A renda fixa no Brasil, como CDB, Tesouro Direto e Letras de Crédito, tem superado o Ibovespa ao longo dos anos. Muitas pessoas adoram esses investimentos por acreditarem que podem evitar volatilidade e ainda obter bons rendimentos. No entanto, o que poucos sabem é que a volatilidade está sempre presente, e o que parece uma garantia de ganhos pode acabar se transformando em perdas constantes.

Neste artigo, vou te mostrar na prática como a renda fixa, até mesmo o IPCA + 5%, é, na verdade, uma “perda fixa“. Ou seja, você perde dinheiro, mas a sensação é de que está ganhando.

Além disso, analisaremos o desempenho do Bitcoin em relação à Renda Fixa, para que você possa tirar suas próprias conclusões em relação a qual investimento é o melhor.

O que é Renda Fixa?

Pois é, gente..vou ter que concordar com o Barsi desta vez: “não existe renda fixa, só perda fixa“. Embora ele não seja fã de Bitcoin, é um dos maiores investidores do Brasil, e nesse ponto está certo: a renda fixa perde poder de compra ao longo do tempo.

A renda fixa é uma classe de ativos em que a rentabilidade é, em parte, previsível. Isso significa que, ao comprar títulos públicos ou privados, você sabe aproximadamente o que vai receber de volta, já que os juros são definidos no momento da compra, e o emissor oferece um prêmio em cima disso para quem adquire os ativos.

O que são os títulos públicos?

Os títulos públicos são emitidos pelo governo e, no Brasil, são conhecidos como títulos do Tesouro Direto. No exterior, eles são chamados de bonds, treasuries ou bills, dependendo do prazo de vencimento.

E os títulos privados?

Os títulos privados incluem opções como Letras de Crédito Imobiliário, que financiam o setor de imóveis, e Letras de Crédito Agrícola, voltadas para o desenvolvimento da agricultura.

Além disso, há também as debêntures, que são dívidas de empresas, e os títulos emitidos por bancos, como os CDBs. Todos esses ativos oferecem rendimentos com base na taxa de juros do momento, acrescidos de um prêmio que reflete o risco da instituição emissora ou a urgência em levantar capital.

Em resumo, quando você compra títulos de renda fixa, está basicamente comprando a dívida de quem emitiu esses títulos. Assim, ao adquirir títulos do governo, por exemplo, você está financiando suas operações e, de certa forma, ajudando a aumentar a dívida pública.

Renda fixa no Brasil

No Brasil, a renda fixa é a queridinha de muitos investidores, e isso acontece porque, surpreendentemente, ela tem tido um desempenho melhor que o Ibovespa, especialmente quando se considera o título IPCA+. Isso é bem curioso, já que em outros países, a renda variável costuma superar a renda fixa.

Geralmente, a renda variável costuma superar a renda fixa pelo simples motivo: quanto maior o risco, maior deveria ser o prêmio. Mas, por aqui, a renda fixa tem superado os índices de ações no longo prazo.

Você pode ver isso na imagem abaixo:

Resultado IPCA em comparação com a Ibovespa em um período de 10 anos

Neste gráfico do Clube dos Poupadores, podemos ver que, desde agosto de 2013, o título IPCA + 5% superou o índice Ibovespa, que mede o desempenho das principais ações brasileiras.

Em um período de 10 anos, o IPCA + 5% rendeu 192,26%, superando todos os outros investimentos.

Logo atrás, o Tesouro Selic apresentou uma diferença pequena, de cerca de 3% em relação ao Ibovespa. Isso explica por que tantas pessoas preferem a renda fixa em vez de ações: ela oferece menos risco e dispensa o trabalho de tentar descobrir o valuation de empresas. Afinal, em 10 anos, os títulos atrelados à inflação tiveram uma performance maior que as ações, com muito menos esforço.

Entretanto, o que muita gente não percebe ao olhar esses dados é que, mesmo os títulos IPCA+, acabam perdendo para a inflação monetária.

Inflação de preços

A inflação de preços é o quanto os preços subiram na economia, geralmente medida pelo IPCA.

No entanto, o IPCA subestima a real perda de poder de compra, pois sua metodologia foi modificada ao longo dos anos, distorcendo os números para baixo. Assim, na prática, os preços aumentam mais do que o IPCA consegue captar, como o Barsi mencionou naquele vídeo.

Inclusive, já escrevi um artigo aqui no blog explicando os índices de inflação.

Enfim, a verdade é que o IPCA mede apenas o sintoma, não a causa, nem a verdadeira extensão da perda de poder de compra.

Por isso, qualquer ativo com rentabilidade atrelada ao IPCA vai sempre perder poder de compra, mesmo que reflita, de forma incompleta, o aumento dos preços.

A imagem abaixo demonstra essa realidade com detalhes:

Tabela comparativa entre o IPCA e o M2

Inflação monetária

Desde 2014, o IPCA, que mede a inflação de preços, tem ficado consistentemente abaixo do M2, que representa a oferta monetária — ou seja, o quanto o Banco Central está expandindo a quantidade de dinheiro em circulação. Em muitos anos, o crescimento do M2 foi quase o dobro do IPCA.

Mas o que isso realmente significa?

O M2 reflete o aumento da quantidade de reais em circulação, seja por impressão de dinheiro ou criação de unidades digitais. Esse crescimento da oferta monetária é chamado de “inflação monetária.

Quando o governo cria mais dinheiro, ele altera a relação entre oferta e demanda da própria moeda. Isso leva ao aumento dos preços, pois há mais dinheiro em circulação, mas a quantidade de bens e serviços permanece a mesma. Esse desequilíbrio faz com que o dinheiro perca valor.

Na prática, funciona assim:

Tudo que tem alta demanda e se torna mais escasso tende a se valorizar, enquanto o que tem oferta abundante e baixa demanda tende a se desvalorizar. O mesmo ocorre com o dinheiro. Quando o Banco Central imprime mais, ele aumenta a oferta de reais, mas a demanda por dinheiro não cresce na mesma proporção. Isso faz com que o poder de compra do real diminua, distorcendo também a maneira como medimos os preços.

O dinheiro, nesse sentido, é a régua com a qual precificamos produtos e serviços. Se essa régua está sempre mudando, a percepção dos preços também muda.

Por isso, quando o governo imprime mais dinheiro sem um aumento proporcional na produção de bens e serviços, os preços sobem. A economia não consegue produzir tão rápido quanto o governo consegue criar dinheiro para financiar suas despesas.

É por isso que o real perdeu 87% de seu poder de compra desde 1994, e foi esse mesmo fenômeno que causou as crises de hiperinflação e a extinção de várias moedas nos anos 80 e 90.

Como dizia Milton Friedman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia: “A inflação é sempre e em todo lugar um fenômeno monetário.”

Não são os consumidores, produtores ou sindicatos que causam a inflação, nem países estrangeiros ou importadores. O verdadeiro culpado é o governo, que imprime dinheiro descontroladamente para cobrir seus gastos.

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Renda fixa é uma perda fixa!

É por tudo isso que a renda fixa é, na verdade, uma “perda fixa”.

Nenhum ativo que se baseia na inflação de preços compensa a destruição de valor causada pela inflação monetária. Assim, quando os rendimentos são atrelados ao IPCA, que apenas mede o aumento dos preços, ignoram-se os impactos da expansão monetária, e o resultado é a perda constante de poder de compra.

Observe na imagem abaixo como o indicador amarelo, que representa o M2 do Brasil (a oferta monetária), subiu 201% entre agosto de 2013 e agosto de 2023.

No mesmo período de 10 anos, o título IPCA+, considerado o melhor ativo de renda fixa, teve uma valorização de 192%. Isso significa que a oferta de reais em circulação aumentou mais de três vezes em uma década, uma diferença de 10% em relação ao desempenho do IPCA+.

Essa diferença de 10% é crucial, pois mostra que, mesmo quem comprou o Tesouro IPCA+ — um título que deveria proteger o poder de compra — acabou perdendo para a inflação monetária.

O Banco Central expandiu a quantidade de reais mais rápido do que o IPCA pôde refletir. Assim, mesmo com um rendimento considerado bom, quem optou por esse título perdeu poder de compra, já que a inflação monetária do período foi 10% maior do que a medida oficial de preços.

Para efeito de comparação, se você tivesse escolhido comprar ouro em vez do Tesouro IPCA+, teria conseguido proteger melhor o seu poder de compra.

Na imagem abaixo, a linha roxa representa o ouro, que teve um desempenho capaz de superar a inflação monetária em 4% nesse mesmo período de 10 anos. Isso significa que, enquanto o Tesouro IPCA+ ficou atrás da inflação monetária, o ouro conseguiu acompanhar e até compensar o aumento da oferta monetária, preservando o poder de compra de forma mais eficaz que a renda fixa.

Desempenho do Ouro, comparado com o índice M2 e IPCA+

Em um período mais longo, de 25 anos, o mesmo fenômeno se repetiu, mas com uma diferença importante: nesse intervalo, quem teve o melhor desempenho foi o Tesouro Selic:

Tesouro Selic em um período de 25 anos

De 12/06/1998 a 12/06/2023, quem investiu no Tesouro Selic ou em títulos atrelados à Selic obteve um retorno impressionante de 2010%, enquanto o IPCA +5% rendeu 1435%.

Já o Ibovespa, com muito mais volatilidade, teve um retorno de 1135% no mesmo período. Isso significa que, em 25 anos, os investimentos atrelados à Selic superaram tanto os títulos IPCA+ quanto a renda variável, oferecendo um retorno mais estável e maior, sem a mesma exposição à volatilidade.

Entretanto, no mesmo período, de 12/06/1998 a 12/06/2023, o Banco Central aumentou a quantidade de reais em circulação em 2116%, conforme mostrado na linha amarela.

Resultado entre o M2 e o IPCA em um período de 26 anos

Enquanto isso, o IPCA, que mede a inflação oficial de preços, subiu apenas 354%, conforme mostrado na linha azul. Isso significa que, mesmo quem investiu em títulos atrelados à Selic, que tiveram um retorno nominal de 2010%, na realidade teve uma rentabilidade real negativa de 106% quando ajustada pela inflação monetária, ou seja, pelo aumento da oferta de dinheiro.

Em outras palavras, apesar do alto retorno nominal, quem investiu nesses títulos perdeu metade do seu poder de compra, já que a expansão da base monetária diluiu o valor do real muito mais rápido do que a inflação de preços foi capaz de capturar. Isso expõe a armadilha da “renda fixa”, que não consegue, na prática, proteger o investidor da verdadeira inflação monetária.

Isso significa que nenhuma classe de ativos no Brasil, seja renda fixa ou variável, conseguiu superar a inflação monetária. Todos tiveram rentabilidade real negativa, o que quer dizer que, mesmo com os ganhos aparentes, foi insuficiente para compensar o quanto o real foi diluído.

No final das contas, houve perda de poder de compra em qualquer cenário.

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Dolarizar portfólio é a solução?

Dito isso, sempre aparece aquele típico “faria limer“, ou economista do sistema tradicional, dizendo: “Ah, mas é por isso que é necessário diversificar e investir fora do Brasil, dolarizar uma parte do portfólio.”

Essa é uma recomendação comum entre os defensores de estratégias mais tradicionais, que sugerem a dolarização como solução para proteger o patrimônio da desvalorização do real.

Entretanto, ao analisar a imagem abaixo, você verá que, nos últimos 24 anos, a bolsa americana, representada pelo S&P 500 (linha vermelha), também não conseguiu superar a inflação monetária, representada pela linha amarela, que reflete o M2 (a oferta monetária) do Banco Central dos EUA.

Resultado do S&P500 em relação ao índice M2

Além disso, o cenário é ainda mais preocupante para os principais ETFs de renda fixa, representados pelas linhas verde e rosa, que nem sequer acompanharam a inflação de preços, mostrada na linha roxa.

Embora, para nós brasileiros, ativos em dólar possam oferecer proteção contra a perda de poder de compra do real, em relação à desvalorização do próprio dólar, eles não foram eficazes. A imagem também revela que a renda fixa americana não protegeu nem contra a inflação de preços, nem contra a inflação monetária. Isso mostra que a “perda fixa” também acontece nas terras do Tio Sam.

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Bitcoin é a solução para a perda do poder de compra?

A única maneira de se proteger da desvalorização e preservar o poder de compra é justamente não possuir ativos atrelados às “impressoras de gelo fiat“.

O que quero dizer com isso?

Os ativos de renda fixa têm sua rentabilidade definida pelas taxas de juros estabelecidas pelos bancos centrais. Essas taxas são ajustadas com base em métricas como o IPCA (ou equivalentes no exterior), o que significa que estão sempre atrasadas em relação à verdadeira perda de valor das moedas fiduciárias, pois não acompanham a expansão monetária promovida pelos bancos centrais.

Assim, mesmo comprando ativos no exterior, você ainda estará exposto às taxas de juros e políticas monetárias dos bancos centrais de outros países, enfrentando a mesma perda de poder de compra das moedas fiat.

Logo, a única forma verdadeira de se proteger é investir em ativos que não podem ser criados em maior quantidade, que são naturalmente escassos. Isso significa procurar alternativas com um suprimento limitado e que não possam ser manipuladas por políticas monetárias expansionistas.

Nessa categoria de proteção contra a destruição de valor, entram o Bitcoin e o ouro.

O ouro, embora relativamente escasso, tem novas jazidas sendo descobertas constantemente, e tecnologias como mineração oceânica e espacial podem aumentar a oferta no futuro.

Por outro lado, o Bitcoin é o único ativo que realmente protege contra essa perda de valor, pois é matematicamente escasso e descentralizado. Além disso, não há como criar mais unidades ou acelerar a emissão de bitcoins.

O Bitcoin é o único ativo na história com uma oferta limitada e imutável. Portanto, mesmo que a demanda cresça, a quantidade de bitcoins não pode ser aumentada, o que evita a diluição dos usuários.

É exatamente por isso que o Bitcoin tem superado todas as classes de ativos ao longo do tempo, pois ele oferece uma verdadeira proteção contra a diluição monetária, algo que nenhum outro ativo, nem mesmo o ouro, consegue garantir com a mesma segurança e previsibilidade.

Assim, o Bitcoin não só foi o melhor ativo da última década, como também superou tanto os índices de inflação de preços quanto a impressão de dinheiro representada pelo M2.

Bitcoin vs IPCA+

Para se ter uma ideia, desde 2014, enquanto a melhor classe de renda fixa no Brasil, o Tesouro IPCA+, valorizou 192%, o Bitcoin teve uma valorização impressionante de 24.000%, como mostrado na imagem à direita.

Essa valorização massiva do Bitcoin compensou completamente a perda de valor do real.

A linha amarela, representando o M2, fica achatada no gráfico quando comparada ao desempenho do Bitcoin nesse período. Isso deixa claro que o Bitcoin foi o único ativo capaz de não só proteger contra a inflação monetária, mas também gerar retornos muito superiores a qualquer outra classe de ativos.

Em apenas 15 anos de existência, o Bitcoin já valorizou mais de 26 bilhões por cento em reais, como mostrado abaixo no box vermelho à direita.

Gráfico que mostra a valorização do Bitcoin no período de 15 anos

Esse crescimento extraordinário não só destaca o poder transformador do Bitcoin, mas também está mudando a história e a economia de forma profunda.

O gráfico ilustra como o Bitcoin, em tão pouco tempo, se tornou um ativo revolucionário, oferecendo retornos inimagináveis e estabelecendo uma nova forma de proteção contra a desvalorização das moedas fiduciárias. Além disso, essa valorização impressionante demonstra que o Bitcoin não é apenas uma alternativa, mas um verdadeiro divisor de águas no cenário econômico global.

Em apenas 10 anos, o Bitcoin fez 22 vezes o que o Tesouro IPCA conseguiu em 24 anos. Isso significa que o Bitcoin não apenas protege contra a diluição monetária causada pelo Banco Central, mas também proporciona uma valorização real e significativa, multiplicando o patrimônio de quem o acumula ao longo do tempo.

Além disso, o Bitcoin tem a maior assimetria do mercado e continua a superar todos os ativos tradicionais porque não depende de bancos centrais controlando juros ou tentando “administrar a inflação” — algo que historicamente nunca funcionou de forma consistente. Sempre que parece estar sob controle, a inflação volta a escapar, porque os bancos centrais continuam a imprimir mais dinheiro.

O Bitcoin é o primeiro dinheiro na história que impede a inflação monetária descontrolada, já que sua emissão é limitada e ninguém pode simplesmente imprimir mais unidades. Essa característica o diferencia profundamente das moedas fiat, oferecendo uma verdadeira proteção contra a destruição de valor.

Bitcoin ou renda fixa?

O Bitcoin oferece melhor proteção contra a perda de poder de compra. Assim, enquanto a renda fixa é corroída pela inflação monetária e pela expansão da oferta de dinheiro, o Bitcoin é matematicamente escasso, o que garante sua valorização ao longo do tempo.

Nas comparações vistas neste artigo, o Bitcoin superou amplamente a rentabilidade da renda fixa, oferecendo retornos significativamente maiores e proteção real contra a diluição monetária.

Leia também: Renda Passiva com Bitcoin

Conclusão

Como mostrei nesse artigo, na renda fixa a única certeza que você tem é que será diluído pelas impressoras de dinheiro, e o IPCA vai subestimar a realidade. Além disso, investir em renda fixa é, no fundo, um contrassenso: você está financiando o governo, justamente quem está imprimindo dinheiro e drenando o valor do real, prejudicando toda a população.

A verdade é que a “perda fixa” será sempre uma constante enquanto o dinheiro, que é o denominador usado para medir valor, continuar sendo diluído como um cubo de gelo, e as métricas de IPCA continuarem maquiando esse efeito.

Espero que você tenha gostado dessa análise, até o próximo artigo e opt out.

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Escrito por
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Carol Souza

Uma das principais educadoras de Bitcoin no Brasil e fundadora da Area Bitcoin, uma das maiores escolas de Bitcoin do mundo. Ela já participou de seminários para desenvolvedores de Bitcoin e Lightning da Chaincode (NY) e é palestrante recorrente em conferências sobre Bitcoin ao redor do mundo, bem como Adopting Bitcoin, Satsconf, Bitcoin Atlantis, Surfin Bitcoin e mais.

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