Um maximalista do Bitcoin é alguém que acredita firmemente que o Bitcoin é a única criptomoeda que vale a pena possuir. Essas pessoas enxergam o Bitcoin não apenas como uma moeda digital, mas também como uma tecnologia revolucionária, uma excelente forma de armazenar valor e uma alternativa ao falido sistema fiat.

Alguns maximalistas vão além e desconsideram totalmente o valor ou o potencial das altcoins, enxergando-as como distrações desnecessárias ou até mesmo prejudiciais ao progresso do Bitcoin. Por essa postura extrema, muitos são rotulados como tóxicos.

Mas, por que isso acontece?

Neste artigo, você entenderá a origem do maximalismo e por que algumas pessoas se consideram maximalistas do Bitcoin.

O que é o maximalismo e como ele surgiu?

O termo “maximalista” é usado para se referir aos adeptos do Bitcoin que não possuem, não apoiam e até mesmo desmascaram fraudes e projetos de criptomoedas. Eles compartilham princípios que sustentam o Bitcoin como o único projeto verdadeiramente descentralizado, considerando que outras criptomoedas têm probabilidade de se desvalorizar em relação a ele.

Isso pode parecer estranho e fechado demais, mas quando você compreende a importância da descentralização orgânica do Bitcoin como um evento único, a descoberta da escassez monetária absoluta, a imutabilidade digital e a separação do dinheiro do controle estatal, qualquer outro ativo fiat ou criptomoeda parece insignificante em comparação.

No entanto, poucas pessoas realmente compreendem o significado disso, e a maioria prefere atacar os maximalistas em vez de tentar entender seus pontos de vista. Isso resulta na presunção ingênua de que mais complexidade é melhor para as criptomoedas, o que, na verdade, acarreta mais centralização e vulnerabilidades.

Esses são os maiores riscos associados às criptomoedas.

Bitcoiners vs. Multicoiners

O termo “maximalismo” já era utilizado nos fóruns de debates desde os primórdios do Bitcoin, mas se popularizou em 2014 quando Vitalik Buterin, o criador do Ethereum, utilizou essa expressão em um artigo para criticar as premissas dos maximalistas.

Artigo sobre o Maximalismo do Bitcoin por Vitalik Buterin

Este artigo marcou a consolidação do termo “maximalista” e intensificou o tribalismo entre bitcoiners e multicoiners. Entretanto, aí vem um comportamento muito interessante. Muitos Bitcoiners veem o uso de insultos como uma medalha de honra ou um símbolo de contracultura para neutralizar qualquer tipo de ataque de narrativa, e com o termo maximalista não foi diferente.

Vários bitcoiners assumem o maximalismo com orgulho, interpretando-o da seguinte forma:

  • “se ser maximalista significa que eu não apoio fraudes, então eu sou maximalista”;
  • “ se ser maximalista é ser contra a cultura degenerada de entrar em pump n’ dump, em golpe coletivo para tirar dinheiro dos newbies, então eu sou maximalista”;
  • ”Se altcoins criam mentiras e atacam o bitcoin para deslocar liquidez e atenção, então eu sou maximalista”.

E foi assim que o termo maximalista passou de insulto para um símbolo de honestidade intelectual.

Embora muitos bitcoiners não abracem esse rótulo, considerando-o pejorativo, ele se tornou uma maneira concisa de resumir as diferentes visões de mercado e o amadurecimento dos usuários ao longo do tempo.

Ataques ao Bitcoin

Conforme as criptomoedas ganharam visibilidade e capitalização de mercado, começaram a surgir ataques ao Bitcoin, afirmando que é ultrapassado, lento e consome muita energia. No entanto, tais argumentos são tendenciosos, visando promover outras criptomoedas em detrimento do bitcoin, mesmo que elas não possuam metade das propriedades do mesmo.

Maximalismo Tóxico

Com o aumento desses ataques, os bitcoiners também se tornaram mais enfáticos e, às vezes, rudes em suas respostas. Dessa dinâmica, surgiu a derivação conhecida como “Maximalismo tóxico“, quando alguns bitcoiners passam a expor de forma intensa as fraudes, incoerências e mentiras das outras criptomoedas. Isso, por sua vez, levou os altcoiners a atacarem os bitcoiners, criando o movimento “antima” (anti-maximalistas).

Até mesmo jornalistas, incluindo um do New York Times, escreveram para “não dar ouvidos aos maximalistas, argumentando que o bitcoin não pode ser separado das outras criptomoedas”.

Artigo New York Times, por Jemima Kelly

Ela não poderia estar mais errada.

Diferenças do Bitcoin, quando comparados com outras criptos

O Bitcoin é totalmente diferente das outras criptomoedas pois:

  • não possui um criador conhecido;
  • não tem pré-mineração;
  • não possui CEO;
  • não realiza constantes hard forks;
  • não tem uma fundação centralizada que concentra poder de decisão;
  • não depende de datacenters;
  • e não teve venture capital injetando dinheiro para insiders como uma startup.

O Bitcoin não tem nada em comum com as outras criptomoedas, pois ele é um protocolo, enquanto elas são empresas.

Na tentativa de destacar essas diferenças, os maximalistas começaram a criar uma cultura própria de memes, incluindo olhos de laser nas fotos de perfil e compartilhando prints com provas incontestáveis das fraudes em criptomoedas e moedas fiat.

Até a cultura maximalista é copiada!

Assim como o Bitcoin é open source e muitos projetos copiaram o código para criar suas próprias moedas, a cultura dos bitcoiners também passou a ser copiada de forma descarada.

Surgiram maximalistas de outros projetos copiando termos, como “ultra sound money“, roubando a ideia de “sound money” do Bitcoin, que é conhecido como ouro digital; o “triple halving“, falsamente afirmando que o merge do Ethereum teria um efeito equivalente a três halvings do Bitcoin (o que não aconteceu).

Tudo isso são golpes de afinidade, uma mistura de termos para falsificar fundamentos e enganar aqueles que estão chegando agora.

Quando você expõe a fraude, quem se beneficiava dela fica irritado, pois acaba com o golpe de afinidade que estava sendo aplicado ou não quer acreditar que caiu no papo de uma “shitcoin” promissora.

Vitalik exaltando o Maximalismo?

Oito anos depois do primeiro artigo, em 2022, Vitalik fez outro artigo, não mais atacando, mas exaltando o maximalismo.

Novo artigo de Vitalik exaltando o maximalismo

Desta vez, dando o braço a torcer em defesa do maximalismo do Bitcoin como uma ferramenta cultural defensiva. Além disso, ele criticou a cultura cripto que a industria do blockchain trouxe, a qual se concentra em buscar lucros rápidos a qualquer custo, seja por meio de pré-mineração ou pela distribuição desses tokens para desenvolvedores e insiders. Em contrapartida, o Bitcoin seguiu uma abordagem oposta, concentrando-se em estabelecer princípios sólidos.

No mesmo artigo, ele compartilhou uma imagem (abaixo) que demonstra como o Bitcoin não teve nenhum tipo de alocação para insiders, enquanto todos os outros projetos tiveram, o que fragiliza protocolos e faz com eles sejam centralizados.

Gráfico que mostra que o Bitcoin não teve nenhum tipo de alocação para insiders

Vitalik considerou os valores dos bitcoiners – a soberania, a privacidade e a descentralização – como uma defesa contra ataques de narrativa. Além disso, ele complementou que é melhor ser corajoso e lutar pelos seus valores, mesmo que isso possa parecer agressivo (ou tóxico) aos olhos de alguns, do que tentar agradar a todos e não conseguir realizar nada concreto.

O maximalismo é um culto?

É devido ao posicionamento firme e sem abrir exceções para outras criptomoedas que começaram a chamar o maximalismo de um culto, uma adoração à divindade do Bitcoin. Isso se tornou uma forma de bullying, com as pessoas alegando: “Se eles não gostam da minha moeda, eles que são fanáticos, não sou eu que estou me expondo a liquidez para VC e fundadores”.

E essa dinâmica é sempre a mesma, até mesmo nas pirâmides. Mesmo após as pessoas perceberem que foram enganadas, elas ainda mantêm esperanças de que seja real, de que terão seu dinheiro de volta e de que o projeto cumprirá o que prometeu.

O mesmo acontece com várias criptomoedas “promissoras”. As pessoas não querem admitir que foram enganadas e, em vez de investigar onde investiram seu dinheiro, terceirizam a culpa e apontam o dedo para os Bitcoiners, que não têm nada a ver com isso e, inclusive, alertaram sobre o problema.

Muitos acabam defendendo golpes e atacam o mensageiro, rotulando-o de extremista, tóxico ou até mesmo de burro por não estar “diversificando”.

Nesse ponto, a maioria das pessoas comete um erro e mistura tudo. As estratégias fiat não funcionam com criptomoedas, e diversificar com criptos aumenta o risco da carteira, sendo totalmente o oposto do princípio de diversificação que normalmente serviria para proteger o patrimônio.

No fim das contas, toda generalização é equivocada. Rotular todos os maximalistas com base no comentário rude de uma pessoa é injusto e antiético. Isso impede a oportunidade de entender melhor e refletir sobre qual tese de mercado você abraçou e se não foi enganado pelo efeito manada.

A maioria dos maximalistas que conheço deseja ajudar outras pessoas a não perder dinheiro com golpes e a perceber de forma mais fácil o que é um sinal válido e o que é apenas ruído no mercado.

Uma imagem (meme) sobre como Maximalistas protegem novatos ao entrar no Bitcoin

Bitcoin não é o maximalismo

Para além disso, não existe restrição ideológica para ser um bitcoiner, e não há uma norma de conduta específica; os bitcoiners são totalmente diferentes uns dos outros.

Na verdade, o maximalismo é uma mistura de vários pontos de vista, e generalizar com base na fala ou no tweet de uma pessoa é forçar a barra para criar estereótipos.

Diferentes tipos de pessoas dizendo SIM para o Bitcoin

Infelizmente, a maioria das pessoas só se torna maximalista depois de aprender da maneira mais difícil: perdendo dinheiro com criptomoedas.

A maioria dos maximalistas não foi cabeça fechada como muitos afirmam. Foram “shitcoiners” em ciclos passados que aprenderam a lição. É por isso que, se você não é maximalista atualmente, pode ser que no futuro você se torne um, quando finalmente entender de fato tudo isso.

Mas, o maximalismo é algo bom?

O maximalismo não é bom nem ruim; ele nasceu como uma resposta aos ataques ao Bitcoin. Não é nada extremista no sentido pejorativo, como alguns maximalistas de criptomoedas inferiores tentam fazer parecer.

Na verdade, é uma mentalidade que se desenvolve após acompanhar o mercado por muito tempo e entender que tudo o que não é Bitcoin é centralizado e equivale a moeda fiduciária.

Se algo se diz descentralizado e não é, então é uma fraude.

Quem critica os maximalistas está desfocando dos ativos para reclamar das pessoas e criar uma divisão de “nós versus eles”, como se defender as fraudes fosse estar do lado certo da história.

É por isso que o maximalismo está se tornando mais comum.

As diferenças estão se tornando cada vez mais claras, e um número crescente de altcoiners se tornou “bitcoin only” de 2021 até agora. Isso é, na verdade, o que separa a infância da adolescência nesse mercado.

Por mais que tentem denegrir a imagem dos bitcoiners, sejam maximalistas ou não, eles estiveram corretos até agora, porque se baseiam em princípios e não em ilusões.

Além disso, é provável que o maximalismo se torne o padrão no futuro, assim como hoje todo mundo usa a internet.

Abraços e opt out.

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Escrito por
Imagem do Autor
Carol Souza

Uma das principais educadoras de Bitcoin no Brasil e fundadora da Area Bitcoin, uma das maiores escolas de Bitcoin do mundo. Ela já participou de seminários para desenvolvedores de Bitcoin e Lightning da Chaincode (NY) e é palestrante recorrente em conferências sobre Bitcoin ao redor do mundo, bem como Adopting Bitcoin, Satsconf, Bitcoin Atlantis, Surfin Bitcoin e mais.

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