Em outubro de 2022, o Nubank, o banco digital queridinho dos brasileiros, resolveu entrar na onda das criptomoedas e lançou seu próprio token: o Nucoin.

A ideia era distribuir esses tokens de graça pros usuários, com o objetivo de aumentar o engajamento e premiar os clientes que usam os serviços e produtos do banco, mas que também poderia ser negociado livremente por meio da plataforma do Nubank.

O lançamento oficial da criptomoeda aconteceu em 2023, quando os clientes começaram a receber seus Nucoins e participar do programa de recompensas da fintech.

Mas desde então, ficou a pergunta no ar: qual é o objetivo desses tokens? Será que é um projeto realmente descentralizado como disseram ou só mais uma jogada de marketing?

Spoiler: um ano depois, em 2024, o Nubank anunciou mudanças no Nucoin que só provaram o que a gente já sabia: o Nucoin sempre foi uma baita de uma shitcoin. 

Neste artigo, vamos te contar como toda essa história foi se desenrolando e como o Nucoin não passou de uma jogada de marketing do Nubank.

Bora lá?

O que é o Nucoin?

O Nucoin é um token criado pelo Nubank como parte de sua estratégia para entrar no mundo das criptomoedas.

Lançado no início de 2023 através de um airdrop, o Nucoin foi distribuído gratuitamente aos clientes do banco. Além disso, esses tokens também podiam ser comprados e vendidos na Nu Cripto, uma seção da plataforma do Nubank dedicada exclusivamente à negociação de criptomoedas.

Notícia do lançamento da Nucoin por parte da Nubank

Portanto, a ideia era que o token funcionasse como uma versão modernizada dos programas de pontos que todo mundo já conhece nos cartões de crédito, mas agora no formato de token.

Logo, quanto mais Nucoins os clientes acumulassem, mais descontos poderiam conseguir em produtos e serviços do próprio Nubank. Assim, o banco prometia um futuro onde a tecnologia blockchain traria vantagens reais para os usuários, tudo embalado com a promessa de inovação e benefícios práticos.

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Além disso, o Nubank anunciou que o Nucoin seria lançado na blockchain Ethereum, em parceria com a Polygon Technology, a empresa por trás da Polygon, uma sidechain do Ethereum que prometia transações mais rápidas e baratas.

Em resumo, o Nucoin seria um token ERC-20 que rodaria na blockchain Polygon.

Na época do lançamento, o Nubank soltou um comunicado onde afirmava que “a proposta era explorar um processo descentralizado de criação de produto, característico da Web3“. 

Entretanto, é importante ressaltar que Web3 nunca foi e nunca será descentralizada. Explicamos detalhadamente os motivos neste vídeo:

Parceria Nubank com a rede Polygon

Como mencionei anteriormente, para lançar o Nucoin, o Nubank formou uma parceria com a Polygon Technology, fato que foi recebido com entusiasmo por Sandeep Nailwal, cofundador da Polygon. No entanto, a própria existência de um CEO na Polygon revela um problema: ainda estamos distantes de um protocolo verdadeiramente descentralizado.

Então, onde está a descentralização nesse acordo entre duas grandes empresas?

A verdadeira descentralização se baseia em uma premissa simples: o código é de fonte aberta e os protocolos se conectam livremente, sem a necessidade de acordos ou parcerias formais.

Portanto, considere fenômenos como a eletricidade, o calor, a gravidade ou até mesmo o próprio Bitcoin – esses elementos estão disponíveis para quem quiser usar, sem a necessidade de pedir permissão. Esse é o conceito de “permissionless“, ou seja, sem necessidade de autorização ou contratos entre empresas, em contraste com o sistema fiat, que é centralizado e controlado por instituições.

Centralização da Polygon

Ao analisarmos a Polygon, a promessa de descentralização começa a desmoronar. Há vários sinais de centralização.

A Polygon adota um protocolo de Proof of Stake (PoS), no qual quem possui mais moedas tem maior poder de validação. O problema é que 65% dessas moedas estão nas mãos dos fundadores, investidores, exchanges como a Binance e outros insiders.

Assim, apenas 12% são destinadas como recompensa para quem faz staking, enquanto 23% estão reservados para o “ecossistema“, uma categoria tão ampla quanto vaga.

E o pior? A maioria desses tokens foram emitidos antes mesmo do primeiro bloco da rede ser gerado, ou seja, as moedas foram “criadas” do nada, sem custo, e distribuídas como se fossem ações de uma empresa.

Além disso, esses insiders podem usar suas moedas para participar do staking e ainda receber recompensas dos novos blocos. Essa concentração de poder e controle vai contra tudo o que um sistema verdadeiramente descentralizado deveria ser.

Em um modelo descentralizado, a governança e as decisões são distribuídas entre os participantes da rede, e não concentradas nas mãos de poucos. No caso da Polygon, o que vemos é um protocolo altamente centralizado, apesar de toda a conversa sobre “Web3 descentralizada“.

A verdade é que a Polygon não é nem segura, nem descentralizada. No fim das contas, a parceria do Nubank com Polygon é apenas mais um acordo entre duas empresas.

Nucoin foi uma grande shitcoin!

Desde o lançamento do Nucoin, levantamos várias críticas em relação a esse modelo. A questão principal era: por que criar um token em vez de manter o esquema tradicional de pontos de fidelidade?

A verdade é que a maioria dos tokens lançados por empresas, e até por times de futebol, acaba se transformando em ferramentas puramente especulativas, sem realmente entregar os benefícios prometidos.

Um exemplo são os tokens de clubes de futebol: no início, parecia uma boa ideia, mas os primeiros compradores logo despejaram os tokens no mercado, causando grandes prejuízos para os torcedores que se empolgaram. Além disso, o uso desses tokens para obter vantagens reais junto aos clubes foi extremamente limitado.

O resultado? Muita especulação, grandes perdas financeiras para quem acreditou no hype e pouquíssimos benefícios reais!

A crítica que pairava sobre o Nucoin era justamente essa: será que realmente entregaria os benefícios prometidos ou se tornaria apenas mais uma moeda digital no meio de tantas, servindo mais à especulação do que aos interesses dos clientes?

Bem, foi justamente isso que a gente viu acontecer. Cerca de 6 meses após o seu lançamento, a Nucoin teve uma ascensão meteórica, chegando a registrar uma valorização de impressionantes 2.000%, o que fez seu valor de mercado saltar para cerca de R$ 20 bilhões (US$ 4 bilhões).

Naquele momento, ela até conseguiu se posicionar entre as 20 criptomoedas com maior captalização de mercado.

Mas, como sempre acontece com as shitcoins, o entusiasmo durou pouco. Poucos dias depois, a Nucoin despencou, recuando 40% em apenas três dias.

Além disso, a Nucoin era um token que não podia ser sacado do Nubank. Portanto, se não há possibilidade de saque, esses tokens funcionam apenas como um programa de pontos de fidelidade disfarçado e base de pura especulação.

E foi justamente isso que veio à tona em 2024.

A morte anunciada do Nucoin…

Em setembro de 2024, o Nubank anunciou a suspensão da negociação do seu token, Nucoin, citando a necessidade de proteger os usuários da volatilidade do mercado.

Suspensão das negociações do Nucoin

Agora, o Nubank transformou o Nucoin em um simples sistema de recompensas, com o encerramento das negociações previsto para dezembro deste ano.

Pois é, como já suspeitávamos, o Nucoin foi usado como pretexto para o banco criar uma criptomoeda e surfar no movimento de pump and dump da shitcoin.

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Além disso, se o Nubank pode encerrar o Nucoin a qualquer momento, isso confirma que o token nunca foi descentralizado.

Após o anúncio da mudança no Nucoin, algumas páginas relacionadas ao token foram retiradas do ar, como o explorador de blocos do Nucoin, lançado em novembro de 2023:

Página do Block Exporer do Nucoin indexado no Google

Quando tentamos clicar, aparece essa página de erro:

Considerações finais

Diante de tudo isso, fica evidente que o Nucoin foi uma estratégia de marketing disfarçada de inovação tecnológica por parte do Nubank.

Muitas empresas, bancos e instituições de pagamento estão adotando uma abordagem semelhante: criam suas próprias “criptomoedas”, que na prática são equivalentes digitais de imprimir dinheiro. E, claro, lucram com as taxas cobradas sobre as transações que os clientes realizam ao comprar e vender esses tokens.

Portanto, para não cair em armadilhas e perder dinheiro, você tem que se educar. Entender verdadeiramente o que significa descentralização é fundamental para não ser enganado por bancos, bancos digitais e corretoras de investimentos fiat, que tentam a todo momento te vender gato por lebre.

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Kaká Furlan

Fundadora da Area Bitcoin, um dos maiores projetos de educação de Bitcoin do mundo, publicitária, apaixonada por tecnologia e mão na massa full time. Já participou das principais conferências de Bitcoin como Adopting, Satsconf, Surfin Bitcoin e Bitcoin Conference.

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