A história do Bitcoin começa de forma isolada, sem adoção, com apenas alguns cypherpunks debatendo a ideia da concepção e uso da moeda. Depois pessoas comuns começaram a comprar. Nessa época Bitcoin era a moedinha de jogo da internet, as instituições e os investidores tradicionais não davam a menor credibilidade, muito pelo contrário, faziam questão de atacar o Bitcoin como se fosse uma mera brincadeira de gente nerd.

Enfim, o tempo passou e as coisas mudaram drasticamente. Desde 2020, após a pandemia, o Bitcoin passou a ser visto com outros olhos pelos governos e pelos bancões. Ou seja, virou “ativo para se ter na carteira” e o queridinho de muitas corretoras tradicionais, que se viram sem ter o que oferecer aos seus clientes frente ao mercado tradicional cada vez mais colapsado.

Conclusão: Morderam a língua! E agora instituições financeiras como Itaú, Nubank, Inter, Banco do Brasil oferecem exposição ao bitcoin aos clientes, além das corretoras tradicionais como Rico, Clear, Modalmais e até mesmo a XP, a maior do Brasil, tem Bitcoin entre os “produtos” ofertados para se investir.

Mas, será que vale a pena investir em bitcoin através dessas empresas?

É isso que entenderemos hoje! Neste artigo, vamos mergulhar especificamente na XP e entender como essa tradicional corretora de investimentos está oferecendo bitcoin para seus clientes e se, dessa forma, vale a pena ou não comprar Bitcoin na XP.

Sobre a XP Investimentos

A XP Investimentos é uma casa de assessoria de investimentos que atua há 20 anos no mercado, voltada para pessoas que buscam investir no mercado tradicional, como o mercado de ações, fundos imobiliários, fundos de investimentos, futuros, renda fixa, dentre outros.

Fundada em 2001 por Guilherme Benchimol e Marcelo Maisonnave, a empresa tem como objetivo democratizar o acesso a investimentos e fornecer educação financeira para um público amplo.

Podemos ressaltar que um dos pontos marcantes da XP foi o seu IPO na NASDAQ em dezembro de 2019.

Enfim, para além do mercado de corretagem tradicional, a XP também atua em áreas como seguros, cartões de crédito e serviços bancários.

Mas, com tudo isso, faltava um pilar, não é mesmo? O pilar das “criptomoedas”. 

E assim foi, percebendo as movimentações do mercado e o aumento da procura por parte de investidores, a XP lançou em 2018 a sua primeira tentativa de criar uma frente na empresa voltada para a compra e venda de Bitcoin e shitcoins: a Xdex.

No entanto, ela não teve sucesso.

Anos depois, em 2022, a empresa fez uma nova tentativa de oferecer uma plataforma para compra e venda de Bitcoin e shitcoins, chamada Xtage, que também foi logo encerrada.

Mas, o que será que aconteceu para que essas duas tentativas tenham fracassado?

Início e fim da Xdex

Como citamos acima, uma das primeiras tentativas da corretora de se expor ao mundo das moedas digitais, foi em 2018, com a criação de uma plataforma própria de negociação, chamada Xdex.

O analista-chefe da Xdex era Fernando Ulrich, até então um dos poucos que falavam sobre bitcoin no Brasil, ainda que com o viés da mentalidade fiat.

Na Xdex, negociavam-se tanto o Bitcoin quanto a shitcoin Ethereum. Entretanto, os clientes não podiam sacar as moedas da plataforma. Ou seja, era uma corretora que funcionava apenas para comprar e vender moedas digitais, o que vai totalmente contra o ethos de soberania do Bitcoin.

Site da antiga Xdex

Em 2020, a empresa encerrou as operações da plataforma, 17 meses após a abertura.

Na época, a XP deu 30 dias para os clientes retirarem seus fundos em reais; ou seja, o cliente que tinha bitcoin não conseguiu sacar, tendo que converter de volta para fiat para poder ter o valor ressarcido.

Péssimo, né?!

Comunicação sobre o encerramento das atividades da Xdex

Uma das justificativas dadas pela XP para o encerramento da Xdex foi a concorrência acirrada, questões internas e a pouca regulamentação que ainda existia no setor.

Início e fim da Xtage

Anos depois, em 2022, após uma crescente procura pelo Bitcoin e diante do movimento de alta decorrente de 2021, a XP lança a plataforma Xtage.

Dessa vez, a plataforma contava com Bitcoin e outros ativos diversos que eram alvo do mercado, mas se caracterizam por ser shitcoins.

A meta era ambiciosa, dar acesso aos seus 3.5 milhões de clientes aos ativos digitais por meio da sua corretora, no mesmo formato tradicional que já era feito.

Xtage (antiga plataforma de criptoativos da XP INC.)

E novamente não era possível sacar bitcoin da plataforma, somente comprar e vender.

O que isso nos mostra?

Que a XP não aprendeu nada com a primeira tentativa fracassada e quis requentar um projeto que já não tinha dado certo.

Deu no que deu…No dia 18 de outubro de 2023 a XP anunciou que encerraria as operações da Xtage e deu apenas dois dias para os clientes sacarem seus saldos em reais.

Comunicado sobre o encerramento das atividades da XTAGE

Sem opção de custódia

A Xtage nunca deu opção de custódia para os clientes, como transferir os fundos para outro lugar e sacar para a própria carteira de bitcoin, por exemplo. Portanto, era preciso confiar cegamente na capacidade da empresa de guardar seus ativos e também acreditar que eles possuíam esses ativos em caixa.

Afinal, não havia nenhuma forma de comprovar que a XP tinha realmente os bitcoin que dizia vender para os clientes, já que não era possível sacar as moedas para uma carteira própria.

Basicamente, muitos dos clientes que usavam a plataforma saíram no prejuízo, pois a maioria das moedas estava em queda no momento em que as operações foram encerradas e eles foram obrigados a liquidar suas posições.

Depois desses episódios, a XP não apresentou nenhuma outra ideia mirabolante para conquistar o mercado de negociação de bitcoin. Em vez disso, optou pelo caminho tradicional, oferecendo exposição ao bitcoin por meio de fundos de investimento.

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Bitcoin via fundos de investimento

Depois de amargurar dois fracassos, atualmente a XP não possui nenhum produto direto para a compra e venda de bitcoin. Assim, a única forma que os clientes têm de se expor ao bitcoin é por meio da negociação de fundos de investimento em parceria com a gestora de ativos Hashdex.

Portanto, a XP oferece 4 fundos de investimento que possuem exposição ao bitcoin por meio de índices da Nasdaq e todos eles tem uma taxa mínima de 500 reais em cotas.

São eles:

Hashdex 20 Nasdaq Crypto Index FIC FIM

Esse fundo possui 20% de exposição à criptoativos pelo índice Nasdaq Crypto Index (NCI) e os outros 80% são compostos por títulos de renda fixa atrelados ao CDI. Além disso, a taxa de administração desse fundo é de 1%.

O fundo possui exposição às seguintes moedas:

  • Bitcoin,
  • Ethereum,
  • Chainlink,
  • Litecoin,
  • Arbitrum,
  • Uniswap,
  • Polkadot
  • e Stellar.

É importante ressaltar que somente 14,38% é de exposição ao bitcoin.

Hashdex 40 Nasdaq Crypto Index FIC FIM

Esse fundo possui 40% de exposição à criptoativos pelo índice Nasdaq Crypto Index (NCI) e os outros 60% são compostos por títulos de renda fixa atrelados ao CDI. A taxa de administração desse fundo também é de 1%.

O Hashdex 40 Nasdaq Crypto Index FIC FIM possui exposição as mesmas moedas do fundo anterior, afinal, replicam o mesmo índice. No entanto, neste, a exposição em bitcoin é um pouco maior, de 28.75%.

Hashdex 100 Nasdaq Crypto Index FIM

Já o Hashdex 100 Nasdaq Crypto Index FIM possui exposição de 100% ao ndice Nasdaq Crypto Index (NCI). Assim, ele replica as mesmas moedas dos anteriores, mas a exposição em bitcoin é de 71,89%. 

Além disso, a taxa de administração é um pouco menos, de 0,70%.

Hashdex Bitcoin FIC FIM

Por fim, o Hashdex Bitcoin FIC FIM é o fundo que possui 100% de exposição ao bitcoin pelo índice Nasdaq Bitcoin Reference Price. Assim, podemos dizer que é o mais próximo que um investidor terá de ter algo de bitcoin em seu portfólio.

Ah, e a taxa de administração dele é de 0,75%.

Vale a pena comprar fundos de investimento de Bitcoin na XP?

Não, não vale a pena comprar fundos de investimento de Bitcoin na XP se você busca uma exposição direta e controle sobre seus bitcoins.

Como vimos, os fundos de investimento oferecidos pela XP não possuem uma exposição direta ao bitcoin; apenas um deles possui essa opção, mas ainda assim causa certa controvérsia, afinal, não é bitcoin de verdade.

Isso ocorre porque, quando você compra bitcoin por meio de um fundo, precisa saber que:

  1. você não tem bitcoin de verdade, mas sim se expõe ao preço dele;
  2. você não tem soberania, pois não pode sacar e transferir seu bitcoin para sua carteira fria ou carteira quente;
  3. você não pode negociar a qualquer momento, ficando preso ao horário da bolsa.

Outra grande desvantagem dos fundos oferecidos pela XP é que eles são compostos, em sua maioria, por shitcoins e renda fixa. Logo, eles não oferecem uma exposição genuína ao bitcoin. Afinal, são basicamente papéis dizendo que você tem algo de bitcoin sendo investido ali.

Assim, se o restante dos ativos que compõem o fundo performar mal, eles acabam puxando a performance do fundo, mesmo que o bitcoin esteja indo bem e se valorizando. Portanto, em comparação com a compra direta de bitcoin, os fundos de investimento não possuem nenhuma vantagem.

Além disso, não existe nenhuma forma de fazer custódia própria dos ativos, e você precisará pagar taxas de corretagem e administração para a empresa. E é aquilo, ao comprar bitcoin diretamente, você mesmo cuida de suas moedas.

Os fundos de investimento podem até ser úteis para certos tipos de investidores que não podem se expor diretamente ao bitcoin, muitas vezes por questões regulatórias. No entanto, se você pode comprar bitcoin diretamente, essa é a melhor opção. 

Afinal, o bitcoin é uma moeda peer-to-peer que devolve aos indivíduos a sua soberania financeira. Investir em fundos de bitcoin vai contra o propósito estabelecido por Satoshi Nakamoto para a moeda. Além de ser mais arriscado, pois você não tem controle sobre o que é seu, estando nas mãos de terceiros.

Conclusão

Como vimos, a XP não oferece mais a função de compra e venda de bitcoin no formato corretora de moedas digitais. Portanto, o que os clientes podem fazer hoje é se expor ao bitcoin por meio de fundos de investimento, sendo que esses fundos não possuem exposição completa ao bitcoin.

Sendo assim, se você quer comprar bitcoin, a melhor opção é se expor diretamente à moeda. Afinal, comprando bitcoin você é o dono do seu dinheiro e pode guardá-lo na sua própria carteira. 

Hoje existem diversas plataformas e aplicativos para comprar bitcoin facilmente, a partir de 10, 30, 50 reais e que permitem você fazer a sua própria custódia, como é o caso da Bipa e da Azteco, que já falamos aqui no blog, por exemplo.

Espero que esse artigo tenha te ajudado a entender se vale a pena comprar bitcoin em plataformas como a XP e através de fundos de investimentos.

Até o próximo artigo e OPT OUT!

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Escrito por
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Kaká Furlan

Fundadora da Area Bitcoin, um dos maiores projetos de educação de Bitcoin do mundo, publicitária, apaixonada por tecnologia e mão na massa full time. Já participou das principais conferências de Bitcoin como Adopting, Satsconf, Surfin Bitcoin e Bitcoin Conference.

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