar as taxas para alguns serviços e criar novos desafios, também abre caminho para pagamentos instantâneos e acessíveis em todo o mundo, reforçando o papel do Bitcoin como uma plataforma financeira global.
Considerações sobre o Tether
Apesar de reconhecer a utilidade do Tether para facilitar transações e ser uma opção para escapar da volatilidade do Bitcoin, não podemos ignorar as questões de centralização e falta de transparência que o cercam.
Para quem valoriza a descentralização e a soberania individual, essa stablecoin pode ser uma solução prática, mas está longe dos ideais do Bitcoin.
Espero que este artigo tenha deixado claro que seus usos têm objetivos distintos. Portanto, antes de utilizar o Tether, é essencial compreender suas diferenças em relação ao Bitcoin, os riscos envolvidos e, principalmente, não perder de vista a essência do que o Bitcoin representa: um sistema financeiro descentralizado, transparente e resistente à censura.
Até o próximo artigo e OPT OUT!
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Fundadora da Area Bitcoin, um dos maiores projetos de educação de Bitcoin do mundo, publicitária, apaixonada por tecnologia e mão na massa full time. Já participou das principais conferências de Bitcoin como Adopting, Satsconf, Surfin Bitcoin e Bitcoin Conference.

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