Será que vale a pena comprar altcoins para ter mais Bitcoin? Durante um mercado em baixa, a maioria das altcoins enfrenta quedas de valor ou até mesmo chega a desaparecer.

É nesse contexto que surgem vozes defendendo a ideia de que “o verdadeiro investimento está no Bitcoin, e as altcoins são apenas um meio para acumular mais Bitcoin“.

Neste artigo, vamos desmistificar essa abordagem, mostrando por que a estratégia de usar altcoins como um simples trampolim para ganhar mais Bitcoin é falha e enganosa.

Comprar Altcoins: Na alta todo mundo é gênio

Para os iniciantes no mundo do Bitcoin, é natural se encantar com a busca pela “próxima grande moeda” que promete transformá-los em milionários. No entanto, um estudo mais aprofundado revela que o Bitcoin possui características únicas de descentralização, enquanto muitas altcoins se assemelham mais a empresas do que a verdadeiros protocolos descentralizados.

Você pode pensar: “Tudo bem, eu não preciso entender os fundamentos para especular sobre o preço. Só preciso realizar algumas operações e posso até acumular mais Bitcoin no processo!”

No entanto, a realidade é mais complexa. Durante uma tendência de alta no mercado, pode até parecer mais fácil “ganhar dinheiro” com altcoins, já que basta seguir a onda crescente.

É verdade que as altcoins muitas vezes amplificam os movimentos do Bitcoin, mas isso é uma faca de dois gumes. Na tentativa de atrair liquidez, essas moedas frequentemente prometem ser a “solução mágica” para todos os problemas, o que nem sempre se concretiza.

É por isso que, durante o último ciclo de alta, várias altcoins superaram o desempenho do Bitcoin. Isso aconteceu em grande parte devido ao influxo de capital de risco, que foi usado em campanhas de marketing destinadas a convencer o público e os novatos de que esses projetos eram realmente promissores.

No entanto, o problema é que as quedas de mercado são inevitáveis.

Quedas são inevitáveis

Quando as quedas acontecem, muitos investidores perdem tudo o que ganharam durante os períodos de alta. A tendência se inverte, agindo contra os que estão no mercado.

Em um cenário de baixa, muitas altcoins desvalorizam até se tornarem praticamente nulas, exchanges falham, e os investidores alavancados recebem chamadas de margem, evaporando os ganhos acumulados durante a alta. Essa é uma história comum para muitos traders.

E é por essa razão que diversos estudos indicam que 99% dos traders acabam perdendo dinheiro, e o cenário nas criptomoedas não é exceção.

O relatório recente do BIS (Banco de Compensações Internacionais) revelou que a maioria dos traders, especialmente o público de varejo e pessoas comuns, começaram a investir e negociar criptomoedas durante o período em que tanto o Bitcoin quanto as altcoins estavam em alta.

Notavelmente, o Brasil se destacou como um dos países com o maior influxo de novos participantes durante essa fase de ascensão, em comparação com outras nações.

Movimento crescente do investimento em Bitcoin e criptomoeda, quando ambos estavam em alta

Quando a sua atenção está voltada apenas para o preço e volatilidade, em vez de se concentrar nos fundamentos e em uma estratégia de longo prazo, quatro coisas tendem a ocorrer:

  1. Você frequentemente termina com menos Bitcoin do que tinha originalmente. Isso ocorre porque você se pega na armadilha de buscar o próximo “pump and dump” ou seguindo movimentos de manada, sem perceber que pode ser uma fonte de liquidez para os emissores desses tokens sem valor real.
  2. Suas decisões de compra e venda passam a ser regidas pelas emoções e pela volatilidade do mercado, em vez de serem baseadas em fundamentos sólidos. Isso pode levar a uma experiência semelhante ao vício em jogos de azar, com seus altos e baixos emocionais, em vez de um investimento calculado.
  3. Você deixa de se concentrar em aspectos mais produtivos da vida, como desenvolvimento pessoal e criação de valor, e se entrega à especulação. Se isso ressoa com você, tudo bem; mas para mim, é uma abordagem vazia e sem sentido.
  4. Você acaba ficando preso na mentalidade focada em moeda fiduciária e compromete sua qualidade de vida. O tempo que poderia ser usado para crescimento pessoal, estudos ou desenvolvimento de um negócio significativo é gasto em atividades de compra e venda, algo que já pode ser automatizado por robôs.

Há mais de 20 mil criptomoedas disponíveis, mas o Bitcoin sozinho representa mais da metade da capitalização de mercado total de todas elas. Isso demonstra que o Bitcoin é substancialmente mais valioso do que todas as altcoins combinadas.

Portanto, em vez de direcionar sua atenção para altcoins, que têm maior risco de desvalorizar a longo prazo, seria mais sensato concentrar-se em acumular Bitcoin enquanto ainda dá tempo.

Experimento com Inteligência Artificial

Olha só esse experimento com inteligência artificial: criaram um algoritmo de IA para especular no mercado de Bitcoin, com o objetivo de acumular pontos (e consequentemente dinheiro) com base em seu desempenho.

Ao final do experimento, depois de analisar todo o histórico e dados do Bitcoin desde 2014, a IA concluiu que a estratégia mais eficaz era comprar Bitcoin o mais rapidamente possível e nunca vender! 

Notícia do experimento que fizeram com inteligência artificial e Bitcoin

Mesmo aqueles que não estão ativamente negociando, fazendo trade, mas compram altcoins na tentativa de diversificar seu portfólio, muitas vezes não percebem que na verdade estão apenas aumentando o risco sem necessariamente melhorar os retornos.

O risco da diversificação em criptomoedas

Desde 2020, muitas pessoas tentaram aplicar a lógica e as estratégias tradicionais de diversificação de portfólio, típicas do mercado de ações e de renda fixa, ao mundo das criptomoedas.

ETFs de cripto foram até criados para servir como um substituto, espelhando o desempenho de um portfólio diversificado em criptomoedas. No entanto, o mesmo experimento que mencionei anteriormente demonstrou que as altcoins frequentemente não contribuem para melhorar a performance do portfólio.

Fundo da Bitwise

O fundo da Bitwise, por exemplo, foi aberto no final de 2020 e é um dos fundos mais antigos. O BITW tem uma composição formada por:

  • 60% em Bitcoin
  • quase 30% em ethereum
  • e os outros 10% no restante das 8 criptomoedas com maior capitalização de mercado. 

Esse fundo é rebalanceado mensalmente.

Composição do fundo da Bitwise

Na imagem abaixo, observe como o fundo da Bitwise (em vermelho), diversificado e balanceado com as 10 criptomoedas mais valiosas e promissoras, teve um desempenho significativamente pior do que simplesmente manter o Bitcoin a partir do final de 2020 até o presente. Desde 2020, o fundo apresenta um desempenho negativo de 64%, enquanto o Bitcoin registra um ganho positivo de 103%.

Provavelmente o que mantém algum valor nesse ETF é os 60% de bitcoin que tinha, já que os outros 40% em altcoins derreteram e levaram o portfolio ladeira a baixo!

Gráfico comparativo dos resultados do fundo Bitwise com o Bitcoin

A tentativa de diversificação adotada por esses fundos acabou por introduzir maior nível de risco e volatilidade ao portfólio do ETF.

Este padrão persiste ciclo após ciclo, e ainda assim, muitas pessoas continuam a seguir os conselhos de “gurus” que prometem a próxima grande criptomoeda.

Sugestão de portfólio da CNBC

Antes de 2020, não havia fundos de criptomoedas nas bolsas que pudessem ser observados e comparados publicamente.

Entretanto, o que se via eram investidores na mídia propondo “portfólios diversificados” baseados em princípios do mundo das criptomoedas.

A CNBC por exemplo, uma emissora de tv grande nos EUA, sugeriu essa locação de portfolio: 

  • 30% em Bitcoin
  • 15% ethereum
  • 15% em ethereum classic
  • 10% zcash
  • 10% monero
  • 10% ripple
  • 5% metal 
  • e 5% iota
Portfólio cripto sugerido pela CNBC

Esse era o Crypto Portfolio indicado pelo Brian Kelly, investidor “especialista” em criptomoedas da CNBC. A matéria foi ao ar em 6 de agosto de 2017.

Brian Kelly apresentando o Crypto Portfolio na CNBC

E você já sabe o que aconteceu, não é mesmo?! O Bitcoin por si só apresentou a melhor performance desde então, enquanto as altcoins, na verdade, se mostraram um fardo que prejudicou o desempenho global do portfólio.

Resultado do "Crypto Portfolio" de Brian Kelly

Resultado Crypto Portfolio

Isso significa que, se em 2017 você tivesse investido mil reais em um “portfólio diversificado” seguindo as recomendações da CNBC e comprado as moedas que eram consideradas “promissoras” naquele momento, hoje você teria R$2.865,00.

Por outro lado, se você tivesse optado por investir esses mil reais exclusivamente em Bitcoin, seu investimento valeria hoje R$5.330,00.

Em outras palavras, você teria um retorno 53% maior e com um nível de risco significativamente menor.

Esse efeito das criptos no portfolio é chamado de diworsification, algo como uma diversipioração em portugues – onde a diversificação piora o portfólio, não protege e nem traz mais estabilidade.

De fato, o custo de oportunidade foi extremamente alto. Em vez de investir em Bitcoin, um ativo com fundamentos mais sólidos, maior potencial de valorização a longo prazo e natureza escassa, as pessoas optaram por “tranqueiras” que, ao longo do tempo, tendem a prejudicar o desempenho do portfólio e a relação risco-retorno.

Comprar Bitcoin na baixa e vender na alta, vale a pena?

Outra estratégia comum é comprar Bitcoin durante um mercado em baixa (“bear market”) e vendê-lo no auge de um mercado em alta (“bull market”). Embora seja possível vender Bitcoin dessa forma, essa abordagem é arriscada e frequentemente resulta em acabar com menos Bitcoin do que originalmente possuído.

Isso ocorre principalmente porque essa estratégia pressupõe que você será capaz de identificar os momentos precisos de alta e baixa do mercado, uma tarefa na qual a maioria das pessoas falha.

Por exemplo, você pode decidir vender seu Bitcoin quando ele atinge o valor de $80.000, mas e se o preço continuar a subir e nunca mais voltar a esses níveis, como já aconteceu em ciclos anteriores?

Se você acredita que o Bitcoin representa o futuro do sistema financeiro e que as moedas fiduciárias (fiat) estão destinadas à desvalorização, por que trocaria um ativo com um enorme potencial de valorização por uma moeda que inevitavelmente perderá valor a longo prazo?

Historicamente, isso tem sido a regra em relação ao Bitcoin em comparação com praticamente todas as moedas fiduciárias nos últimos 14 anos.

Seria sensato vender seu Bitcoin para adquirir, por exemplo, pesos argentinos, cujo valor está em declínio acentuado, ou trocá-lo pela lira turca? A resposta óbvia seria não.

Então, por que considerar a troca de Bitcoin por moedas como o real ou o dólar, que podem estar perdendo valor mais lentamente, mas seguem a mesma trajetória de desvalorização das moedas já afetadas pela hiperinflação?

E então o arrependimento vem

Frequentemente, observamos relatos de pessoas que, quando ainda eram novatas no mundo do Bitcoin, venderam seus ativos acreditando que estavam fazendo um bom negócio. No entanto, com o tempo, elas perceberam que nunca mais conseguiram acumular a mesma quantidade de Bitcoin que originalmente possuíam.

Neste post, um Bitcoiner conhecido como Captain Bitcoin compartilha a seguinte história:

“Em 2015, vendi 800 Bitcoins para comprar uma casa para minha família. Em 2018, vendi minha casa e só consegui comprar de volta 50 Bitcoins. Para aqueles que pensam que sou louco por ter vendido minha casa, saibam que meu único arrependimento é ter vendido meus Bitcoins.”

Tuíte do Captain Bitcoin

No final das contas, é crucial lembrar que não existem atalhos. Qualquer tipo de operação envolvendo Bitcoin pode resultar em você acabar com menos Bitcoin do que tinha inicialmente.

Lembre-se disso, até a próxima e opt out.

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Kaká Furlan

Fundadora da Area Bitcoin, um dos maiores projetos de educação de Bitcoin do mundo, publicitária, apaixonada por tecnologia e mão na massa full time. Já participou das principais conferências de Bitcoin como Adopting, Satsconf, Surfin Bitcoin e Bitcoin Conference.

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