Aquele tiozão que sempre jurou que investir em imóveis era a melhor coisa do mundo talvez precise se atualizar. Por muitos anos, ele esteve certo ao afirmar que imóveis eram um excelente investimento. No entanto, os tempos estão mudando, e essa percepção também precisa mudar.

Neste artigo, vou explicar por que a maioria das pessoas não consegue mais comprar uma casa e como os aluguéis estão ficando cada vez mais caros.

Além disso, vamos explorar por que a estratégia de comprar terrenos e construir várias casas para alugar se tornou uma febre e por que essa era pode estar com os dias contados.

Vamos discutir também como o setor imobiliário pode se reinventar com as mudanças que estão a caminho, especialmente em relação ao impacto do Bitcoin.

Investir em imóveis é uma prática comum em todo o mundo. Atualmente, cerca de 68% das reservas de valor globais estão em imóveis, totalizando aproximadamente 300 trilhões de dólares.

68% da reserva de valor está em imóveis

No entanto, com o cenário econômico em constante evolução, será que o setor imobiliário está preparado para as transformações que vêm pela frente?

A cultura de investir em imóveis

A cultura de investir em imóveis não surgiu por acaso; é fruto de uma distorção sistêmica que existe no dinheiro. Isso significa que uma casa deixou de ser apenas um lar, um abrigo para você e sua família, para se tornar um ativo financeiro, um investimento.

Já percebeu essa mudança?

Hoje em dia, quando você busca por uma casa, terreno ou apartamento, os anúncios raramente vendem a segurança, o bairro ou a qualidade da construção. Muitos anúncios já direcionam o imóvel como “ótimo para investir”.

Além disso, é comum ouvir do corretor a frase: “Se você comprar, depois pode revender por um valor mais alto do que pagou; é um ótimo investimento!

Isso não é curioso? Você procura uma casa para morar, mas o que lhe é vendido é um ativo, como se a valorização fosse garantida.

Isso não desvia totalmente do objetivo inicial?

A maioria das pessoas não consegue mais comprar uma casa e até mesmo os alugueis estão ficando cada vez mais caros no mundo todo. 

O gráfico abaixo revela que, globalmente, o preço das casas se desvinculou da renda. Em outras palavras, as casas estão ficando muito mais caras, enquanto os salários não acompanham esse aumento.

Assim, como resultado, muitas pessoas não conseguem mais arcar com a compra da casa própria ou mesmo financiar uma. Este é um efeito perverso do sistema financeiro atual. A promessa de valorização do setor imobiliário como um todo decorre da maneira como o sistema financeiro está organizado.

Gráfico que mostra os preços das casas e rendas das pessoas

Mas qual o motivo dos preços dos imóveis subirem tanto?

O preço dos imóveis tem subido por dois motivos principais:

  • o aumento da demanda por ativos escassos ao longo das décadas
  • e a desvalorização do dinheiro.

Além das compras de casas para moradia, investidores começaram a adquirir imóveis como uma forma de se proteger contra a perda do poder de compra do dinheiro. Isso aumenta a demanda por imóveis como ativos financeiros e não mais apenas como abrigos, afetando aqueles que buscam comprar imóveis para morar devido à elevação dos preços.

As pessoas sabem que os imóveis tendem a se valorizar ao longo do tempo simplesmente porque a inflação aumenta. Assim, compram imóveis antecipando essa valorização.

É por isso que aquele senhor que possui um terreno se gaba tanto, pois os imóveis tendem a valorizar no longo prazo por uma série de motivos:

  • Imóveis são bens tangíveis e relativamente escassos;
  • Podem gerar fluxo de caixa e renda com aluguéis;
  • Acompanham minimamente a inflação (e esse é o principal motivo).

Assim, a maioria dos imóveis valoriza não devido a questões locais, reformas, fluxo de caixa ou booms regionais, mas sim por causa da inflação e da consequente perda de poder de compra do dinheiro.

A inflação é geralmente medida por índices de preços ao consumidor, como o IPCA, que refletem o quanto os preços de produtos e serviços subiram em cada setor. No entanto, a elevação de preços é apenas um efeito secundário da diluição do valor do dinheiro ao longo do tempo.

É por isso que 100 reais hoje não compram o mesmo que no passado. Desde 1994, o real perdeu 87% do seu poder de compra, pois o Banco Central imprimiu 6.000% mais moedas nesse período.

Lei da oferta e demanda

Isso é um exemplo clássico da lei da oferta e demanda. Tudo que é escasso e muito procurado tende a subir de preço, enquanto o que é abundante e pouco demandado tende a ficar mais barato.

O mesmo princípio se aplica ao dinheiro e aos imóveis. Se o banco central imprime dinheiro sem limites, aumenta constantemente a oferta de dinheiro, fazendo com que ele se desvalorize continuamente.

Você nunca se perguntou por que tudo fica cada vez mais caro em vez de mais barato com o passar do tempo?

A resposta está no fato de que os Bancos Centrais continuam criando mais moeda. Isso faz com que tudo fique mais caro, incluindo os imóveis. Esse efeito ocorre no mundo inteiro.

Preço das casas nos EUA e Brasil

Na imagem abaixo, a linha azul mostra o preço das casas nos Estados Unidos ao longo do tempo. É possível observar que as casas ficaram cada vez mais caras dos anos 60 até agora:

Gráfico que mostra o aumento dos preços das casas (imóveis) nos EUA

Esse aumento fica ainda mais acentuado a partir 1971. O preço médio de uma casa nos EUA aumentou de, aproximadamente, $27.000 em 1971 para $492.000 em 2023, uma valorização de 1.700%, ou seja, 17 vezes em 50 anos:

Gráfico que mostra a crescente dos preços das casas (Imóveis) no Brasil

Nesse período, o Banco Central americano expandiu a base monetária, imprimindo 3.500% mais dólares. Isso fez com que tudo ficasse mais caro em dólares.

No Brasil, o mecanismo é o mesmo. 

A imagem abaixo mostra o preço das casas desde 1994, representado pela linha azul, que coincide com a implementação do Plano Real. Os preços subiram constantemente.

A linha cinza representa a quantidade de dinheiro que o Banco Central do Brasil imprimiu desde 1994, expandindo em mais de 6.000%, ou seja, aumentando mais de 60 vezes a quantidade de reais em circulação.

Os movimentos são espelhados: observe que quando o índice M2 sobe, como ocorreu em 2020, o preço das casas também sobe logo em seguida, criando um padrão de ondas muito semelhante na linha azul:

Relação entre os índices M2 e preços das casas no Brasil

Ou seja, quanto mais se imprime e desvaloriza a moeda, mais os imóveis, em média, se valorizam.

É por isso que o tiozão dos terrenos esteve certo por tanto tempo: governos e bancos centrais não vão parar de imprimir dinheiro.

Imóveis são escassos

Imóveis são relativamente escassos e difíceis de modificar.

Assim, enquanto um produto pode ter sua composição alterada para usar ingredientes mais baratos e, assim, reduzir o preço final, imóveis funcionam de maneira oposta. Portanto, mesmo que um imóvel fique abandonado, o valor do terreno tende a subir para acompanhar a inflação.

Quem possui ativos escassos, como imóveis, vê esses ativos se valorizarem, e é por isso que o setor imobiliário deixou de ser apenas uma demanda por moradia, segurança e abrigo para famílias. Ele se tornou um setor especulativo e uma forma de proteção de riqueza em meio a políticas monetárias predatórias.

É por isso que investir em imóveis se tornou tão popular no Brasil e no mundo. Imóveis, em geral, tendem a valorizar porque os governos não vão parar de imprimir dinheiro, diluir a moeda e, consequentemente, inflacionar os preços.

Dito isso, 68% da riqueza do mundo está em imóveis, e eles são responsáveis por 77% do crescimento do patrimônio líquido global, segundo um estudo da McKinsey. Logo, quem possui imóveis vê seu patrimônio multiplicar devido à inflação e ainda pode usar esses imóveis como garantia para obter mais empréstimos e comprar mais propriedades.

Estudo McKinsey sobre a riqueza do mundo está em imóveis

No entanto, isso pode não ser uma verdade absoluta por muito tempo.

Salários não acompanham à inflação

O ponto crucial é que os salários da maioria das pessoas não acompanham esse efeito. Os salários não são reajustados de acordo com a inflação dos preços e muito menos em relação à inflação monetária.

Essa outra imagem abaixo mostra, em rosa, a impressão de dinheiro, em azul, a inflação dos preços, e em laranja, a média dos salários no Brasil.

Como você pode ver, a média dos salários não acompanhou nem o aumento dos preços de produtos e serviços, nem a diluição do valor do real causada pelo Banco Central ao expandir a base monetária:

Média dos salários não acompanham a inflação

Isso prova que você empobrece constantemente se não se proteger da inflação, pois seu poder de compra é reduzido. Isso explica por que comprar uma casa, terreno ou apartamento tem se tornado cada vez mais difícil para a maioria das pessoas.

E não é só aqui no Brasil! Nos EUA acontece a mesma coisa.

Esta imagem (abaixo) mostra como as famílias não conseguem mais comprar casas, pois a renda necessária (em laranja) está muito acima da renda média das pessoas.

Curiosamente, os imóveis também não protegem 100% contra a inflação monetária:

Gráfico que mostram como os imóveis estão ficando cada vez menos acessíveis

Nos últimos 30 anos, o ouro, representado em roxo neon, foi o único ativo que acompanhou a inflação monetária nos Estados Unidos, indicada pela linha lilás mais clara.

Assim, como você pode ver, nem os imóveis, em média, mostrados em rosa choque, protegeram totalmente contra a perda de poder de compra da moeda, pois eles são corrigidos pelas métricas de inflação de preços e não pelo M2, que mede a inflação monetária:

Relação entre imóveis, inflação monetária, inflação de preços e ouro nos EUA

Aqui no Brasil, ocorre o mesmo fenômeno. Ativos mais escassos, como o ouro (representado pela linha laranja), têm um desempenho melhor do que a média dos imóveis (na linha amarela) e superam a inflação monetária medida pelo M2.

Relação entre imóveis, ouro e inflação monetária no Brasil.

Aqui está mais uma prova! Se você precificar imóveis em ouro, verá que, na média, eles perderam metade do valor, -52%, apenas nos últimos 10 anos.

Isso é brutal!

Imóveis também perdem poder de compra em relação a ativos mais escassos do que eles e é nesse ponto que o tiozinho do terreno vai precisar se atualizar.

Imóveis precificados em ouro

Valorização dos imóveis é uma ilusão do sistema fiat!

A verdade é que a valorização dos imóveis é uma ilusão do sistema fiat atual.

Sua casa pode parecer estar valorizando em reais, mas na realidade está perdendo valor constantemente quando medida contra um denominador mais escasso, como o ouro.

E como vimos, perceber isso é brutal, pois o ouro simplesmente existe, enquanto um imóvel requer uma enorme quantidade de manutenção, impostos (IPTU) e despesas diárias, tornando-o ineficiente como ativo. Além disso, essas despesas também aumentam devido à inflação.

Imóveis são totalmente ilíquidos. Ou seja, quando você quiser vender, pode levar meses ou até anos para encontrar um comprador. 

A armadilha da renda passiva em investimentos imobiliários

Mas aí vem o tiozão argumentando: “tudo bem, mas meus aluguéis compensam a inflação e, além da valorização, eu consigo uma renda passiva com meus imóveis!

Tudo bem, mas você tem certeza de que o aluguel está realmente compensando a desvalorização do seu imóvel? Você consegue manter o imóvel alugado o tempo todo? O aluguel acompanha a perda de valor do real?

Um ponto crítico da renda passiva com imóveis é que, quando a inflação sobe, fica mais difícil aumentar o valor do aluguel ou até mesmo manter o imóvel alugado. Afinal, se os salários não acompanham a inflação, mas o aluguel sim, isso significa que os locatários não conseguirão manter o aluguel se não conseguirem aumentar sua renda familiar.

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É exatamente por isso que os aluguéis deixaram de ser corrigidos pelo IGPM em 2021 e passaram a ser corrigidos pelo IPCA naquele ano.

O IGPM teve uma alta de 40%, e se os aluguéis fossem corrigidos nesse percentual, a maioria dos locatários não conseguiria suportar esse reajuste. Afinal, os salários não subiram 40%!

No fim das contas, o reajuste do aluguel foi desvinculado do IGPM e passou a ser corrigido pelo IPCA naquele ano.

Isso significa que o proprietário do imóvel não teve seu fluxo de caixa ajustado de acordo com a real desvalorização do dinheiro naquele ano, sendo obrigado a aceitar uma correção abaixo do que o indicador apontava.

Caso não aceitasse essa correção, corria o risco de o imóvel ser desocupado pelos locatários, que não conseguiriam arcar com um aumento de quase 40%, especialmente quando outros imóveis tinham uma correção menor.

Em outras palavras, mesmo com o imóvel alugado, não foi possível compensar a desvalorização do real, que de 2020 até 2021, durante o auge da pandemia, aumentou cerca de 39%, valor muito próximo ao indicado pelo IGPM no período.

Portanto, o IGPM não estava errado, mas apresentava uma verdade muito inconveniente. Assim, os inquilinos não conseguiriam suportar um reajuste que compensasse a inflação monetária praticada pelo Banco Central na época.

Gráfico M2 Brasil de 2020 até 2021

É por isso que alugar um imóvel não garante a preservação da sua riqueza!

Você pode enfrentar longos períodos com o imóvel vazio, e mesmo quando alugado, o valor recebido pode não compensar a desvalorização do real, os gastos de manutenção e as taxas envolvidas. Isso é especialmente verdadeiro em períodos de alta inflação.

Apesar de serem tangíveis e potencialmente geradores de fluxo de caixa regular, os imóveis estão sujeitos a mudanças regulatórias, indexações abaixo da inflação monetária e à degradação pelo uso.

A era dos imóveis como investimento acabou!

O setor imobiliário está começando a sentir os impactos das políticas monetárias anteriores. Se antes a impressão de dinheiro gerava liquidez, crédito barato e estimulava o setor, agora, em um cenário global de inflação e juros altos, o setor deve ser um dos mais afetados.

A era dos imóveis pode estar chegando ao fim, pois o crescimento do setor foi impulsionado por distorções no sistema financeiro e monetário.

Governos e bancos facilitaram o endividamento com financiamentos a juros artificialmente baixos, levando as pessoas a comprarem casas não apenas como moradia (um passivo), mas também como ativo financeiro. Por isso, os valores dos imóveis aumentaram, impulsionados tanto pela inflação quanto pela demanda como ativo financeiro.

Essa dinâmica criou bolhas imobiliárias ao redor do mundo, como a crise do subprime em 2008 e bolhas locais em diversas regiões, como no Japão.

No Japão, o envelhecimento da população, combinado com décadas de políticas de juros baixos, levou a uma má alocação de recursos, ao excesso de oferta de imóveis e à queda dos preços das casas. O Japão pode ser um indicador precoce do que pode ocorrer no setor imobiliário global.

Isso ocorre porque, se o principal apelo do setor imobiliário é proteger o poder de compra, a tendência macroeconômica global de inflação mais alta e taxas de juros elevadas prejudica esse setor de maneira significativa.

A inflação alta reduz o fluxo de caixa dos aluguéis (a renda passiva dos imóveis) e os juros altos diminuem a demanda por imóveis, já que o setor depende amplamente de financiamento e dívida a juros baixos. Com juros mais altos por um período prolongado, menos pessoas conseguem obter empréstimos imobiliários, reduzindo a demanda no setor e forçando a queda dos preços para compensar essa redução.

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O caso do Japão

Foi exatamente isso que aconteceu no Japão. Juros artificialmente baixos por um longo período, a pressão inflacionária atual, combinados com o envelhecimento e a redução da população, resultaram na queda dos preços dos imóveis.

A reportagem (abaixo) mostra como as taxas de juros mais altas no mundo todo já estão afetando o sonho da casa própria para muitas pessoas. Afinal, a maioria das pessoas não tem como comprovar renda para bancar uma casa que já é cara e, com um financiamento imobiliário, o valor pode chegar aos milhões.

Taxas de juros altas em todo mundo afetam a compra da casa própria

Resumindo: o crescimento do setor imobiliário nas últimas décadas foi um reflexo de políticas monetárias expansionistas e de excessivo intervencionismo. Os imóveis rapidamente assumiram o papel de proteção que as pessoas buscavam para preservar seu poder de compra. No entanto, os imóveis se tornaram inacessíveis para a maioria das pessoas devido ao encarecimento especulativo do setor.

Leia também: o que é o efeito cantillon?

A superioridade do Bitcoin sobre os imóveis

É nesse ponto que o tiozão do imóvel vai ter que se atualizar. É justamente por tudo isso que você leu até aqui, que o Bitcoin tende a absorver parte do valor do setor imobiliário. Afinal, o Bitcoin desbloqueia um novo cenário que até então não existia. Ele tende a absorver parte do valor que iria para imóveis porque muda o denominador.

O Bitcoin é escasso, previsível, imutável, transportável, durável e possui todas as propriedades monetárias do ouro, só que digitalmente. Bitcoin é um ouro digital.

Os imóveis tiveram um boom na demanda porque os bancos centrais eliminaram o lastro do dinheiro no ouro e destruíram o poder de compra de suas próprias moedas.

O Bitcoin não permite que ninguém, nem mesmo um banco central, consiga imprimir mais bitcoins. Não há também um banco central ou governo manipulando as taxas de juros arbitrariamente, imprimindo dinheiro e, assim, manipulando a oferta e demanda na economia.

O Bitcoin é uma reserva de valor melhor que imóveis. Afinal, se a média dos imóveis no Brasil nem acompanha a inflação de preços, isso significa que estão se depreciando em valor e ainda gerando gastos com manutenção. O Bitcoin, além de não precisar de manutenção, tem superado tanto a inflação de preços quanto a inflação monetária, compensando a desvalorização da moeda.

Observe o gráfico abaixo.

O Bitcoin, representado pela linha laranja, foi o único ativo que superou o M2, a linha azul que representa a inflação monetária (a impressão de dinheiro no Brasil).

O índice FipeZap, que mede os preços dos imóveis, a bolsa de valores e a renda fixa não conseguiram superar nem a inflação de preços, representada pela linha vermelha, muito menos a linha azul, que indica a inflação monetária.

Além disso, depois do Bitcoin, o único ativo que conseguiu vencer a inflação de preços foi o ouro, representado pela linha amarela. No entanto, mesmo o ouro não superou a inflação monetária brasileira.

Resultado do Bitcoin em comparação à outros ativos como Imóveis, Ouro, Inflação monetária

Ou seja, qualquer ativo vinculado à economia brasileira perdeu poder de compra nos últimos quatro anos porque o real foi diluído muito mais rápido do que qualquer ativo conseguiu valorizar.

Assim, mesmo se você comprasse um imóvel, ações ou renda fixa, na média, teria empobrecido. Apenas o Bitcoin protegeu contra a impressão de dinheiro pelo Banco Central.

Valorização do Bitcoin

É por isso que o Bitcoin tem se valorizado ao longo do tempo. Ele está se transformando em uma reserva de valor global, e o setor imobiliário está enfrentando a concorrência direta do Bitcoin por liquidez.

O Bitcoin é uma reserva digital de valor quase perfeita, só não é perfeita porque ainda é muito volátil. Mas, com a adoção, tende a oscilar cada vez menos. Portanto, o setor imobiliário não pode competir com o Bitcoin como reserva de valor porque não é fungível, não tem uma oferta matematicamente escassa, é menos líquido, são praticamente impossíveis de movimentar e podem ser confiscados muito mais facilmente do que o Bitcoin.

O analista de Bitcoin, Rapha Zagury (também conhecido como Alpha Zeta), descobriu que o índice Case-Shiller, que monitora os preços das casas em 20 áreas metropolitanas dos EUA, aumentou apenas 2,3% em valor quando ajustado pela inflação média de 4,55%. Isso sem contabilizar impostos e custos de manutenção. 

Esta análise mostra como o Bitcoin cresce anualmente, em média, 59% desde 2014, enquanto os imóveis nos EUA, os mais valiosos do mundo, crescem, em média, 6% ao ano sem descontar a inflação:

Gráfico que mostra a valorização do Bitcoin e dos principais ativos do mundo desde 2014

Tudo isso mostra como o Bitcoin deve absorver parte da função dos imóveis como reserva de valor ao longo dos anos.

Já temos observado esse movimento: pessoas estão vendendo seus imóveis para comprar Bitcoin e proteger seu poder de compra. Afinal, quando você muda o denominador, percebe que ao escolher comprar um imóvel em vez de Bitcoin, está perdendo dinheiro.

Perda do valor dos imóveis em relação ao Bitcoin

Este outro gráfico mostra como, desde 2013, os imóveis no Brasil, em média, vêm perdendo valor em relação ao Bitcoin (-99,9%). Ou seja, embora pareça que sua casa está se valorizando em reais, em termos de Bitcoin, seu valor está constantemente diminuindo.

Perda do valor dos imóveis em relação ao Bitcoin (desde 2013)

Além disso, quem comprou um imóvel em vez de Bitcoin perdeu -60% em relação ao Bitcoin apenas de 2023 para cá.

Perda do valor de imóvel para quem comprou em 2023 ao invés de Bitcoin

Quem optar por comprar um imóvel em vez de Bitcoin verá seu poder de compra diminuir ano após ano.

Depois de entender isso, você pensará duas vezes antes de escolher um imóvel em vez de Bitcoin. A única exceção é se você compra uma casa pensando no conforto, no abrigo e no ganho emocional que terá naquele lugar com sua família.

Esse, para mim, é o único ponto a favor de comprar um imóvel: a utilidade original de ser um lar.

Bitcoin como reserva de valor

O ponto aqui é demonstrar que o Bitcoin é uma reserva de valor muito melhor do que qualquer ativo no setor imobiliário.

O Bitcoin tem dobrado de valor, em média, ao longo dos anos. Já os imóveis exigem muito mais dedicação, têm custos significativamente maiores e valorizam apenas de 10 a 15% ao ano, na média do setor.

Outro fator importante é que o Bitcoin protege contra algo que os imóveis não protegem: o confisco. Um imóvel pode ser facilmente confiscado com uma simples assinatura de um documento.

Recentemente, o governo espanhol demonstrou como isso pode ser feito de forma descarada. Ele vai expropriar imóveis à beira-mar e “permitir que os proprietários os usem” por 30 anos. Ou seja, acabou com o direito de propriedade de quem pagou por aqueles apartamentos.

Notícia no qual o governo pode expropriar apartamentos na praia

Bitcoin é uma propriedade superior a qualquer imóvel porque você tem soberania total sobre o seu Bitcoin, enquanto imóveis podem ser confiscados por inúmeros motivos, como guerras, dívidas ou decisões governamentais de expropriação, como no caso recente na Espanha.

Bitcoin não tem imposto sobre propriedade. Há tributação na venda, mas não no hodl (manter a moeda). Ao contrário do mercado imobiliário, que exige o pagamento anual de IPTU, o Bitcoin não incorre impostos sobre a propriedade.

Além disso, o Bitcoin não requer manutenção ou conservação. Não há telhados com vazamentos, eletrodomésticos quebrados ou problemas de encanamento para resolver. O Bitcoin também não tem custos extras de manutenção, nem inquilinos para administrar ou vagas de garagem para se preocupar. Não é necessário lidar com atrasos nos pagamentos, despejos ou danos materiais.

Embora o Bitcoin não gere renda (e essa é a principal crítica dos defensores do investimento imobiliário), como vimos antes, gerar renda não significa muito se não superar a inflação.

Além disso, a valorização do Bitcoin é muito maior do que a de qualquer ativo que prometa renda passiva. A volatilidade, embora assuste os rentistas, é o que fez o Bitcoin valorizar 6 bilhões por cento desde sua criação, sem retornar aos patamares iniciais.

Aprender a lidar com a volatilidade é o maior desafio para quem está acostumado com os movimentos mais lentos dos imóveis.

O Bitcoin é talvez a única verdadeira propriedade no mundo atual; tudo o mais pode ser tirado de você com uma canetada. O mercado imobiliário é um símbolo de estabilidade e segurança, mas bolhas imobiliárias, insegurança jurídica e políticas monetárias frouxas são ameaças ao setor das quais o Bitcoin está imune.

Considerações finais

Como vimos, Bitcoin desafia a posição dos imóveis como reserva de valor dominante no longo prazo. No entanto, o Bitcoin também pode beneficiar o setor imobiliário. Não é um inimigo, mas uma solução entre classes de ativos que irão coexistir e possivelmente prosperar juntos.

Se o Bitcoin traz de volta a condição de um dinheiro que preserva valor ao longo do tempo, ele preserva valor para todos os setores, inclusive o imobiliário. Isso deve atrair muita liquidez e potencialmente recalibrar a função de outros setores.

Em algum momento, os imóveis voltarão à sua função original de ser moradia, o que pode trazer um choque de liquidez para o setor, como está acontecendo no Japão atualmente.

Além disso, o Bitcoin pode ser usado como garantia para devolver a liquidez ao setor imobiliário quando a crise sistêmica do fiat se intensificar. O setor imobiliário não consegue competir com o Bitcoin na capacidade de armazenar valor e proteger contra a inflação. O Bitcoin oferece um futuro onde o valor é preservado não apenas em tijolos, mas em bits.

O Bitcoin é, de longe, a melhor escolha assimétrica neste momento da história.

Ainda é um ativo pequeno, mas com o potencial de atrair 10x, 100x mais valor nos próximos anos. O setor imobiliário, pelo contrário, enfrenta dificuldades, pois as pessoas não conseguem pagar o valor da casa própria agora e a liquidez criada pela impressão de dinheiro, que fez o mercado imobiliário crescer nas últimas décadas, é justamente o que está o sufocando.

Isso significa que os investidores de imóveis precisarão se atualizar, estudar e comprar Bitcoin se quiserem preservar seu poder de compra, como fizeram nas últimas décadas.

Talvez até aceitar receber aluguéis em Bitcoin. Por que não? Ou quem sabe empresas surgirão para aceitar Bitcoin como garantia na compra de um imóvel?

Dessa forma, é possível que o Bitcoin seja uma boia salva-vidas para o setor imobiliário em meio à desalavancagem do fiat.

Até o próximo artigo e opt out!

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Escrito por
Imagem do Autor
Carol Souza

Uma das principais educadoras de Bitcoin no Brasil e fundadora da Area Bitcoin, uma das maiores escolas de Bitcoin do mundo. Ela já participou de seminários para desenvolvedores de Bitcoin e Lightning da Chaincode (NY) e é palestrante recorrente em conferências sobre Bitcoin ao redor do mundo, bem como Adopting Bitcoin, Satsconf, Bitcoin Atlantis, Surfin Bitcoin e mais.

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