Desde o surgimento do Bitcoin, em 2008, ele tem sido associado a conceitos como liberdade financeira, privacidade, segurança e descentralização. Assim, com o Bitcoin, nasceu um sistema financeiro alternativo, no qual qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, pode realizar transações sem depender de bancos ou intermediários.

Todas essas características levantaram a ideia de que o Bitcoin seria completamente anônimo, especialmente porque, para usá-lo, não é necessário fornecer documentos, nomes ou qualquer tipo de identificação pessoal.

Porém, essa percepção não é tão simples quanto parece.

Apesar de o Bitcoin ser, de fato, uma ferramenta poderosa para aumentar a liberdade financeira, a forma como ele foi projetado não garante anonimato total, visto que todas as transações realizadas na rede são registradas em uma blockchain pública.

Assim, a privacidade no uso do Bitcoin depende mais de boas práticas e conhecimento técnico do que de uma garantia automática.

Bom, se você já se perguntou se o Bitcoin é realmente anônimo ou como proteger suas transações de olhares curiosos, este artigo é para você!

Como funciona a privacidade no Bitcoin? 

Para entender a privacidade no Bitcoin, precisamos compreender como os dados são armazenados na rede.

Basicamente, os dados do Bitcoin são as transações realizadas pelos usuários, armazenadas em uma rede distribuída e descentralizada: a blockchain.

Mas, o que é a blockchain?

A blockchain do Bitcoin é um livro-razão transparente e acessível, o que significa que qualquer pessoa pode acessar os dados da blockchain e verificar as informações contidas nela. Cada transação carrega uma série de informações, como endereço do remetente, do destinatário, o valor enviado, o tipo de carteira usada, o tipo de endereço e por aí vai.

No entanto, essas informações não incluem dados sensíveis do usuário, como nome, número de telefone, endereço ou número de documentos. Os usuários são representados por seus endereços públicos, ou chaves públicas, que consistem em sequências alfanuméricas.

Por essa razão, podemos afirmar que o Bitcoin não é totalmente anônimo, mas sim pseudônimo.

Qual a diferença entre anônimo e pseudônimo?

O anonimato significa que não há qualquer vínculo rastreável entre a identidade real de uma pessoa e suas ações. Já o pseudônimo implica a existência de um identificador, como um endereço de Bitcoin, que não revela diretamente a identidade de uma pessoa, mas pode ser rastreado e, eventualmente, conectado a um indivíduo.

Por essa razão, o Bitcoin não é totalmente anônimo, mas sim pseudônimo, já que as transações podem ser vinculadas a endereços públicos que, com análise adequada, podem levar à identificação de seus usuários.

O Bitcoin é pseudônimo, não anônimo

A forma como o Bitcoin foi projetado faz dele uma rede transparente. Como mencionado anteriormente, qualquer pessoa tem acesso e pode verificar os dados da blockchain. Portanto, cada transação na rede é registrada em um bloco, e todos os blocos estão conectados entre si, desde o bloco gênese até o mais recente.

Assim, alguém com o conhecimento e as ferramentas adequadas pode analisar o histórico de movimentações de um endereço e, em alguns casos, até vinculá-lo a um indivíduo ou organização.

Isso pode ser feito por meio da análise on-chain, ou seja, a análise de dados diretamente da blockchain. Por isso, entender essa característica é essencial para quem busca usar o Bitcoin com maior privacidade e segurança.

Sabendo disso, você pode estar se perguntando: se não é necessário fornecer dados pessoais para usar a rede Bitcoin, como é possível identificar de quem é uma transação?

Acontece que, mesmo que os endereços não estejam associados a um nome real, existem algumas maneiras de descobrir a quem eles pertencem, como, por exemplo:

  • Corretoras e KYC: quando você compra Bitcoin por meio de uma corretora centralizada (como Binance, Coinbase, Mercado Pago, Nubank, entre outras), geralmente é necessário passar pelo processo de Know Your Customer (KYC), no qual você fornece informações como identidade e comprovante de residência. Logo, se você tem Bitcoin comprado em plataformas centralizadas, seu endereço pode ser rastreado até chegar a sua identidade.
  • Uso impróprio de endereços: muitas pessoas reutilizam o mesmo endereço de Bitcoin várias vezes, o que facilita a identificação. O ideal é gerar um novo endereço para cada transação. Carteiras como Sparrow e as hardwares wallets fornecem novos endereços a cada transação, justamente para oferecer mais privacidade aos usuários.
  • Análise da blockchain: existem empresas e ferramentas especializadas em rastrear transações de Bitcoin por meio da análise on-chain. Portanto, plataformas como a Chainalysis são usadas por governos, agências de segurança e instituições financeiras para mapear as atividades na blockchain.

Como mencionei anteriormente, cada transação na rede Bitcoin é pública e pode ser analisada por agências ou especialistas em análise blockchain. Quando combinados com erros humanos ou informações adicionais (como endereços IP, mensagens ou conexões a exchanges centralizadas), esses dados podem sim revelar identidades de usuários.

É possível rastrear transações de bitcoin?

Sim, em alguns casos, transações de Bitcoin podem ser rastreadas, pois são registradas publicamente na blockchain e podem ser analisadas com ferramentas especializadas.

Existem diversas situações em que já foi possível rastrear transações de Bitcoin, especialmente quando envolviam moedas provenientes de corretoras centralizadas ou de usuários que utilizavam apenas um endereço.

Um dos casos mais emblemáticos de rastreamento foi o da Silk Road, um mercado que operava na Deep Web e permitia a compra de diversos itens com Bitcoin.

Embora o Silk Road tenha funcionado por anos, as transações realizadas na rede foram descobertas por investigadores do FBI. Utilizando ferramentas de análise de dados e rastreando os endereços envolvidos, as autoridades conseguiram identificar Ross Ulbricht, o criador do Silk Road, o que resultou na sua prisão em 2013.

Outro exemplo relevante foi o ataque ransomware ao Colonial Pipeline, uma empresa de oleodutos nos Estados Unidos, em 2021.

Neste caso, is hackers exigiram um resgate em Bitcoin, mas, posteriormente, o FBI conseguiu rastrear e recuperar parte dos fundos.

Além disso, existem também endereços de Bitcoin amplamente conhecidos, como os de Satoshi Nakamoto, o criador do Bitcoin, ou de figuras importantes como Hal Finney, um dos primeiros a adotar e contribuir para a tecnologia.

É possível identificar bitcoins que passaram por esses endereços famosos ou que estão ligados a momentos históricos marcantes da rede, como o bloco gênese (o primeiro bloco minerado), o primeiro halving (redução da recompensa por bloco), entre outros eventos significativos.

Isso só nos mostra que embora a rede Bitcoin não exija informações pessoais para transacionar, ela deixa rastros.

Como aumentar a privacidade com bitcoin?

Aqui vão algumas sugestões para aumentar a sua privacidade quando usar a rede Bitcoin:

O uso de redes de segunda camada, como Lightning Network e Liquid, pode aumentar a privacidade, pois as transações ocorrem off-chain (fora da blockchain principal).

  • Compre bitcoin sem KYC: Se você valoriza a privacidade, adquira Bitcoin em plataformas ou por meio de transações P2P que não exigem KYC.
  • Use sempre novos endereços: Reutilizar endereços é uma das maiores falhas de privacidade. Sempre gere um novo endereço para cada transação.
  • Redes secundárias: O uso de redes de segunda camada, como Lightning Network e Liquid, pode aumentar a privacidade, pois as transações ocorrem off-chain (fora da blockchain principal).
  • Mixers: Misturadores de Bitcoin, conhecidos como mixers, embaralham suas moedas com as de outros usuários, dificultando o rastreamento da origem dos fundos.
  • Tor ou VPNs: Ao acessar a rede Bitcoin por meio do Tor ou de VPNs, você oculta seu endereço IP, dificultando ainda mais a identificação.

Embora o uso de uma dessas ferramentas isoladamente não garanta anonimato total, de 100%, a combinação delas pode aumentar significativamente sua privacidade na rede.

Conclusão

Como vimos ao longo deste artigo, o Bitcoin não é verdadeiramente anônimo, mas sim pseudônimo. Isso significa que, embora você possa utilizá-lo sem fornecer informações pessoais ou passar por processos como o KYC (Conheça Seu Cliente), todas as transações realizadas na rede ficam registradas de forma pública na blockchain.

Essa transparência é uma característica fundamental do sistema, mas também permite que transações e endereços sejam rastreados por quem tiver as ferramentas certas.

Entretanto, para quem busca mais privacidade ao usar Bitcoin, é essencial adotar boas práticas, como evitar a reutilização de endereços e utilizar carteiras com recursos voltados para privacidade. No entanto, alcançar uma privacidade completa requer não apenas o uso dessas ferramentas, mas também disciplina e conhecimento para evitar erros que possam comprometer a segurança.

Se o anonimato total é algo indispensável para você, é importante estar ciente de que será necessário combinar estratégias, aprender sobre diferentes soluções e, muitas vezes, fazer um esforço adicional para proteger suas informações.

Espero que este artigo tenha ajudado a esclarecer se o Bitcoin é anônimo e tenha oferecido insights úteis sobre como utilizar a rede de forma ainda mais privada.

Até o próximo artigo e OPT OUT!

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Escrito por
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Carol Souza

Uma das principais educadoras de Bitcoin no Brasil e fundadora da Area Bitcoin, uma das maiores escolas de Bitcoin do mundo. Ela já participou de seminários para desenvolvedores de Bitcoin e Lightning da Chaincode (NY) e é palestrante recorrente em conferências sobre Bitcoin ao redor do mundo, bem como Adopting Bitcoin, Satsconf, Bitcoin Atlantis, Surfin Bitcoin e mais.

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