Inteligência Artificial é uma ameaça ao Bitcoin?

A era da inteligência artificial (IA) chegou, trazendo consigo a incessante tentativa de antecipar o que está por vir: será que essa tecnologia revolucionará o futuro de forma benéfica ou prejudicial?

As profecias apocalípticas sobre o domínio das máquinas são abundantes, e até mesmo o Bitcoin foi envolvido nessa onda de temor em relação à IA.

A partir disso, estão surgindo alguns boatos de que a inteligência artificial pode acabar com o Bitcoin.

Mas, será que isso é realmente possível?

Neste artigo, vamos explicar o que é a inteligência artificial e como ela pode afetar o Bitcoin.

O que é Inteligência Artificial?

A Inteligência Artificial (IA) busca realizar tarefas que normalmente seriam executadas por pessoas, utilizando computação, desenvolvimento de sistemas e algoritmos. O objetivo é capacitar os computadores a reproduzir o raciocínio, o aprendizado, a resolução de problemas, a percepção e a compreensão da linguagem, como se fossem seres humanos.

Assim, esses sistemas são treinados com grandes volumes de dados para identificar padrões e tomar decisões com base no conhecimento disponível. Dessa forma, as máquinas conseguem “ver” e se comunicar interpretando o mundo ao seu redor da mesma forma que um humano faria.

A Inteligência Artificial é uma conquista que há muito tempo se esperava que fosse desenvolvida, e finalmente se tornou realidade. No entanto, surgiram teorias de que as máquinas se tornariam tão inteligentes a ponto de se voltarem contra os seres humanos. É importante ressaltar que a IA não foi criada para substituir a inteligência humana, mas sim para realizar tarefas específicas de maneira mais eficiente e automatizada.

E como fica o Bitcoin?

No contexto do Bitcoin, há preocupações de que a IA possa ser usada por outros seres humanos para atacar a moeda. No entanto, é necessário entender que a IA em si não possui motivação própria. Seu uso malicioso seria resultado de ações humanas, e não de uma tendência inerente da IA em prejudicar o Bitcoin ou qualquer outra coisa.

IA sendo usada para destruir Bitcoin

Nos últimos anos, o Bitcoin tem conquistado um espaço significativo no cenário financeiro global, despertando interesse e especulações diversas. Assim, uma questão que tem surgido recentemente é o possível papel da Inteligência Artificial na destruição do Bitcoin.

À medida que a IA continua a evoluir e a desafiar as fronteiras do conhecimento humano, especula-se que ela possa ser usada para minar a credibilidade e a segurança dessa criptomoeda descentralizada.

Mas, será que isso é verdade e possível?

IA pode comprometer a criptografia do Bitcoin?

Um dos argumentos recentes é que a Inteligência Artificial poderia comprometer a criptografia do Bitcoin ou realizar um ataque de 51%, que ocorre quando alguém ou um grupo de pessoas controla/domina mais da metade da rede e pode reverter transações.

No entanto, é importante esclarecer que a IA não possui capacidade computacional para executar um ataque de 51% no Bitcoin, por mais inteligente que seja.

Esse tipo de ataque requer um controle significativo da infraestrutura de mineração, que consiste na rede de máquinas e computadores responsáveis por processar os blocos e garantir a segurança da rede.

Portanto, para realizar tal ataque, a IA precisaria “sequestrar” as máquinas dos mineradores. No entanto, essa possibilidade é extremamente improvável, uma vez que isso exigiria não apenas a utilização da IA, mas também recursos financeiros consideráveis, ataques cibernéticos direcionados aos mineradores e até mesmo o monopólio das fontes de energia.

Além disso, a IA não seria capaz de controlar todas as fontes de energia do mundo. Esse tipo de ataque vai além da inteligência, requerendo uma enorme quantidade de recursos físicos, não apenas digitais.

IA pode quebrar a criptografia SHA-256?

Outro ponto importante é que a inteligência artificial não seria capaz de quebrar o SHA-256, o algoritmo de criptografia utilizado na rede do Bitcoin. O SHA-256 é amplamente utilizado não apenas no Bitcoin, mas em todo o mundo, incluindo sistemas bancários, sistemas de defesa militar e na aviação.

O SHA-256 é uma função hash criptográfica que é usada para criar assinaturas digitais, garantindo a autenticidade das transações e a integridade das informações registradas no blockchain, prevenindo a corrupção de dados.

Logo, esse algoritmo foi projetado para ser resistente a ataques de força bruta, nos quais alguém tenta descobrir as chaves através de tentativas rápidas e sistemáticas.

Embora a IA seja inteligente e possua habilidades em analisar dados e identificar padrões para obter respostas, ela não possui a velocidade de processamento necessária para quebrar a criptografia do Bitcoin. As habilidades computacionais da IA são diferentes e limitadas nesse sentido. Portanto, por si só, a IA não possui a capacidade de quebrar a criptografia do Bitcoin.

A verdadeira ameaça da IA

Na realidade, a IA representa mais uma ameaça para o sistema monetário tradicional do que para o Bitcoin. A inteligência artificial tem o potencial de causar uma enorme onda de deflação, enquanto o sistema financeiro apoiado pelos Bancos Centrais precisam continuamente de inflação. É aí que as implicações econômicas são imensas.

Com o uso da IA, a produtividade de indivíduos e empresas pode aumentar exponencialmente. Assim, tarefas que antes demandavam dias para serem concluídas podem ser realizadas em apenas alguns segundos, seja por meio de uma pesquisa no ChatGPT ou pela criação de uma imagem psicodélica no Midjourney.

Com o aumento da eficiência e produtividades das empresas através da tecnologia, muitas pessoas podem perder empregos e ao mesmo tempo produtos tendem a ser oferecidos a um custo mais baixo e mais competitivo. É o efeito deflacionário decorrent do avanço tecnológico, amplamente explicado pelo Jeff Booth.

Efeitos da deflação

A deflação por meio da tecnologia tem sido uma realidade há décadas, embora muitos não percebam. Um exemplo disso é o celular, que digitalizou uma série de dispositivos, como câmeras, microfones, telefones, agendas, rádios, entre outros.

Portanto, no passado, se alguém quisesse adquirir esses itens separadamente, o custo seria muito mais alto do que comprar um único celular que incorpora todas essas funcionalidades. A tecnologia possui um efeito deflacionário, reduzindo custos, aumentando a eficiência e, consequentemente, a produtividade.

A Netflix desmaterializou a Blockbuster e a Amazon desmaterializou muitas lojas físicas. Isso significa que a IA é apenas mais um passo na nossa evolução tecnológica rumo à digitalização. É provável que a IA desmaterialize, absorva, digitalize e automatize equipes inteiras de marketing, design, publicidade, pesquisa e produção de conteúdo online.

Milhares de empregos estão sendo substituídos por softwares de IA neste exato momento, em tempo real. A automação está criando uma abundância de ferramentas e, ao mesmo tempo, reduzindo o custo de tudo. O impacto é imenso, tanto positivo quanto negativo.

IA e sistema monetário tradicional

Essa força deflacionária está presente em todas as esferas e representa um contraponto ao modus operandi dos Bancos Centrais, que se esforçam para manter a inflação. Na verdade, a IA tem o potencial de desestabilizar o sistema monetário tradicional e a forma como ele opera.

Luke Gromen explicou um pouco sobre isso em um podcast, com Presto Pysh, veja abaixo:

Essa é a razão pela qual uma solução seria migrar para um sistema deflacionário que acompanhe essas forças em ação. Gradualmente, todo o sistema monetário tradicional, incluindo os Bancos Centrais, será desmaterializado por meio do Bitcoin.

O Bitcoin, inclusive, já está desempenhando esse papel muito antes do surgimento da IA. Agora, imagine o potencial que surge quando a IA e o Bitcoin se unem.

Inteligência Artificial e Bitcoin: uma união de forças explosivas

Como vimos, a IA não irá destruir o Bitcoin; na verdade, ela tem o potencial de beneificar o Bitcoin, e isso se dá de trê formas:

1. IA levanta problemas que Bitcoin soluciona

A IA trouxe consigo a possibilidade de criar qualquer coisa digitalmente, como imagens, recriações musicais e até vídeos falsos, como deepfakes envolvendo figuras públicas e políticos. Isso gerou certa confusão sobre o que é verdadeiro e falso no mundo digital, tornando necessário verificar as informações, já que não podemos confiar apenas em nossos olhos. No entanto, essa distinção está se tornando cada vez mais complexa.

É nesse contexto que o Bitcoin surge como uma solução, pois é uma rede que protege a verdade.

O Bitcoin pode auxiliar na comprovação de identidades e permitir que você prove criptograficamente que determinada informação é verdadeiramente sua, por meio de assinaturas impossíveis de serem fraudadas.

O design da rede do Bitcoin garante a imutabilidade dos dados, ou seja, uma vez que as informações são registradas na linha do tempo passada, não é possível editá-las. Isso proporciona segurança e confiança nessa rede como uma fonte de verdade. Em um mundo digital onde tudo pode ser copiado ou falsificado, utilizar esse design é essencial.

2. IA beneficiará o Bitcoin porque irá estimular protocolos open source

Protocolos de código aberto estão ganhando cada vez mais força, permitindo que qualquer pessoa verifique e crie sua própria versão. Esses protocolos, como Bitcoin, Lightning e Nostr, são de código aberto e, por si só, já são extremamente poderosos e estão desafiando o status quo. No entanto, quando integrados à IA, eles podem se tornar imbatíveis.

O Bitcoin foi projetado para proteger o valor, a Lightning Network para facilitar pagamentos instantâneos de Bitcoin em escala global e o Nostr garante a propriedade de dados e uma comunicação global independente de entidades centralizadas.

Portanto, a integração dessas três tecnologias já está em andamento.

Web5 Assistant

Um exemplo é o Web5 Assistant, desenvolvido no chatGPT-4 e treinado para auxiliar desenvolvedores na escrita de código para aplicativos de web descentralizados baseados em Bitcoin, Lightning e Nostr. Essa integração promete abrir caminho para um novo nível de desenvolvimento de aplicativos e soluções descentralizadas, impulsionando ainda mais a adoção e os benefícios dessas tecnologias.

Imagina o quão rápido será criar apps e softwares descentralizados com essa ferramenta?

L402 (Lightning HTTP 402 Protocol)

Outra invenção interessante é a integração do Lightning com aplicativos de bate-papo que utilizam IA, permitindo micropagamentos rápidos entre humanos e bots, bem como entre seres humanos e máquinas com suas próprias Lightning wallets. Um exemplo dessa integração é o protocolo L402 (Lightning HTTP 402 Protocol).

Isso só é possível porque o Bitcoin e o Lightning não fazem distinção entre uma carteira pertencente a uma pessoa e uma carteira pertencente a um robô. Toda carteira é composta por um par de chaves, pública e privada, sem a necessidade de fornecer informações pessoais.

Essa funcionalidade será crucial nas integrações de API entre aplicativos descentralizados, eliminando a dependência de serviços centralizados como Apple Store, Google Play e Microsoft para utilizar um aplicativo descentralizado. Se um software utiliza uma estrutura independente e descentralizada, não há necessidade de autorização de terceiros. Basta pagar o valor da API em satoshis para o bot e utilizar a integração conforme desejado.

Shopping digital descentralizado

Aqui está uma ideia incrível: a IA pode intermediar a comunicação entre humanos e máquinas na compra e venda de recursos digitais e softwares, independentemente de empresas ou países.

Na prática, isso significa que você pode negociar o acesso a um aplicativo com um BOT que utiliza inteligência artificial para interagir com você, em uma plataforma de mensagens descentralizada, independente do WhatsApp ou Telegram, e por meio do protocolo Nostr. Além disso, é possível pagar o bot em Bitcoin por meio da rede Lightning em questão de segundos, sem que ninguém possa impedir a realização dessa transação.

Essa é a essência do primeiro shopping digital totalmente descentralizado! É surpreendente o quão poderoso isso pode ser.

3. IA pode beneficiar o Bitcoin caso comece a solicitar pagamentos em Bitcoin

O Bitcoin é a única forma de dinheiro que um computador pode operar e gerar chaves de forma autônoma, em escala global e sem a necessidade de um banco intermediário.

Se a inteligência artificial é capaz de identificar padrões e chegar a conclusões, certamente ela irá perceber que o sistema financeiro fiduciário é caro, burocrático, ultrapassado e se baseia em um esquema Ponzi (pirâmide financeira), impulsionado por dívidas impagáveis e pela diluição do poder de compra coletivo através da impressão de dinheiro infinito.

Portanto, com os ganhos massivos de produtividade, serviços de IA podem preferir receber pagamentos em Bitcoin em vez de moedas fiduciárias sujeitas à inflação.

Imagine um mundo em que a demanda por IA cresce cada vez mais e exige pagamentos em Bitcoin. Isso impulsionaria a adoção generalizada da criptomoeda e contribuiria para o “NGU” (Number Go Up), ou seja, o aumento de valor a longo prazo do Bitcoin.

Resumindo

A inteligência artificial não tem controle sobre o Bitcoin, mas sim sobre as estruturas fiat. Ela acelerará os processos deflacionários que já estavam em andamento, impulsionados por outras tecnologias. Além disso, essa tecnologia pode acelerar a transição do modelo econômico global em direção ao Bitcoin.

Além disso, ela exigirá o desenvolvimento de mecanismos para verificar a veracidade dos dados, e isso é possível por meio da rede do Bitcoin, com suas assinaturas criptografadas e registros imutáveis. Isso também acelerará o desenvolvimento de um sistema financeiro paralelo ao sistema fiat. Esse sistema seria livre de barreiras, sem censura e imune à depreciação causada pela

Talvez ainda não tenhamos uma compreensão completa do que nos espera nesse horizonte de eventos. É possível que a conhecida “singularidade tecnológica“, caracterizada por um crescimento exponencial e mudanças civilizacionais irreversíveis, ocorra devido à união da IA com o Bitcoin e protocolos open source.

Portanto, a Inteligência Artificial não destruirá o Bitcoin, pelo contrário, ela amplificará as mudanças que essa criptomoeda já vem trazendo consigo.

Escrito por

Carol Souza

Uma das principais educadoras de Bitcoin no Brasil e fundadora da Area Bitcoin, uma das maiores escolas de Bitcoin do mundo. Ela já participou de seminários para desenvolvedores de Bitcoin e Lightning da Chaincode (NY) e é palestrante recorrente em conferências sobre Bitcoin ao redor do mundo, bem como Adopting Bitcoin, Satsconf, Bitcoin Atlantis, Surfin Bitcoin e mais.