O mundo está passando por uma disputa que ocorre muito silenciosamente, que é a batalha pela hegemonia tecnológica. E nesse campo minado, os que mais se enfrentam são os Estados Unidos e a China.
Os olhares dessa batalha estão voltados para os chips, especialmente os inovadores chips RISC-V, que são usados em diversas áreas, como a automobilística, machine learning, inteligência artificial e até mesmo nas carteiras de Bitcoin.
Neste artigo, vamos explicar essa nova corrida espacial: a corrida por commodities digitais e como tecnologias open source, como os chips RISC-V, podem impactar indústrias inteiras, inclusive na indústria do Bitcoin.
Vamos lá?!
A corrida tecnológica
Os Estados Unidos e a China estão em uma disputa pelo avanço tecnológico, especialmente no que diz respeito a chips, inteligência artificial (IA) e “blockchain“.
A China utiliza cerca de um quarto dos chips semicondutores produzidos globalmente em seus produtos eletrônicos “Made in China”. Além disso, aproximadamente 25% dos chips são processados em fábricas chinesas. Isso significa que metade (sim, 50%!) de todos os chips fabricados no mundo passam pela China.
Nesse cenário, Taiwan desempenha um papel-chave na tensão entre a China e os Estados Unidos.
Taiwan
Taiwan conquistou sua independência em 1950 e é um importante centro de produção de chips semicondutores, exportando para grandes empresas como Apple e Intel.
A posição estratégica de Taiwan é fundamental, pois está geograficamente próxima da China, uma das maiores consumidoras de tecnologia e semicondutores, e complementa bastante a produção de produtos “Made in China”.
Além disso, os Estados Unidos são o maior comprador de semicondutores e produtos eletrônicos de Taiwan, ao mesmo tempo em que são seu principal aliado militar, fornecendo apoio e armas para defender a ilha contra possíveis ameaças da China.
A batalha por tecnologia também afeta Taiwan, que deve lidar com a complexa relação entre essas duas potências globais.
Além de tentar restringir o desenvolvimento tecnológico chinês em outras áreas, os EUA estão tomando medidas para limitar o progresso chinês na indústria de semicondutores.
Computadores Quânticos
Em outubro de 2022, aprovaram um pacote de proibições em relação à indústria chinesa de semicondutores, mais especificamente chips que facilitam a criação de computadores quânticos. Esses chips operam em temperaturas extremamente baixas, próximas de -196,5°C, ou seja, são chips de computadores quânticos que funcionam sob grande refrigeração.
Assim, computadores quânticos poderiam ser usados para criar novos materiais, máquinas que se auto consertam, desenvolver novos medicamentos e estabelecer comunicações quânticas para transmitir mensagens encriptadas impossíveis de violar. Portanto, dariam um poder enorme a quem desenvolvesse essa tecnologia.
E nisso, os EUA têm um trauma: os chips RISC-V.
O que são os chips RISC-V?
Os chips RISC-V são microprocessadores baseados na arquitetura RISC-V de código aberto, permitindo flexibilidade e personalização em várias aplicações de hardware. Eles são open source, o que significa que qualquer pessoa pode usá-los, e não estão protegidos por patentes.
Esses chips RISC-V surgiram nos laboratórios da Universidade da Califórnia, em Berkeley, com financiamento da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa do Pentágono (DARPA).
Algumas pessoas comparam a criação desses chips ao desenvolvimento da internet, USB ou Ethernet, porque são gratuitos e pessoas do mundo todo contribuem para torná-los mais rápidos e baratos.
O mais importante é que os chips RISC-V não podem ser controlados ou patenteado por nenhum país.
Ah, e advinha quem começou a usar esses chips? A China!
China e Chip RISC-V
A China começou a usar o RISC-V em uma variedade de dispositivos eletrônicos voltados para inteligência artificial, machine learning e também em aplicações genéricas.
A China está colocando o RISC-V em tudo! É por isso que agora políticos americanos estão pressionando e correndo para restringir empresas americanas de usarem chips e centros de pesquisa dos EUA de partilharem ou venderem suas inovações à China.
Inclusive, querem exigir que qualquer pessoa ou empresa norte-americana receba uma licença de exportação antes de se envolver com entidades da RPC (República Popular da China) sobre tecnologia RISC-V.
Mas isso tudo parece ser tarde demais:
- Empresas americanas como a Qualcomm já estão colaborando com um consórcio de empresas automobilísticas europeias no desenvolvimento de chips RISC-V.
- A Alphabet, controladora do Google, anunciou que planeja adaptar o Android, o sistema operacional móvel mais amplamente utilizado no mundo, para funcionar com chips RISC-V.
O que é mais interessante é que todos os países utilizam sanções e restrições para consolidar seu poder e controlar empresas e pessoas.
Os Estados Unidos, por exemplo, estabelecem um sistema regulatório forte e exercem poder através de sua moeda, o dólar, bem como implementam sanções no sistema financeiro americano para aqueles que não seguem suas regras.
O governo chinês também impõe restrições às liberdades da população, estabelece sistemas de pontuação de crédito para controlar e direcionar sua indústria, controlando a mão de obra de todo o país.
A China também limitou o envio de minerais usados na fabricação de semicondutores para os Estados Unidos, que os consideraram como “weaponização” de recursos minerais, termo usado para descrever qualquer tipo de sanção.
De acordo com a Critical Raw Minerals Alliance, a China produz 60% do germânio mundial e 80% do gálio mundial. Ou seja, a China não consegue controlar a produção dos EUA de chips, mas consegue controlar as principais matérias primas para isso.
Em resumo, nenhum dos dois países é flor que se cheire.
Ambos os países usam seus sistemas e commodities nessa guerra comercial tecnológica e monetária. Nesse sentido, os chips RISC-V ganham importância geopolítica por serem de código aberto, sem proprietário, e não podem ser utilizados como armas, ao contrário de outros tipos de chips, como o ARM, nos quais os EUA conseguiram restringir o envio de fabricantes americanos e europeus de chips para a Rússia e China, citando “motivos de espionagem”.
A parte legal é que, por causa desses chips RISC-V, que são de código aberto e quem supervisiona é uma fundação sem fins lucrativos com sede na Suíça, nem a China nem os Estados Unidos, nem qualquer outra nação, podem exercer controle sobre eles. É essa fundação que coordena os esforços entre as empresas com fins lucrativos para desenvolver a tecnologia.
Além disso, já é possível criar uma carteira física de Bitcoin, uma cold wallet, a partir de dispositivos genéricos!
Vamos entender como isso funciona.
Carteiras de Bitcoin com RISC-V
Apesar de muitas empresas desenvolverem “hardware wallets” para Bitcoin, você não precisa depender delas para ter a sua própria.
Com uma combinação de dispositivos genéricos, software de código aberto e chips RISC-V, qualquer pessoa em qualquer país pode montar sua própria “cold wallet.”
Isso não é incrível?!
Tudo o que você precisa fazer é comprar um dispositivo como o M5 Stick V, originalmente criado para machine learning e IA, e transformá-lo em uma carteira de Bitcoin.
Ou você pode optar pelo Maix Amigo, que tem várias funções, inclui um acelerômetro e você pode transformá-lo no que você quiser.
Além disso, você pode até comprar apenas o chip RISC-V, imprimir uma carcaça e criar sua carteira do zero!
Isso abre inúmeras possibilidades, já que qualquer país pode produzir chips RISC-V. Em um cenário de escassez de semicondutores, isso facilita muito! Sem contar em situações extremas onde países proíbem a venda, importação e uso de carteiras de bitcoin.
Por exemplo, em países como a Nicarágua ou outros que proíbem o Bitcoin para evitar que a população se proteja da inflação, as pessoas podem adquirir esse dispositivo genérico, gravar o firmware da Krux e ter uma cold wallet.
Essa é uma solução bem importante, pois ditaduras não deixam que você entre no páis com dispositivos que são reconhecidos como carteiras de Bitcoin, como uma Jade ou Trezor.
Agora, dispositivos genéricos podem passar despercebidos. Isso representa uma solução brilhante em contextos nos quais a preservação dos direitos humanos é crucial.
Se você deseja aprender como criar sua própria carteira de Bitcoin usando esses dispositivos e o chip RISC-V, a gente te ajuda no nosso workshop KRUX. Nele, explicamos como configurar esses dispositivos e como criar sua carteira do zero, desde a solda dos componentes até a transação de envio de bitcoins de forma air gapped.
Conclusão
Tudo isso nos mostra como sistemas de código aberto, como Bitcoin, Lightning, Nostr, Tor, Krux e chips RISC-V, representam uma ameaça àqueles que buscam controlar e centralizar informações e riqueza para benefício próprio. Esse é um padrão observado em países ao redor do mundo.
Sistemas open source permitem que qualquer pessoa acesse, melhore e compartilhe os benefícios dessas tecnologias com muito mais pessoas. É um mecanismo incrivelmente poderoso que tem o potencial de transformar completamente indústrias.
Espero que você tenha gostado desse conteúdo, até o próximo e opt out!
Compartilhe em suas redes sociais:
Fundadora da Area Bitcoin, um dos maiores projetos de educação de Bitcoin do mundo, publicitária, apaixonada por tecnologia e mão na massa full time. Já participou das principais conferências de Bitcoin como Adopting, Satsconf, Surfin Bitcoin e Bitcoin Conference.
Curtiu esse artigo? Considere nos pagar um cafezinho para continuarmos escrevendo novos conteúdos! ☕