O mito da descentralização

Descentralização não é um espectro como muitas pessoas acham. Pois não é algo gradual e as linhas são borradas para facilitar scams de afinidade.

Satoshi sabia desde o princípio que a descentralização era o ponto chave do bitcoin e o motivo pelo qual projetos anteriores de dinheiro digital não vingaram.

Se uma altcoin tem:
– líderes mudando as regras
– hard forks frequentes
– Investidores iniciais privados
– Consenso PoS + maioria dos tokens com insiders
– Arquitetura de rede dependente de datacenters…

É sinal de que sua altcoin favorita é na verdade uma empresa disfarçada de protocolo.

Não existe meia descentralização: ou é, ou não é. É como estar vivo ou morto, não existe meio termo. Qualquer nível de centralização já é um ponto de mutabilidade, falha ou monopólio . É por isso que todas as altcoins são centralizadas, possuem pelo menos um item da lista acima.

Descentralização não é como o espectro da luz visível, está mais para uma lâmpada acesa ou apagada! Necessita de todo um contexto físico, tecnológico e estrutural para funcionar.

A centralização é o que torna o dinheiro fiat diluível, inflacionário e com ciclos de mudança de hegemonia.

Altcoins simplesmente reintroduzem esse sistema hierárquico, mutável, monopolizável e com desvalorização contínua. O market cap histórico reflete isso. Todas as altcoins abaixo do Bitcoin trocaram de posição inúmeras vezes ao longo dos últimos 10 anos. Enquanto isso, Bitcoin segue na primeira posição, ganhando valor, assim como o ouro segue sendo o benchmark de comparação como reserva deas moedas fiats.

Métricas como coeficiente de nakamoto ou coeficiente de gini não medem descentralização porque são métricas apenas quantitativas.

O coeficiente de Nakamoto, por exemplo, representa o número de validadores que precisariam se unir para desacelerar com sucesso ou impedir que qualquer blockchain funcione corretamente. Mede, em teoria, a facilidade de fazer um ataque de 51%.

Independente do número e localização geográfica, se a maioria dos hardwares estiverem em datacenters e empresas que prestam serviço de servidor, a quantidade de nodes pouco importa. As empresas irão ser coagidas a seguir qualquer pressão regulatória. Isso o coeficiente não mede.

Outro ponto é que, por mais que os nodes estejam distribuídos, se a equipe ou fundação puder mudar o código a partir de decisões de cima pra baixo, de nada adianta!

Nenhum coeficiente consegue medir de forma assertiva a multifatorialidade da descentralização. Acontece de maneira muito específica, levando em consideração uma janela de possibilidades temporal difícil de reproduzir.
Medir um falso gradiente é inútil. É também incutir o pressuposto de que é algo fácil de replicar e é aí que surge o scam de afinidade.

Altcoins se apoiam na ilusão de que são mais úteis que Bitcoin e que “só” falta descentralizar. É o contrário! Só é útil se for de fato descentralizado!

Quem acha que protocolos irão descentralizar com o tempo está se iludindo. É como achar que políticos não serão corrompidos pelo meio. Empresas não viram protocolos descentralizados. Altcoins não tem como descentralizar pois os incentivos conduzem à centralização.
É um labirinto difícil de sair.

É por tudo isso que descentralização não é um espectro.

É binária e sem atenuações que dão margem para distorção de fundamentos, scam de afinidade e atraso no entendimento dessa nova propriedade antes inalcançada.
A descentralização é como o efeito observador da física quântica que colapsa a onda e altera o resultado do experimento.

Bitcoin descentralizou pq não havia meio mundo olhando pra ele. Foi orgânico, como a dispersão ondular.

Afinal Bitcoin não descentralizou gradualmente, ele descentralizou num rompante. Como uma explosão tecnológica, social e econômica que já está anos luz do resto.

Fim.

Artigo que compila a thread:

Escrito por

Carol Souza

Uma das principais educadoras de Bitcoin no Brasil e fundadora da Area Bitcoin, uma das maiores escolas de Bitcoin do mundo. Ela já participou de seminários para desenvolvedores de Bitcoin e Lightning da Chaincode (NY) e é palestrante recorrente em conferências sobre Bitcoin ao redor do mundo, bem como Adopting Bitcoin, Satsconf, Bitcoin Atlantis, Surfin Bitcoin e mais.