Guardar seus satoshis com segurança é fundamental, e hoje existem diversas carteiras que desempenham papéis diferentes, atendendo às diversas demandas dos usuários. Uma delas é a Phoenix Wallet.

A Phoenix é uma carteira lightning para celular, não custodial, que oferece uma série de ferramentas para usuários básicos e avançados.

Além disso, ela é uma das principais carteiras usadas hoje para pagamentos na Lightning. Recentemente, vimos que ela decidiu sair das lojas de aplicativos nos Estados Unidos, mas aqui no Brasil, ela continua funcionando normalmente.

Então, neste artigo, vamos explicar como a carteira Phoenix funciona e como você pode usá-la.

Vamos lá?!

A Lightning Network e gerenciamento de canais

Antes de entender como a Phoenix Wallet funciona, precisamos fazer uma breve análise de como funciona a Lightning e seu sistema de gerenciamento de canais.

A Lightning é uma rede de segunda camada do Bitcoin, projetada principalmente para operar com pagamentos de valores menores. Assim, quando a Lightning surgiu, em 2017, sua usabilidade ainda não era muito compreendida e, claro, muitas coisas foram melhorando ao longo do caminho.

Portanto, a Lightning Network é um protocolo de pagamentos off-chain, ou seja, opera de forma paralela à blockchain do Bitcoin e funciona por meio de nós e canais de pagamento que se conectam em todo o mundo. Isso significa que é uma rede que se conecta à blockchain, mas nem todas as transações são registradas na blockchain.

Para exemplificar, o Bitcoin é como um prédio onde todos os andares obrigatoriamente se conectam ao primeiro andar e à estrutura base: todo mundo que entra ou sai do prédio precisa passar pela portaria, pegar um elevador e ir para o andar desejado. Assim, as camadas acima precisam obrigatoriamente passar pela camada base para entrar ou sair do protocolo.

Como abrir um canal de Lightning?

Para abrir um canal de Lightning, duas pessoas precisam bloquear fundos, ou seja, bitcoins, em um endereço multisig. Esse tipo de endereço permite que duas ou mais pessoas assinem as transações na blockchain, funcionando como uma espécie de conta conjunta de Bitcoin que evita um único ponto de falha. Essa operação ocorre na camada 1, é como passar pela portaria de um prédio.

Esses bitcoins bloqueados na blockchain representam a capacidade máxima do canal. Por exemplo, se eu e você quisermos abrir um canal de pagamentos na rede Lightning, precisaremos depositar fundos em um endereço multisig.

Assim, dentro desse canal, podemos trocar valores, desde que não ultrapassem a quantia total que bloqueamos.

É como se os andares acima do prédio funcionassem como um bar e você tivesse uma comanda pré-paga; você pode solicitar o que desejar, desde que esteja dentro do valor máximo que você pagou.

Logo, quando desejar fechar a conta e encerrar a comanda, ou seja, fechar o canal de Lightning, é só passar no caixa, fechar a comanda e ir embora para casa. Em outras palavras, ao fechar o canal de Lightning, a transação é finalizada na blockchain. Esta transação será minerada e o saldo final será quitado.

Em resumo, as duas únicas transações que são registradas em blockchain são: a transação de abertura e a de fechamento do canal.

Como funciona o gerenciamento de canais?

Eu posso abrir um canal de Lightning com você, onde eu colocarei 2 bitcoins e você colocará 2 bitcoins. Assim, podemos enviar satoshis de forma instantânea, quase de graça, o tempo todo, desde que não ultrapassemos o valor total de 4 Bitcoins.

Qualquer pessoa pode abrir um canal de Lightning, basta aprender um pouquinho da parte técnica, rodar um nó e bloquear seus bitcoins nesse canal.

Entretanto, o fato é que não costuma ser muito barato abrir canais na Lightning, pois ambos precisam injetar liquidez no canal (capacidade), e uma parte dos satoshis fica bloqueada no canal (na prática, é um valor que você não pode gastar na sua carteira), e a outra parte é usada no canal.

Além disso, esses canais são abertos fora da blockchain do Bitcoin, sendo assim, diversas transações podem ser feitas usando um canal e no final ele pode ser fechado e transmitido como se fosse uma única transação na blockchain.

No entanto, fechar canais também é um pouco caro, pois para fechar e transmitir você vai precisar pagar as taxas da rede Bitcoin, que podem estar altas dependendo do momento.

Os canais possuem capacidades (liquidez); se a capacidade do seu canal atingir o limite, será preciso fechá-lo e criar outro canal. Todos esses passos parecem complexos para um usuário comum usar a Lightning, então a Phoenix surgiu justamente para minimizar essas complexidades para o usuário.

Qual a empresa por trás da carteira Phoenix?

A ACINQ é uma startup francesa sediada em Paris, dedicada ao desenvolvimento de produtos e serviços para o ecossistema Bitcoin.

Desde 2015, eles têm contribuído com a Lightning Network, utilizando uma base tecnológica chamada Eclair, que é uma implementação completa da Lightning para aqueles que desejam operar na rede, incluindo a capacidade de ter seu próprio node LN.

A ACINQ é reconhecida como a principal provedora de liquidez e operadora da Lightning, possuindo o maior nó da rede. Em 2017, eles lançaram o Eclair Mobile, uma carteira com suporte para Lightning, mas que ainda apresentava uma experiência de usuário bastante técnica.

Então, buscando oferecer a mesma experiência de uma carteira Bitcoin simples, eles começaram tudo do zero e criaram a Phoenix, por isso o nome, pois uma fênix renasce das cinzas.

Como surgiu a Phoenix Wallet?

A Phoenix surgiu em 12 de dezembro de 2019, em resposta à necessidade de proporcionar uma experiência mais amigável na Lightning Network. Assim, a Phoenix foi criada para oferecer uma interface simples e acessível aos usuários.

Phoenix Wallet

Características da carteira Phoenix

Quando a Phoenix surgiu com sua versão 1.0, foi caracterizada como uma carteira de 2ª geração, pois tinha uma experiência do usuário muito superior, quando comparada com a Eclair Mobile (primeira carteira da ACINQ).

Assim, dentre as características iniciais da carteira Phoenix, estavam:

  • Abertura de canal: a Phoenix cria automaticamente um canal dinamicamente se você não tiver liquidez de entrada suficiente para receber um pagamento.
  • Canais turbo: permite usar um canal Lightning assim que ele for criado, sem precisa esperar por confirmações de abertura do canal .
  • Backup de pares: antes para fazer um backup de Lightning, era preciso fazer backup de todos os canais; com a Phoenix, basta fazer o backup das 12 palavras da carteira e o seu dinheiro estará lá.
  • Reserva zero + AMP: isso permite que você gaste seu dinheiro como um único saldo, mesmo que internamente esteja distribuído por vários canais Lightning.
  • Troca entre redes: envie e receba transações on-chain perfeitamente, mesmo se você estiver usando a rede Lightning.
  • Pagamentos “trampolim”: a Phoenix encontra a rota de pagamento mais próxima para se conectar com o nó de outra carteira e realizar o pagamento, sem que seja necessário um nó direto entre remetente e destinatário.

Além disso, a Phoenix é uma carteira de auto custódia, ou seja, você que é o responsável pelo armazenamento das suas chaves privadas.

No entanto, para oferecer essas e outras facilidades, a Phoenix possui “trade-offs“.

O que são trade-offs?

Trade-offs são consequências, que nem sempre são perfeitas, em detrimento de alguma escolha feita. Por exemplo, um trade-off da Phoenix é que ela se conecta apenas aos nós da ACINQ e os dados de pagamento feitos nela (como valor e destino) são compartilhados entre esses nós.

Como é feito o backup na Phoenix?

Os backups em carteiras Bitcoin tradicionais são simples, pois basta ter acesso à chave privada. Porém, em carteiras Lightning, costumava ser um pouco complexo, pois os backups precisavam ser atualizados a cada transação feita.

Assim, do ponto de vista do protocolo da Lightning, realizar um backup desatualizado é considerado uma trapaça, e a contraparte do canal poderia ficar com todos os fundos de um canal aberto entre vocês.

Existem os backups estáticos, mas eles possuem dois problemas:

  • é necessário fazer um backup sempre que se abre um canal;
  • e, ao restaurar um canal, isso implica em fechar um canal anteriormente, o que pode ser caro e demorado.

Algumas carteiras Lightning oferecem backup por e-mail, usando o Google Drive. Nesse sistema de backup remoto, elas enviam uma versão criptografada dos dados do canal sempre que são atualizados.

A antiga carteira da ACINQ, Eclair, funcionava assim.

No entanto, o problema dessa solução é que ela requer um provedor externo. Sendo assim, a Phoenix funciona de maneira diferente, fazendo com que seus próprios pares sirvam como backup. Como os pares são apenas nós da ACINQ (pois só se conectam com outros pares deles mesmos), fica mais fácil controlar os backups.

Mas, a dúvida que fica é: esses pares realmente cooperarão comigo e me “devolverão” o acesso à minha carteira?

A resposta simples para isso é SIM, pois o próprio protocolo Lightning possui termos que incentivam o outro par a cooperar.

Como a própria provedora da carteira Phoenix, a ACINQ, mantém uma reserva diferente de zero nos canais, ela sempre tem algo a perder. Portanto, para recuperar seus fundos em um backup, as duas únicas opções que a carteira tem são fechar e reabrir canais, o que geraria um custo alto, ou ajudar você a recuperá-los facilmente.

Logo, a segunda opção é a mais viável.

Por isso, a carteira implementou uma forma de recuperação de fundos semelhante à das carteiras Bitcoin tradicionais. Assim, se algo acontecer com a sua carteira, como o roubo do seu celular ou a desinstalação do aplicativo, basta baixar o aplicativo novamente, inserir sua chave-semente (seed) e você terá recuperado seus fundos e seus canais já abertos anteriormente.

Entretanto, a principal “dificuldade” nos backups de carteiras Lightning está no gerenciamento de canais abertos com outros participantes da rede. Portanto, é preciso ter cuidado.

Phoenix 2.0

Depois do lançamento da primeira versão da Phoenix em 2019, eles desenvolveram uma segunda versão da carteira em 2023, chamada de carteira Lightning de terceira geração.

A nova versão mantém as vantagens da primeira, mas traz melhorias significativas.

Canais dinâmicos

A principal melhoria da Phoenix 2.0 está no gerenciamento de canais. Anteriormente, os usuários podiam manter vários canais, o que muitas vezes resultava na abertura frequente de novos canais. Isso se tornava problemático, pois eventualmente esses canais precisavam ser fechados, o que gerava custos elevados.

Para resolver isso, a Phoenix implementou uma tecnologia chamada splicing, que permite a criação de um único canal dinâmico. Isso simplifica o gerenciamento dos canais, permitindo que os usuários solicitem mais liquidez quando necessário, sem a necessidade de abrir novos canais.

Anteriormente, a criação de novos canais surpreendia os usuários, pois era cobrada uma taxa de 1% ou, no mínimo, 3.000 sats. No entanto, agora, a taxa é equivalente apenas ao custo da taxa de mineração da transação.

Caso seja necessário esse “ajuste” no canal, a Phoenix consegue prever com precisão quando um pagamento recebido via Lightning implicará em uma taxa de gerenciamento de canal. Portanto, uma notificação será exibida ao usuário com antecedência.

Veja:

Taxa de mineração de transação da Phoenix

Atomic Swaps

Além disso, eles também fizeram melhorias no processo de troca entre redes (enviar Bitcoin on-chain para satoshis na Lightning ou vice-versa), processo que podemos chamar de trocas atômicas.

Em alguns sites de trocas atômicas, isso pode ser complicado e pouco flexível para os usuários. No entanto, na Phoenix, eles automatizaram esse processo e adicionaram a possibilidade de o usuário escolher a taxa que irá pagar.

Ah, as taxas também sofreram mudanças com essa atualização da Phoenix.

Taxas na carteira Phoenix

A principal mudança com a nova atualização da Phoenix é que antes havia uma taxa de 1% sobre pagamentos recebidos, enquanto agora mudou para 0,4% sobre pagamentos efetuados na Lightning.

Segue abaixo a tabela completa de taxas:

Taxas Phoenix Wallet

Outras características da Phoenix 2.0

Além das mudanças e atualizações que já citamos, a Phoenix também possui outras funções, que não são comuns em outras carteiras lightning, como:

  • Versão testnet (apenas para Android): Essa versão utiliza moedas de teste que não possuem valor real e são destinadas apenas para fins de teste.
  • Sua carteira é um nó lightning: A Phoenix funciona como um nó Lightning real e independente que opera em seu dispositivo móvel. Não é necessário executar outro nó Lightning em casa ou na nuvem.
  • Ela possui suporte para a rede on-chain normalmente: Possibilita envios e recebimentos on-chain como uma carteira Bitcoin convencional.
  • Gerenciamento de liquidez de canais: Permite solicitar aumento de liquidez em seu canal e até mesmo abrir outros canais conforme necessário.

Como usar a Phoenix Wallet?

Começar a usar a Phoenix é bem fácil. Apesar de ter funcionalidades que permitem usuários mais técnicos se aventurarem, ela foi feita para que qualquer pessoa consiga usá-la.

Portanto, siga abaixo o passo a passo que preparamos para que você comece a usar essa carteira hoje mesmo!

O primeiro passo é baixar a carteira Phoenix. Assim, após uma breve explicação da carteira, essa tela aparecerá:

Tela inicial do app da Phoenix Wallet

Ao ver a tela acima, selecione “create new wallet” (se seu celular é iOS, o único idioma suportado é o Inglês, por enquanto).

Após ter sua carteira criada, essa será sua tela inicial:

Tela inicial da carteira Phoenix

Pronto! Agora que você já tem sua carteira criada, clique no ícone de engrenagem para ver as opções de configurações e vá até “recovery phrase” para fazer o backup da sua carteira:

Tela de todas as configurações disponíveis para a carteira Phoenix, incluindo a opção 'Recovery Phrase'

Após clicar em Recovery Phrase, a tela abaixo aparecerá.

Para visualizar sua frase-semente, clique em “display seed”, depois role a tela para baixo e faça o backup da carteira:

Tela de recovery phrase na Phoenix

Agora, para enviar ou receber satoshis na Phoenix, basta clicar em “receive” ou “send” na tela inicial (aquela primeira tela que vimos) e selecionar a opção lightning ou on-chain.

E se minha carteira desaparecer?

Uma preocupação muito grande por parte dos usuários que possuem carteiras quentes (no celular ou computador) é o que fazer se ela sumir ou a empresa mantenedora da carteira desaparecer.

Ainda mais agora, com governos sendo cada vez mais regulatórios quanto à privacidade (como o caso da Samourai Wallet), muitos se questionam o que pode acontecer com outras carteiras.

Nesse sentido, se algo acontecer com a Phoenix, seus fundos da carteira continuam lá, mas não será possível movimentá-los. Portanto, a solução para isso é fazer um fechamento forçado de canais, o que registrará os fundos na rede on-chain.

Para fazer isso, basta acessar em sua carteira: Configurações > Zona de perigo e clicar em “Forçar fechamento de canais”.

A Phoenix fechará unilateralmente os canais e, após um atraso de 720 blocos (~ 5 dias), os fundos serão transferidos de volta para a rede.

Após isso, a Phoenix recomenda que você baixe a carteira Electrum e recupere seus fundos lá (já que a Phoenix disponibiliza suas chaves privadas).

Para isso, basta seguir este passo a passo:

  1. Baixar Electrum.
  2. Crie uma nova carteira padrão.
  3. Selecione “Já tenho uma semente”.
  4. Digite suas 12 palavras, clique em Opções e marque “BIP39 seed”.
  5. Selecione “segwit nativo (p2wpkh)”.
  6. Espere os fundos aparecerem.

Polêmica com a saída dos EUA

Em 2024 vimos os fundadores da Samourai Wallet sendo detidos pelo governo americano e o site da carteira sendo banido. A carteira permitia que os usuários realizassem coinjoin de moedas para ter mais privacidade.

O coinjoin é basicamente uma ferramenta de mixagem de moedas, onde você faz uma transação para si mesmo, mas no meio da transação as moedas se misturam, dificultando o rastreamento dessa transação

Diante do escrutínio regulatório e das dificuldades enfrentadas por várias empresas focadas em privacidade para operar nos Estados Unidos, a Phoenix optou por retirar seu aplicativo das plataformas de aplicativos nos EUA.

Portanto, eles recomendaram que seus usuários fechassem seus canais e recuperassem seus fundos até 3 de maio de 2024, data em que o serviço foi descontinuado nos EUA.

Isso tudo só nos mostra que atualmente estamos enfrentando uma guerra à privacidade e precisamos estar bem atentos. No entanto, a carteira permanece funcionando normalmente no Brasil.

Conclusão

Agora que você já sabe como usar a carteira Phoenix e aproveitar todas as suas funcionalidades, viu como é fácil?

Como vimos ao longo deste artigo, uma carteira pode ser simples, mas ainda assim oferecer ferramentas que contribuem para nossa soberania individual.

No entanto, é importante destacar que não recomendamos armazenar grandes quantias em carteiras de celular, pois são como sua carteira de bolso que você carrega consigo.

Você não deixaria todas as suas economias nela, né?

Além disso, esteja ciente de que a pressão regulatória sobre plataformas e carteiras está aumentando, portanto, opte por uma opção na qual você saiba como recuperar seus fundos em caso de imprevistos.

Espero que este artigo tenha ajudado você a entender melhor sobre a Phoenix Wallet. Aprovieta e envie este artigo para um amigo, isso nos ajuda muito!

Até a próxima e opt out! 

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Escrito por
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Kaká Furlan

Fundadora da Area Bitcoin, um dos maiores projetos de educação de Bitcoin do mundo, publicitária, apaixonada por tecnologia e mão na massa full time. Já participou das principais conferências de Bitcoin como Adopting, Satsconf, Surfin Bitcoin e Bitcoin Conference.

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