Desde a sua invenção em 2008, o Bitcoin tem provocado ondas de discussão, desde debates técnicos sobre a sua viabilidade até debates filosóficos sobre a natureza do dinheiro.
Originalmente criado como uma moeda descentralizada que poderia operar fora do sistema financeiro tradicional, o Bitcoin ganhou holofotes e aceitação em várias esferas.
Nos últimos anos, tem-se observado uma tendência intrigante: políticos de diferentes orientações ideológicas e de várias partes do mundo estão adotando o Bitcoin, tanto em suas campanhas quanto em suas plataformas de política econômica, bem como Javier Milei, JFK e De Santis.
Assim, este artigo busca entender as motivações por trás desse fenômeno, explorando os incentivos econômicos, aspirações ideológicas e estratégias políticas que estão levando esses líderes a adotar o Bitcoin.
Vamos lá?!
Javier Milei, Políticos da Argentina e o Bitcoin
Javier Milei é um candidato à presidência na Argentina. Possui um cabelo com personalidade forte, deseja acabar com o Banco Central e apoia o Bitcoin.
Será que Milei poderá se tornar o próximo presidente Bitcoiner? E, no final das contas, isso é benéfico ou prejudicial?
Milei é um economista argentino libertário que foi eleito para a Câmara dos Deputados em 2021, depois de construir sua reputação ao criticar políticos locais desde 2012.
Ele é uma figura polêmica e frequentemente viraliza nas redes sociais argentinas com seus discursos inflamados contra políticas monetárias tradicionais e intervencionismo econômico.
Além disso, ele é fortemente favorável a abolir os Bancos Centrais. Um exemplo disso é um vídeo em que ele tenta acertar uma piñata representando o Banco Central na televisão, durante as comemorações de seu aniversário.
O vídeo pode ser visto aqui:
Javier Milei possui um profundo entendimento das engrenagens do sistema fiat, incluindo a impressão de dinheiro e a manipulação realizada por meio da moeda.
Assim, ele utiliza a realidade da inflação e da crise na Argentina como combustível para inflamar seus discursos. No final das contas, essa abordagem baseada na realidade tem convencido muitos, e ele tem ganhado apoio entre os argentinos.
É por meio desse movimento anti-establishment que Milei surpreendeu ao obter 32% dos votos nas primárias das eleições de 2023.
Os argentinos não estão mais dispostos a viver em meio à crise e às políticas econômicas keynesianas, que têm apenas corroído o poder de compra do peso argentino.
Inflação Argentina
A Argentina enfrenta uma inflação de mais de 110% em um ano, e o peso perdeu 98% de seu valor em relação ao dólar nos últimos 12 anos.
A dolarização tem sido uma bandeira de Javier Milei, a ponto de as notícias sobre sua vitória nas primárias terem causado um declínio de quase 30% no valor do peso, resultando em um considerável aumento no preço do dólar na Argentina, como ilustrado pelo gráfico abaixo:
E o Bitcoin?
O Bitcoin também registrou um aumento de 25%, atingindo novas máximas históricas em relação ao peso argentino, mesmo em meio ao bear market mais severo já enfrentado:
Isso evidencia como o Bitcoin está efetivamente protegendo o povo argentino do colapso do peso e desmente o argumento de que “o Bitcoin não protege contra a inflação“.
De fato, o Bitcoin está atingindo suas máximas em economias altamente inflacionárias. No fim das contas, ele está cumprindo o propósito para o qual foi criado, ou seja, salvaguardar e proteger contra a desvalorização das moedas fiat locais.
Por outro lado, quem não está fazendo o seu trabalho, que é proteger a moeda e o poder de compra do peso, é o próprio Banco Central argentino.
Restrição ao acesso às outras moedas
O peso tem sofrido quedas significativas, e o governo argentino tem restringido o acesso da população a qualquer moeda ou ativo que possa oferecer proteção.
Em 2019, foi estabelecido um limite de compra de 200 dólares por mês, o que significa que quem desejasse adquirir dólares como forma de se proteger da inflação teria dificuldades ou seria levado a recorrer a meios ilegais.
Além disso, o Banco Central argentino proibiu os provedores de serviços de pagamento de realizarem transações envolvendo ativos digitais não autorizados em nome de seus clientes. Isso mostra como as autoridades argentinas estão dificultando a busca por alternativas que possam ajudar a população a preservar seu poder de compra.
Essa medida força aplicativos de compra e venda de Bitcoin na Argentina a remover “a compra de Bitcoin” das plataformas.
Será que Milei revogaria essas medidas se for eleito?
É dificil prever se Javier Milei revogaria essas medidas se fosse eleito.
Embora ele tenha expressado fortes opiniões contrárias aos Bancos Centrais e ao sistema monetário tradicional, a política é complexa e as ações de um político podem ser influenciadas por várias variáveis. É possível que, uma vez no poder, ele possa considerar aspectos pragmáticos, econômicos e políticos antes de tomar decisões concretas sobre tais medidas.
No entanto, a percepção de Milei sobre como os Bancos Centrais utilizam a impressão de dinheiro e a inflação como ferramentas deliberadas, e como o Bitcoin oferece uma alternativa, é notável. Seu entendimento das diferenças entre Bitcoin e moedas fiat é evidente em seus discursos e ações.
Ou seja, Milei está expondo todas as questões, compreende profundamente as diferenças entre o Bitcoin e as moedas fiat.
Entretanto, até que ponto esse apoio se estenderá? Afinal, ele também é um político e poderia estar utilizando essa narrativa para ganhar visibilidade global e vantagem nas urnas.
Será que ele vai mesmo acabar com os mecanismos que tanto critica?
O fato é que a Argentina enfrenta há décadas uma inflação explosiva e crises devido a medidas que a colocaram nessa posição.
A população busca alternativas para sair do ciclo de dívidas, calotes e empobrecimento.
Por um lado, é benéfico ter líderes que respaldam o Bitcoin e que têm servido como uma tábua de salvação para países, como a Argentina, que passam por crises inflacionárias.
Por outro lado, Milei é um político que pode mudar de opinião tão rapidamente quanto muda o estilo de seu cabelo. Portanto, confiar plenamente nele é um desafio, já que ele está imerso nessa estrutura política.
No entanto, considerando a crise que a Argentina atravessa, ter uma voz otimista em relação ao Bitcoin pode, no final das contas, despertar as pessoas para a solução que o Bitcoin é.
O que diz a oposição?
Para abafar esse “despertar”, os defensores das políticas monetárias tradicionais e a mídia de oposição estão descontentes com a vitória de “la peluca” (apelido de Javier Milei).
Muitos estão rotulando-o como um político de extrema direita. No entanto, de acordo com a Wikipedia, ele é, na verdade, um anarcocapitalista.
De qualquer maneira, a grande mídia, os principais políticos e os peronistas estão demonstrando aversão a Milei porque ele desafia padrões políticos atuais.
Atualmente, qualquer perspectiva contrária ao politicamente correto é tratada como radicalismo, resultando em uma histeria contra o pensamento divergente.
Entretanto, se você começar a prestar atenção, verá que cada vez mais políticos têm começado a introduzir o Bitcoin no debate e em suas campanhas.
Políticos dos Estados Unidos e o Bitcoin
Nos Estados Unidos, nas primárias atuais, já há três candidatos, tanto de direita quanto de esquerda, que estão incorporando o Bitcoin em suas campanhas: RFK, Vivek e De Santis.
Robert Kennedy Jr
Robert Kennedy Jr., também conhecido como RFK, divulgou suas intenções de se tornar o primeiro candidato presidencial dos EUA a aceitar doações em Bitcoin. Ele adicionalmente se comprometeu a isentar o Bitcoin de impostos sobre ganhos de capital, caso seja eleito, e propôs a ideia de apoiar os tesouros dos EUA com ouro, prata e Bitcoin, buscando uma base mais sólida para a moeda.
Vivek
Vivek, por sua vez, anunciou que seria o segundo candidato a aceitar doações em Bitcoin, demonstrando o aumento da aceitação dessa criptomoeda no cenário político.
De Santis
Já De Santis, posicionado mais à direita no espectro político, fez declarações sobre banir as CBDCs (Moedas Digitais de Bancos Centrais) na Flórida e adotar o Bitcoin. Esta postura reflete uma visão crítica sobre as moedas digitais emitidas por bancos centrais, enquanto abraça uma abordagem mais descentralizada por meio do Bitcoin.
Políticos do Canadá e o Bitcoin
No Canadá, políticos estão se engajando com o Bitcoin e incorporando-o em suas plataformas políticas. Esse movimento não passou despercebido, com Pierre Poilievre, candidato à presidência, proferindo um discurso enfatizando a necessidade de conceder às pessoas a liberdade de escolher outra forma de moeda.
Pierre Poilievre
Pierre Poilievre, candidato à presidência, proferiu um discurso enfatizando essa questão: “Precisamos conceder às pessoas a liberdade de escolher outra forma de moeda. Se o governo abusar do nosso dinheiro, devemos ter o direito de optar por uma moeda de qualidade superior”.
O interesse do político pelo Bitcoin reflete a crescente conscientização sobre os desafios e possíveis soluções relacionadas ao sistema financeiro convencional. Como muitos outros políticos em diferentes partes do mundo, Poilievre reconhece a importância de discutir e explorar as implicações do Bitcoin em suas plataformas, especialmente em um momento de crescente transformação digital e evolução financeira.
Políticos da Indonésia e o Bitcoin
Enquanto exploramos a relação em crescimento entre políticos da Indonésia e o Bitcoin, destaca-se a figura de Ridwan, um candidato que tem chamado a atenção por sua postura progressista em relação à criptomoeda.
Ridwan
Ridwan, candidato na indonésia, deu as boas-vindas aos mineradores de Bitcoin em seu país enquanto falava na Conferência Bitcoin Miami de 2023 e também disse que quer ”Tornar a Indonésia um paraíso do Bitcoin.’
Ridwan não apenas estendeu as boas-vindas aos mineradores de Bitcoin, mas também revelou uma ambição que reflete o crescente interesse na adoção e regulamentação da criptomoeda na Indonésia. Sua declaração sobre tornar o país um “paraíso do Bitcoin” indica o reconhecimento do potencial econômico e tecnológico que essa tecnologia inovadora pode trazer.
Isso sem mencionar El Salvador, que iniciou esse movimento sob a liderança de Bukele. Apesar das críticas da mídia, sua iniciativa reduziu a dependência do dólar, impulsionou o turismo e diminuiu a violência no país.
Os ventos estão mudando
A conclusão é que o Bitcoin não necessita da política para ser adotado, mas sim o contrário. São os políticos que necessitam do Bitcoin para manterem-se relevantes.
O Bitcoin altera a maneira como os governos lidam com suas políticas econômicas, tornando a economia mais justa.
Portanto, apostar contra ele é continuar a acreditar em mecanismos ultrapassados que perpetuam o roubo governamental por meio da inflação.
As pessoas anseiam por mudança, e o Bitcoin traz transformações que nenhum político consegue realizar sozinho.
Por isso, o Bitcoin não depende de políticos, mas os políticos dependem do Bitcoin se desejarem genuinamente contribuir para a melhoria do mundo, tanto local quanto globalmente.
Até a próxima e opt out.
Compartilhe em suas redes sociais:
Uma das principais educadoras de Bitcoin no Brasil e fundadora da Area Bitcoin, uma das maiores escolas de Bitcoin do mundo. Ela já participou de seminários para desenvolvedores de Bitcoin e Lightning da Chaincode (NY) e é palestrante recorrente em conferências sobre Bitcoin ao redor do mundo, bem como Adopting Bitcoin, Satsconf, Bitcoin Atlantis, Surfin Bitcoin e mais.
Curtiu esse artigo? Considere nos pagar um cafezinho para continuarmos escrevendo novos conteúdos! ☕