A BlackRock, a maior gestora do mundo, anunciou um pedido de registro de um ETF de Bitcoin. Trata-se de um fundo listado em bolsa que permite negociar papéis que refletem o preço do bitcoin na bolsa americana.

No entanto, o detalhe é que a SEC, a CVM americana, vem negando, há anos, pedidos desse tipo de ETF das maiores gestoras globais.

A BlackRock, com 9 trilhões de dólares sob gestão e tendo obtido 99% de aprovação para seus títulos e ETFs pela SEC, gera expectativas sobre a possível aprovação do ETF de Bitcoin desta vez.

Será que isso impulsionará o preço do bitcoin a explodir na próxima bull run? Ou será que, na verdade, a BlackRock é um cavalo de troia para o Bitcoin?

iShares e o pedido à SEC

A iShares, parte da BlackRock, é um dos maiores provedores de ETF do mundo, com mais de mil duzentos e cinquenta ETFs listados. Recentemente, eles fizeram um pedido oficial para a SEC, buscando aprovação para um novo produto financeiro relacionado ao Bitcoin.

No entanto, esse pedido não se trata exatamente de um ETF tradicional. Para ser considerado um ETF, o fundo deve seguir algumas regras, como ter uma diversificação de ativos em sua composição. Nesse caso específico, a diversificação seria inviável, uma vez que o produto proposto é composto exclusivamente por Bitcoin.

Abordagem para o ETF de Bitcoin

Em vez de solicitar um ETF padrão, a iShares optou por apresentar um pedido para a criação de um trust. Esse trust, descrito no prospecto, funcionaria como um fundo de Bitcoin à vista, aberto e operando de forma idêntica a um ETF tradicional.

Essa estratégia pode ser vista como uma tentativa de contornar as limitações impostas pela SEC e, ao mesmo tempo, oferecer aos investidores uma opção de exposição ao Bitcoin por meio de um produto financeiro listado em bolsa. Essa abordagem levanta questionamentos sobre o impacto que essa iniciativa pode ter no mercado de moedas digitais, especialmente durante uma possível bull run.

A SEC tem rejeitado várias propostas de ETF de Bitcoin à vista com base em preocupações relacionadas à manipulação de mercado. De forma irônica, a comissão tem aprovado ETFs de Bitcoin que permitem apostar na queda do preço (ETFs de Bitcoin short) e ETFs baseados em futuros de Bitcoin. Esses ativos podem ser mais facilmente manipulados em comparação com um ETF de Bitcoin à vista.

As justificativas apresentadas pela SEC giram em torno da desconfiança quanto à capacidade de auditar e vigiar adequadamente o mercado de Bitcoin. É possível que a SEC esteja aguardando uma maior organização e regulamentação do mercado pela NASDAQ e outras entidades antes de aprovar qualquer proposta de ETF de Bitcoin à vista.

Críticas e debate

Essa abordagem da SEC levanta questões sobre a consistência e a lógica por trás de suas decisões em relação aos diferentes tipos de ETFs de Bitcoin. A percepção de que a comissão tem sido mais receptiva a ETFs com potencial de manipulação do mercado do que a um ETF de Bitcoin à vista tem gerado debate e críticas por parte de investidores.

A BlackRock reconheceu o risco de manipulação, mas também aproveitou o seu tamanho para dar a sua tacada, afinal, se alguém conseguiria ter um ETF aprovado e a confiança da SEC, esse alguém seria a BlackRock.

Afinal, a BlackRock só alcançou o posto de maior gestora do mundo porque sabe jogar o jogo.

Além disso, ela já está se unindo à Nasdaq para fazer um acordo de compartilhamento de dados com exchanges e vigilância do ativo, algo que a SEC exigia e que outras gestoras não fizeram ou não conseguiram fazer. Essa política e habilidade em se adaptar às exigências regulatórias podem ter sido determinantes para a BlackRock avançar nessa questão do ETF de Bitcoin à vista.

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No fim das contas a BlackRock fez a lição de casa e incluiu no seu pedido tudo o que a SEC rejeitou nas tentativas anteriores de outros ETFs que foram negados.

Afinal, isso é bom ou ruim para o Bitcoin?

Acaba sendo mais bom do que ruim.

blackrock ceo

De fato, a criação do ETF de Bitcoin pela BlackRock parece contradizer o argumento anterior do CEO, Larry Fink, de que o Bitcoin era um índice de lavagem de dinheiro. A decisão da empresa em avançar com o ETF mostra que eles estão dispostos a explorar as oportunidades oferecidas pela moeda.

A aprovação do ETF de Bitcoin pode realmente trazer uma grande liquidez institucional ao mercado. Muitos gestores e instituições financeiras têm mostrado interesse em se expor ao Bitcoin, mas têm relutado devido à complexidade da custódia e outras questões regulatórias.

Com a disponibilidade do ETF, essa demanda reprimida poderá ser finalmente atendida, permitindo que mais investidores institucionais participem do mercado.

Primeiro ETF aprovado do Ouro (gráfico)

Comparação com o ETF de ouro

Muita gente está comparando esse momento com 2004, quando lançaram o primeiro ETF de ouro, e ele registrou uma alta de mais de 370% nos 4 anos seguintes.

No entanto, o Bitcoin não é ouro; não possui uma oferta limitada nem as mesmas propriedades que o ouro. A aprovação do ETF spot e a redução da oferta que ocorrerá com o halving no próximo ano podem resultar em uma bull run do Bitcoin ainda maior do que a de 2021.

Afinal, após o halving de 2020, não havia um ETF spot disponível, e as instituições financeiras estavam mais focadas na especulação com altcoins do que com o Bitcoin.

Entretanto, elas mudaram de direção após a queda da FTX e devido aos processos atuais da SEC contra XRP, Binance, FTX e Coinbase por violação da lei de valores mobiliários. Inclusive, Brian Armstrong, CEO da Coinbase, mencionou em entrevista que a SEC o informou que pretende tratar as altcoins como securities e o Bitcoin como commodity.

Por isso, é provável que instituições não direcionem tanta liquidez para securities irregulares, por meio das altcoins, e se concentrem no Bitcoin.

Perspectivas futuras

Um ponto debatido é que esse ETF poderia capturar grande parte do mercado das exchanges, como a Coinbase, que acabam oferecendo Bitcoin, mas obtêm a maior parte de seu lucro com taxas de operações envolvendo altcoins, muitas delas sendo securities irregulares.

Ou seja, a Coinbase oferece um serviço muito mais caro que um ETF e ainda está oferecendo produtos que a SEC considera irregulares.

Em resumo, isso tem mais aspectos positivos do que negativos, pois está trazendo liquidez para o Bitcoin, diferenciando-o do restante do mercado e proporcionando mais clareza sobre o que é uma commodity e o que é uma security no mundo digital.

O lado negativo é que a BlackRock é uma instituição financeira fiat e estimulará a compra de seu ETF em vez de Bitcoin legítimo. Esse será o desafio do próximo ciclo: ajudar as pessoas a fazerem a auto custódia e não comprar um “Bitcoin falso” da BlackRock.

Entretanto, isso já era esperado, afinal nem todos estão confortáveis em fazer a própria custódia, e esse ETF seria criado de qualquer forma.

Por outro lado, pode ser o início de um movimento para institucionalizar o Bitcoin e proibir a auto custódia, assim como fizeram com o ouro em 1933, forçando as pessoas a possuírem Bitcoin apenas via ETF, mantendo-as dentro do sistema fiat e impedindo-as de sair.

Mas fique tranquilo, mesmo que tentem, não há como fazer isso.

O Bitcoin é infinitamente mais difícil de confiscar e proibir, até mesmo do que o ouro. Mesmo que isso aconteça, o Bitcoin é digital, leve e funciona sem a permissão de governos. Por isso que ele chegou até aqui, continua sendo adotado, e vários países que tentaram proibi-lo perceberam que não adiantou de nada.

Cláusulas na proposta do ETF de Bitcoin pela BlackRock

O que preocupou algumas pessoas foi a inserção de algumas cláusulas na proposta do ETF pela BlackRock. Nelas, a empresa afirma que, em caso de um hard fork do Bitcoin, ela terá o poder de escolher qual ativo será considerado o verdadeiro Bitcoin para lastrear o ETF.

Em outras palavras, se isso ocorresse em 2017, no caso do fork do Bitcoin Cash, se a BlackRock optasse por apoiar o Bitcoin Cash, ele seria tratado como o Bitcoin oficial em seu ETF.

Cláusulas da proposta de ETF de bitcoin da Blackrock

Essa capacidade da BlackRock de tomar partido em um possível fork futuro do Bitcoin parece ser algo muito poderoso e poderia influenciar outras entidades. Hoje, há pressão de ambientalistas para que o Bitcoin mude para o mecanismo de consenso Proof of Stake (PoS).

Será que a BlackRock ficaria ao lado deles, dos que querem mudar o Bitcoin, assim como algumas exchanges e mineradoras fizeram em 2017?

Isso poderia levar a uma nova guerra de forks e causar um retrocesso absurdo.

Entretanto, é importante destacar que a mudança do Bitcoin para PoS não é mais uma ameaça, pois já ocorreu! O Bitcoin ainda utiliza o mecanismo de consenso Proof of Work (PoW) e não adotou o PoS, o que significa que essa questão parece estar resolvida, pelo menos por enquanto.

Bitcoin PoS (Gráfico)

Já criaram um Bitcoin PoS, mas o fork está enfrentando dificuldades, pois seu valor caiu desde sua criação em 2021, especialmente com a crescente preocupação em torno do consumo excessivo de energia do Bitcoin.

O mesmo aconteceu com o Bitcoin Cash, que tem perdido valor em relação ao Bitcoin original desde o fork em 2017.

Isso mostra que forkar e alterar as propriedades originais do Bitcoin geralmente resulta em escolher o lado perdedor em valorização e reputação. Esse foi o destino dos apoiadores do Bitcoin Cash e dos que optaram pelo PoS.

Gráfico do Bitcoin Cash

Objetivo da cláusula sobre forks no ETF

A cláusula sobre forks na proposta do ETF parece ter o objetivo de proteger a BlackRock e lavar as mãos caso seus clientes optem pelo lado errado do fork e acabem com uma moeda digital sem valor. Ou seja, eles não querem ser responsabilizados caso seus clientes escolham a “shitcoin” errada e sofram prejuízos.

É importante ressaltar que, independente dos planos da BlackRock, eles não têm o poder de alterar o Bitcoin. Além disso, um ETF de Bitcoin não é o próprio Bitcoin; é apenas um papel que reflete o preço do Bitcoin real, que está sob a custódia de terceiros.

Os ETFs seguem as regras do sistema financeiro tradicional (fiat) e não as regras de consenso do Bitcoin. Portanto, a entrada da BlackRock no cenário significa apenas que um grande player está interessado em adquirir Bitcoins. Cabe aos investidores decidir se desejam vender para eles ou não.

Site do Bitcoin Treasuries Net

Conclusão

A BlackRock pode ter uma quantidade relativamente pequena de BTC em comparação com outras empresas como a MicroStrategy. No entanto, como a maior gestora do mundo, eles têm recursos significativos à sua disposição. É difícil prever exatamente como eles vão se posicionar em relação ao Bitcoin no futuro, mas é possível que eles aumentem suas participações conforme o Bitcoin se torne ainda mais popular e amplamente aceito.

Se você está interessado em acumular BTC, ainda há tempo para entrar no mercado antes de grandes instituições, como a BlackRock, possivelmente aumentarem suas exposições.

A possível aprovação do ETF Spot pela BlackRock pode, de fato, marcar um novo capítulo na história do Bitcoin. Isso pode ter um impacto significativo no próximo ciclo de alta da moeda e também após o halving, à medida que mais investidores institucionais e capital institucional são atraídos para o mercado.

Assim, é sempre importante acompanhar de perto as notícias e desenvolvimentos do mercado para entender melhor as tendências e tomar decisões informadas. Se você deseja aprender mais sobre como acumular Bitcoin, de forma segura, pode considerar explorar fontes confiáveis, como o nosso curso de Bitcoin, Bitcoin Starter.

Enquanto isso, vamos continuar acompanhando o cenário do Bitcoin e como as instituições financeiras, como a BlackRock, podem influenciar o mercado.

Até a próxima e Opt Out.

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Escrito por
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Carol Souza

Uma das principais educadoras de Bitcoin no Brasil e fundadora da Area Bitcoin, uma das maiores escolas de Bitcoin do mundo. Ela já participou de seminários para desenvolvedores de Bitcoin e Lightning da Chaincode (NY) e é palestrante recorrente em conferências sobre Bitcoin ao redor do mundo, bem como Adopting Bitcoin, Satsconf, Bitcoin Atlantis, Surfin Bitcoin e mais.

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